Eduardo Ferreira lança Coleção “Aláfia” na abertura do Muafro, no Recife Antigo

O estilista Eduardo Ferreira lança sua mais nova coleção, a Aláfia, às 19h da quinta-feira (19/5). Será  na inauguração do novo espaço do Museu  de Artes Afro-Brasil Rolando Touro, que fica no Recife Antigo. Aos 54 anos, o pernambucano tem muito o que contar. Na década de 1990 ele agitou o mundo fashion nacional. E virou notícia até no exterior, marcando presença em editoriais de moda de veículos como o Le Monde (França) e o New York Times (EUA). Pernambuco vivia, então, uma grande efervescência cultural com a explosão do Manguebeat, movimento que viria a inspirar a Coleção Mangue Fashion, lançada no Recife, com presença de formadores de opinião de todo o país. A originalidade na escolha da temática e a criatividade  do então jovem estilista, lhe conferiram depois reconhecimentos em importantes eventos de moda como o Phytoervas  Fashion, a Semana de Moda de São Paulo ( hoje Casa de Criadores), e Iguatemi Collection.

Não faltaram títulos como “melhor estilista revelação” ou “melhor coleção”. Não era para menos. O pernambucano chegava com toda força, com proposta inovadora. Ao invés de seguir as tendências europeias – como é comum até hoje – ele criava totalmente mergulhado nas nossas raízes.  Posteriormente lançaria  coleções com visões ainda mais amplas. Uma inspirada na influência moura nas tradições populares do Brasil  (com base nos estudos de Câmara Cascudo) e uma outra que  mergulhava nos movimentos culturais brasileiros e na questão da nossa identidade: Semana de Arte Moderna de 1922, Regionalismo, Tropicalismo, Movimento Armorial, Manguebeat. E aí, foram crescendo as demandas e a necessidade de se aprofundar nas possibilidades que a nossa cultura oferecia. Filho de mãe artesã e pai tecelão, Eduardo sempre viveu de olho no artesanato pernambucano.

E partiu para um período de busca e reforço da identidade. “Enquanto meus amigos iam para a Europa, eu fazia o roteiro inverso”. Foi, então, em procura da  renda de renascença (de Poção, Pesqueira, Jataúba); do bordado (de Passira); dos artesanato em couro (Serrita); da xilogravura (Bezerros); do frivolitê (Orobó), todos em Pernambuco. Também foi atrás de possibilidades que lhe forneciam a palha de buriti (no Rio Grande do Norte). “Morei em quase todos esses lugares, trazendo esse universo para a moda contemporânea”, lembra. No caso das rendas de renascença, elas antes praticamente se limitavam às roupas de cama e mesa ou a elementos decorativos de roupas femininas, como palas para vestidos ou camisolas.  As roupas de renascença trabalhadas por Eduardo  com fitas e lantejoulas viraram objetos de colecionador. São atemporais. Eduardo transformou-se em consultor do Sebrae por três anos, trabalhando em processos de desenvolvimento  desses materiais, com pegada mais forte na renda, que tanta identidade trouxe ao conjunto da obra.

“Fizemos um esforço para unir o setor de confecção com o artesanato”.  Circulou por eventos de moda em Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro. Atuou como design no desenvolvimento de padronagens para indústria têxtil e produtos, porém sem abrir mão de sua vida de figurinista, chegando  a fazer roupas para artistas como Carlinhos Brown, Marisa Monte, Elba Ramalho, Tom Zé, Timbalada. Depois, partiu para uma pesquisa imersiva no Cerrado. De  repente, um baque.  Sentiu necessidade de se isolar, de repensar a vida. “Foi preciso me recolher, para ressignificar minha carreira. Ampliar meu trabalho para além do comércio e da indústria”, conta. “Precisava fortalecer os meus elos com a ancestralidade e entender qual era minha missão”. Foi um mergulho tão profundo, mas tão profundo, que mexeu com sua espiritualidade. E que o levou inclusive para uma outra opção religiosa: o candomblé.  A convivência com o terreiro lhe traria novas informações e mais inspiração para o seu trabalho.

