Edificações na Praça de Casa Forte – colégio e igreja – viram imóveis especiais de preservação

Viva. Boa notícia para a memória da cidade. Depois da mobilização dos moradores – diante da notícia de que o Colégio Sagrada Família  seria demolido por uma construtora – finalmente temos o que comemorar.  É que a Igreja Matriz de Casa Forte e o Colégio da Sagrada Família são, oficialmente, Imóveis Especiais de Preservação (IEP). A classificação foi publicada no Diário Oficial do Recife desta quinta-feira (27), através do decreto 36.035, assinado pelo prefeito João Campos (PSB). Com isso, desde a aprovação da lei 16.284/1997, o município tem um total de 263 edificações dentro da categoria, que garante a preservação do patrimônio histórico e da memória da cidade. Uma pena que os casarões que ficavam na Praça de Casa Forte também não tenham virado há tempo IEPs. Sobrou pouco da paisagem do passado, mas a preservação dos dois imóveis em questão já serve de consolo.

De acordo com a legislação, cabe ao proprietário da edificação manter as características originais do imóvel. Fica vedada a demolição, descaracterização dos elementos originais e alteração da volumetria e da feição da edificação original.  No entanto, alguns desses 263  IEPs do Recife estejam caindo aos pedaços. Mas vamos ao que interessa.  A classificação das duas edificações em IEP foi aprovada em reunião do Conselho de Desenvolvimento Urbano da Cidade em 27 de novembro de 2020. O objetivo é preservar exemplares de arquitetura significativa para o patrimônio histórico, artístico e cultural da cidade, de forma a manter viva a memória da identidade do Recife.   No caso da igreja e do colégio, trata-se de um dos poucos casos no Recife em que a configuração de casa grande, templo religioso e campina de um antigo engenho conseguiu ser mantida. É que a Igreja e o Colégio da Sagrada Família são remanescentes do antigo Engenho Casa Forte, onde foram travadas batalhas contra os holandeses.  O conjunto foi construído em meados do século XVI, e remetem ao período inicial da ocupação do bairro.

Além dos prédios que viram IEPs, Casa Forte tem uma praça tombada, e que tem a assinatura de Burle Marx

Em 1645, o Engenho, que teve diversos nomes anteriormente, passou a ser conhecido como Casa Forte, após ter presenciado, no dia 17 de agosto, uma das batalhas da guerra de reconquista de Pernambuco, então sob ocupação holandesa. O local onde hoje está situado o Colégio corresponde à antiga Casa Grande do Engenho. Já a Igreja Matriz resultou de uma reforma da Capela de Nossa Senhora das Necessidades do Engenho Casa Forte, concluída em 1672. Ficavam diante de uma grande esplanada, conhecida como Campina da Casa Forte. O engenho foi extinto e loteado a partir do século 18. No começo do século 19, o Padre Roma –  um dos líderes da Revolução Pernambucana de 1817 – adquiriu a casa grande do engenho e reformou-a, levantando uma vivenda que posteriormente caiu no abandono. Foi comprada, em 1907, pelas irmãs francesas da Congregação da Sagrada Família, que instalaram ali a instituição de ensino. Em 1909, a capela do colégio foi reconstruída e virou, em 1911, o que hoje é a Igreja Matriz da Paróquia de Casa Forte.

A campina que fica em frente ao Colégio e à Igreja foi remodelada na década de 1930, recebendo projeto do paisagista Roberto Burle Marx, transformando-se na atual Praça de Casa Forte, reconhecida como patrimônio do Recife, nos níveis municipal, estadual e federal. As edificações do Colégio da Sagrada Família e da Igreja Matriz de Casa Forte apresentam-se, atualmente e em termos de suas fachadas principais – voltadas para a Praça de Casa Forte –, com as mesmas feições que tinham desde suas últimas reformas/acréscimos, na primeira metade do século 20. Sendo, portanto, de uma importante permanência em relação a esse conjunto do entorno da Praça, que passou por modificações de grande porte, sobretudo no que diz respeito à construção de novos imóveis com escala verticalizada. Segundo a lei, “as intervenções de qualquer natureza nos IEPs ficam sujeitas à consulta prévia e à análise especial por parte dos órgãos competentes do Município”. De 2013 até hoje já foram 106 imóveis transformados em IEPs, a exemplo das sedes do Sport, América, do Jockey Clube do Recife e do Colégio Marista, entre outros

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

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