A denúncia e o apelo de Kleber Mendonça: “Cinema São Luiz completou 70 anos de portas fechadas”

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É uma pena o que está acontecendo com um dos equipamentos culturais mais icônicos não só do Bairro da Boa Vista, como do Recife:  o nosso São Luiz. O Cinema, de tantas histórias e memórias afetivas da cidade e que já esteve até na iminência de se transformar em um templo evangélico, está fechado.  Por volta da década passada, foi salvo pela sua força, pelo seu significado, pela pressão popular, pela sensibilidade de gestões públicas de então. Durante a pandemia, o Cine São Luiz passou um tempão fechado, porém desde a volta à normalidade que o seu funcionamento tem sido precário. E parece que o atual governo botou uma pá de cal em cima. Qual será o futuro do cinema, depois do desmonte de sua equipe, “tão coesa e dedicada”, como dizem os amantes da Sétima Arte? O que diz o Secretário de Cultura de Pernambuco, Silvério Pessoa, diante desse desmantelo?

Nesse final de semana, as redes sociais foram tomadas pela carta aberta dirigida à Governadora Raquel Lyra (PSDB) pelo cineasta Kleber Mendonça.  Diretor de “Aquarius”, “O Som ao Redor” e “Bacurau”, com trajetória  aplaudida dentro e fora do Brasil, ele teme pelo destino do Cinema, que foi inaugurado na década de 1950 e que virou referência nacional. Produtora cultural, Andréa Mota também lamenta a situação. “Trabalhei ao lado da equipe durante  os cinco anos que realizamos o projeto CineCabeça que atendeu mais de 150 mil estudantes no mesmo período. Sem eles e nossa equipe, esse marco não seria possível”. Ela lembra  que um dos dispensados, o projecionista João Bosco, é “guardião do cinema há 38 anos” e “foi o primeiro a ser demitido este mês”.

Nessa foto, a redatora aqui do #OxeRecife fala em caminhada sobre as memórias afetivas do Cinema São Luiz.

A carta aberta do cineasta Kleber Mendonça é enviada à Governadora, ao Secretário de Cultura, à Presidenta da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco – Fundarpe (Renata Duarte Borba), aos amigos e colegas do audiovisual e também aos Conselhos do Audiovisual e da Cultura, que até o momento ainda não se pronunciaram. Ele pergunta “quando o São Luiz reabre”, informa que 16 pessoas do Cinema foram demitidas, dos quais quatro são da equipe principal. Em janeiro, já havia sido cortado o programador Luiz Joaquim, “um formador de público”. Para Kleber Mendonça, “a equipe que está sendo desmontada é milagrosa”. Mas reclama que desde que o São Luiz passou a ser uma sala pública, via governo de Pernambuco, falta um pensamento consistente de sustentação desse cinema como projeto de cultura e espaço de investimento, algo que precisa ser resolvido o quanto antes. Isso significa que as deficiências e obstáculos do dia a dia no cinema caem nos ombros dessa equipe que ama o São Luiz e que, de fato, opera milagres”. E ratifica:

“Às vezes, eu acho que o São Luiz e o trabalho ali feito impressionam tanto que muitos parecem achar que o cinema é mágico, que vive de oxigênio e anda sozinho. O São Luiz é como uma pessoa idosa, que exige cuidados especiais, que precisa de dinheiro para sobreviver, que precisa de respeito e de muito amor. A equipe é toda formada por excelentes cuidadores que amam aquele lugar. Demitir a equipe é como uma punição para uma boa ação.

Na carta, Kleber Mendonça avalia o quanto imagina ser difícil o desafio de um novo governo. Mas reclama do “pensamento corrente” segundo o qual “a cultura fica em segundo plano”, porém lembra que em Pernambuco “a cultura é um tesouro de valor inestimável para o Estado”. No final, ele diz que a carta aberta tem justamente o objetivo de saber qual será o destino do São Luiz. “Quais os planos? Qual a data de abertura? Quais as ideias da cultura para Pernambuco nessa nova gestão? Como se dará o diálogo com os que fazem o audiovisual em Pernambuco, reconhecido dentro do próprio São Luiz, no Brasil e internacionalmente? No último mês de setembro, o São Luiz completou 70 anos de portas fechadas”

Copiando a colega Terezinha Nunes, e “a pergunta que não quer calar”: Quando o São Luiz ficará assim, cheio,de novo?

O #OxeRecife lamenta que tão importante equipamento cultural para a cidade enfrente mais este sufoco. E torce para que a situação seja resolvida o mais urgente possível.  E expõe concordância com o cineasta Kleber Mendonça, com a produtora Andrea Mota e solidariedade a todos aqueles que lutaram pelo renascimento do São Luiz. Agora à noite, chegou ao #OxeRecife a informação de que pelo menos a demissão do projecionista João Bosco foi revertida. Vamos aguardar o desenrolar dessa confusão.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Genival Paparazzi e “O Recife que te quero ver” (Acervo #OxeRecife) 

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3 comments

  1. Triste e lamentável tamanho descaso pelo que ímpar, singular. Uma sala fantástica, onde a cultura brota por todos os cantos. Que estejamos alertas para não acontecer o pior.

  2. Eita que esse governo está feito barata tonta. Vamos repercutir ao máximo esse problema para que a solução chegue o mais rápido possível!

  3. Parabéns Letícia, por abordar mais um tema tão importante para nossa cultura, mas muito mais do que isso, esse conteúdo faz parte do imaginário coletivo de várias de pessoas de diversas gerações e dentre elas me incluo. O cinema São Luís é sem dúvida um grande ícone que extrapola em importância as divisas de nossa cidade e nosso estado e é também um dos representantes dos áureos tempos da sétima arte. Se o São Luís sucumbir vão nos restar só as nossas memórias afetivas e pra juventude a sensação que os cinemas foram uma criação dos shoppings centers. Vida longa ao setentão São Luís e que ele volte, se não aos seus dias de glória, pelo menos que continue exibindo filmes e testemunhando o nascimento de novas gerações de cinéfilos.

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