Confusão em Casa Forte, no Largo do Holandês: “Cadê a praça ?”

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Depois da confusão diante da nova localização da escultura Carne de minha perna (o caranguejo gigante da rua da Aurora), nova polêmica envolvendo a Prefeitura do Recife. Dessa vez  não no Centro, mas na Zona Norte. Mais precisamente no bairro de Casa Forte, onde uma área oficialmente destinada à construção de praça, acaba de ser isolada para construção de uma capela. Alguns detalhes: Um, tapumes impedem direito de ir e vir de morador, cuja garagem foi fechada pela obra, obstruindo a passagem do seu automóvel. Dois, segundo os residentes, a edificação ficará a apenas um metro do leito do Riacho Parnamirim, distância bem menor do que os 30 metros estabelecidos em lei para margem de rios e riachos. Três, a comunidade em volta do Largo do Holandês alega que não foi consultada sobre a obra que, desde o início da semana, virou assunto de discussão nas redes sociais, em grupos de moradores de Casa Forte, Poço da Panela, Parnamirim, Alto José do Pinho.

O pequeno terreno onde será erguida uma capela (com investimentos públicos superiores a meio milhão de reais) fica no chamado Largo do Holandês, na Rua Samuel Lins, entre os bairros de Casa Forte e Parnamirim. Era uma área abandonada, cheia de mato, até que em 2018 moradores de Casa Forte se juntaram e resolveram revitalizar o Largo. Plantaram árvores, pintaram as calçadas e até o então Prefeito, Geraldo Júlio (PSB), esteve no local, quando prometeu que faria uma pracinha em terreno que, no passado, era ocupado por fruteiras, como mangueiras, caramboleiras e jambeiros. O terreno fica à margem do Canal do Parnamirim. A iniciativa dos moradores inclusive ganhou apoio da Secretaria de Inovação Urbana, que colocou lá até banquinhos e um pedestal para fixação de placa contando a história do Largo.  Também houve engajamento do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco e  da Consultoria TGI (Leia-se Francisco Cunha), que se juntaram para a confecção da placa resgatando a história do Largo do Holandês, referência a um oficial flamengo que morreu na Batalha de Casa Forte (em 1645), e que teria virado uma assombração, conforme relato de Gilberto Freyre.

 

Agora , a situação é diferente. O que seria uma praça foi cercado por tapumes para edificação de capela. Com a colocação dos tapumes, Lucas Sampaio ficou sem condição de usar a garagem do imóvel onde a família reside há mais de 30 anos.  Ele já esteve na Prefeitura para reverter a situação, mas continua tudo do mesmo jeito. Está impedido de entrar na própria garagem. Os tapumes encostam na sua casa. Os moradores da rua reclamam do que acham uma “absurda arbitrariedade” (foto vertical, abaixo).

Eles dizem que o ex-riacho  – em cujas águas cristalinas brincavam quando eram crianças – virou esgoto, por conta da verticalização do bairro e da falta de saneamento. “O poder público devia se preocupar mais com obras que garantissem  um ambiente mais sadio”, reclama Cristiana Ramos, há 60 anos moradora da Samuel Lins. De acordo com os residentes, eles mesmos já se reuniram, e fizeram três limpezas no ex-riacho, hoje chamado de “canal”.  A última, no entanto, foi feita pela Prefeitura. “O que nos foi prometido e o que entendemos é que ali devia ser uma pracinha, uma área de convivência”, afirma Cristiana. “Infelizmente, o riacho hoje recebe dejetos desses prédios todos da vizinhança, e era com isso que a Prefeitura deveria se preocupar”. Lembra que quando era criança, os meninos da rua chegavam a tomar banho no riacho, o que é impossível de fazer hoje. No momento, rola um abaixo assinado em defesa da praça, para ser remetido ao Ministério Público de Pernambuco. Os moradores de Casa Forte dizem não ser contra a construção do templo, mas  fazem ressalvas.

Eles alegam que o local não é o mais adequado. De acordo com a Prefeitura, no entanto, a capela foi uma promessa aos habitantes do Residencial Lemos Torres, já que uma igrejinha foi destruída para construção dos blocos do condomínio popular. “Mas já escutamos os moradores de lá e eles querem a capela lá e não cá”, diz Cristiana. Ela informa que apenas seis moradores do residencial são a favor da construção da capela no local escolhido pela Prefeitura.  Pela placa da obra lá colocada pela Prefeitura, a capela custará R$ 503.127,97. Tendo como agentes participantes a própria PCR e a Caixa Econômica Federal. Pela placa, o início da obra seria 30/11/2021, com término previsto em 30/04/2022.

Nos tapumes, já apareceram as primeiras pichações:  “Interesse de quem”?,  “Cadê a praça””, “Três igrejas em menos de um quilômetro?” . A referência é sobre a Paróquia do Bom Jesus do Arraial (que fica na esquina da Estrada do Arraial com Harmonia, extensão da Samuel Lins; e também à Paróquia Sagrado Coração de Jesus,  e que é vizinha a um outro templo católico, no caso, a Capela do Colégio Sagrada Família, ambos localizados na Praça de Casa Forte). Os moradores do bairro estão programando uma reunião para o próximo sábado, quando o assunto será discutido.

Veja o vídeo sobre o início das obras, feito pelos próprios moradores do Largo do Holandês:

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos e vídeo: Letícia Lins/ #OxeRecife e Moradores da Rua Samuel Lins

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