Gostei muito do formato do debate da Band com os presidenciáveis. Ficou menos engessado do que os modelos até agora adotados. Porém fiquei carente de ver as propostas dos dois candidatos. Porque o diálogo só descambava para baixaria, o baixo nível, discurso de botequim. Infelizmente o Jair não deu chance nem a ele próprio de mostrar planos de governo, se é que eles existem. Cadê a postura de estadista de um chefe de estado? Por que associar o ex-Presidente Lula ao crime organizado – como o do tráfico de drogas – se o Jair é que tem intimidade com milicianos?
Se queria elevar o nível sobre a questão de corrupção, era só ficar no Petrolão e no Mensalão. Mas aí, é o sujo falando do mal lavado, diante de tantas outras provas de corrupção no atual governo, envolvendo o Ministério da Educação, o do Meio Ambiente, o da Saúde… As compras milionárias da família Bolsonaro com dinheiro vivo, o orçamento secreto e por aí vai. É muito triste o que está acontecendo. Em uma campanha eleitoral, o que o país precisa ouvir são as propostas de cada candidato. O eleitorado quer saber como fica a economia, a inflação, a educação, a saúde, a prestação de serviços públicos, os direitos básicos como acesso à água, ao saneamento, ao alimento. Mas diariamente, a Nação tem sido bombardeada com tudo de quanto é patifaria, partindo do Presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição. Ou de seus aliados. Como se já não bastassem os casos de violência política e até mortes, desde o início da corrida sucessória.
E como se isso tudo não bastasse, a gente ainda enfrenta tentativas e ameaças à nossa democracia, conquistada a tão duras penas. Por isso, no segundo turno da eleição, é pensar no futuro do país que está em jogo. O estado de direito ou outra coisa, que a gente ainda não sabe o que é? Desde o Dia da Criança – dedicado também a Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil – que atos e falas sórdidas têm tomado as redes sociais e também os grandes veículos de Imprensa. Em 12 de outubro, militantes do Bozó invadiram e profanaram o Santuário dedicado à Santa, vaiaram aqueles que estavam celebrando missa, entraram no templo ostentando canecas de cerveja e fazendo a maior baderna. Ou seja, uma ofensa à comunidade católica, que estava ali para rezar e não para fazer política.

Como se isso não bastasse, no dia 14 de outubro, o Deputado Frederico D´Ávila (PSL-SP) fez um pronunciamento na Assembleia Legislativa de São Paulo, com ofensas pesadas ao Arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, chamando-o de “safado”e “vagabundo”, que “se submete a esse Papa vagabundo também”. Chamou a CNBB de “um câncer” e “imunda”. E nivelou todos os prelados católicos à condição de “pedófilos”. Também xingou o religioso, porque este criticou a facilidade de acesso a armas de fogo, ao dizer que “Pátria amada não é pátria armada”. Segundo o deputado, o arcebispo queria “mandar no Presidente Bolsonaro”. Ou seja, um discurso de horrores, ainda mais no Brasil, que – pelo menos teoricamente – seria um estado laico. Dois dias depois, vendo a m…. que tinha feito, o deputado da boca suja desculpou-se dos “exageros” nas redes sociais.
O próprio Presidente, depois do fiasco de sua presença política no Círio de Nazaré e da baderna da Festa de Nossa Senhora de Aparecida, deu o mote para insuflar seus seguidores, quando disse lamentar “as cenas de tumulto que ocorreram em Aparecida”, mas “acho que nenhum padre ou bispo deve dizer onde posso ou não fazer campanha”. Dentro da Igreja? Quer manipular os católicos como já manipula os evangélicos? Claro que os bispos e padres estão defendendo as casas de Deus de tanta profanação. Mas esse pessoal que já transformou milhões de evangélicos em massa de manobra, agora quer impor seus “dogmas” ideológicos para os católicos. Uma moradora daqui do bairro, semi analfabeta e evangélica, me revelou que vai votar “escondido” em Lula, porque “o Pastor disse que todo mundo tem que votar em Bolsonaro”. Uma imposição para as ovelhas do seu rebanho. Ela me conta que nos cultos, são informados que se “Lula for eleito, vai transformar os templos evangélicos em cinemas”. No Recife, os cinemas é que viraram igreja evangélicas. Diz que Lula vai acabar com os banheiros masculinos e femininos em locais públicos. E que estes serão “um só para homens, mulheres e gays, tudo misturado e sem porta”. Dá para acreditar esse tipo de conversa em um culto? Pois acontece. É muita sordidez…
Quem não se afina com o credo da extrema direita (ou do fascismo tropical), é “comunista”, “terrorista” ou “vagabundo”. Uma tristeza. No final de semana, mais uma pérola. O Bozó – aquele que defende a “família” e diz proteger as criancinhas – afirma que, em 2021, em visita a uma comunidade humilde, nos arredores de Brasília, “pintou um clima” com uma venezuelana. Detalhe, era uma menina com idade entre 14 e 15 anos. Ou seja, se ele olhou maldosamente para a garota, isso quer dizer o quê? E logo recebeu apoio do vereador cassado Gabriel Monteiro, aquele que filmou com celular cenas de sexo dele com uma adolescente. “Que Deus o abençoe”, disse Gabriel, em recado solidário a Bolsonaro. Coitado de Deus, com o nome sendo tanto usado em vão… A revelação sobre aquela fala do Bozó acontece dias depois da sua ex-Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves – agora eleita senadora – ter acusado casos de pedofilia no Pará, com detalhes escabrosos e sórdidos, em que informa que crianças têm os dentes retirados para fazer sexo oral em adultos, na ilha de Marajó. Será? Por porque ela fez esse relato tarado agora, na frente de outras crianças? Se o fato é verdadeiro, por que não tomou providências, quando soube disso no tempo que era ministra?
Será que aconteceu mesmo, ou esse fato é fruto da imaginação sórdida da Ministra, aquela da Goiabeira? Porque de tanta baixaria, sinceramente, o eleitor e está cansado!
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Reprodução da TV e redes sociais