Em 2021, Eduardo lançou a Coleção Yabás,  com inspiração na roupa, no feminino sagrado,  no nagô em Pernambuco.  Foi em um evento virtual. A base da pesquisa foi o Ylê Obá Aganju Okolayá, o Terreiro de Mãe Amara, que inclusive o acolheu nos momentos de maiores incertezas e na busca de novos caminhos. A Coleção Aláfia será lançada sem desfile, mas estará nos cabides e prateleiras do Muafro.”Aláfia é uma expressão yorubá que significa caminhos abertos”, lembra Eduardo Ferreira. Aláfia reflete, portanto, o momento mágico que ele está vivendo,  e a trilha por novas estradas para o seu trabalho.  E´uma coleção cápsula, que inaugura o selo fashion do Muafro. O lado de produção em série fica com as camisetas (com ilustrações das máscaras de Antônio Bahia). Já saias, blusas, vestidos são exclusivos, peças únicas.  Dessa vez ele foge dos estilos anteriores – normalmente muito elaborados – e faz opção por roupas leves, urbanas, mais práticas usáveis a qualquer hora do dia. “São looks casuais, atemporais, com matérias primas naturais”, diz.

E dá prioridade ao linho, ao algodão, ao viscolinho e cores naturais. Os looks contam com a participação de Jailson Marcos (calçados, bolsas) e Biam Dhifa (acessórios). A Coleção Alápia inaugura o selo Muafro, um dos braços de ação do novo espaço, que será um mix de galeria, cafeteria e loja de roupas “que dialogam com o Museu”.  Veja o vídeo de lançamento da Coleção Yabás, de Eduardo Ferreira, em  2021. E nos links abaixo você pode conferir outras informações sobre moda sustentável, étnico e afro.

Leia também
Moda pernambucana no Marco Zero
Esgotado, livro “Estrelas de couro, a estética do cangaço” é relançado
Lampião e o cangaço fashion e social
Bordados de Passira no Cais do Sertão
Upcycling: Moda e Sustentabilidade
Aproveitamento de sobra de jeans rende prêmio: Moda do futuro
Que tal escolher presentes sustentáveis? 
Moda Sustentável na Fenearte
O Dia das Mães é vermelho?
Refazenda: Água inspira nova coleção
Novidade harmoniosa na Praça de Casa Forte
Refazenda lança Coleção Cor de Agrião em feira de produtos orgânicos
Tereza e Oluyiá, mãe e filha em expô
Aproveitamento de sobras de jeans rende prêmio: Moda do Futuro
Onda verde: Terrários viram colares
Os colares exclusivos de Tereza
Aprenda a estampar suas roupas
A “família” de Francisca está pronta para o reveillon
Os trajes juninos da família de Francisca
As roupinhas e máscaras coloridas da família de Francisca
Uana Mahim: Sou preta, negra e fera
Moda Preto Soul: Viva a negritude!
Dia da Consciência Negra: Dicas de leitura
De Yaá a Penélope africana
Nação Xambá, 88 anos de residência 
Mês da Consciência Negra:  desfile, palestras, igualdade racial
Ervas sagradas ganham sementeiras
Bahia tem ritual de paz e respeito à liberdade religiosa
Baobás de Pernambuco são sacralizados na Bahia
Trio expert em baobá, a árvore da vida
A árvore do esquecimento
Cortejo religioso em Salvador
Pipoca é alimento sagrado?
Ojás contra o racismo religioso
Contra as práticas de branqueamento
Navio alemão acusado de racismo
Navio Negreiro no Barreto Júnior
A simbiose entre a Igreja Católica e os terreiros
Pai Ivo de Xambá vira Doutor Honoris Causa
A sabedoria ancestral da Griô Vó Cici
A herança afro na música brasileira
Sítio Trindade tem gastronomia afro
Festa para São João e Xangô
Católica bota Xangô na ordem do dia
Qual o mal que lhe fez Yemanjá?
Michele Collins entre a mobilização dos terreiros e a pressão dos terreiros
Preconceito religioso tem reparação
Inaldete Pinheiro ganha homenagem
Uana Mahim: Sou preta, negra e fera
Resgate histórico: Primeiro deputado negro do país era pernambucano

Serviço
Evento: Reabertura do Museu de Artes Afro-Brasil Rolando Toro (passou dois anos fechado, devido à crise sanitária)
Atração:  No Muafro, o novo espaço com conjunto de Galeria, Café e Loja de Moda.
Dia e horário da inauguração: Quinta-feira, 19 de maio, às 19h
Onde funciona: Rua Mariz de Barros, 328, Recife Antigo
Quanto: Acesso gratuito
Atrações: Lançamento da coleção  Aláfia, by Eduardo Ferreira, com participação de Jailson Marcos e Biam Dhifa. E exposição “Um homem com calos nas mãos não precisa de identidade”, do escultor Otávio Bahia. Som de Mestre Leandro e os Batuqueiros

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins e Divulgação /

Continue lendo

One comment

  1. Excelente Letícia Lins o seu texto sobre a nova coleção do estilista Eduardo Ferreira! Lembro quando ele surgiu ainda jovem como uma grande promessa da moda e fez jus a expectativa. Muito sucesso pra ele nesse retorno!! 👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.