Biografia de Alceu Valença mostra os 50 anos de “estrada” e como ele virou “the brazilian Bob Dylan”

Principal atração da próxima sexta-feira (30/6) no mais tradicional arraial do Recife (Sítio da Trindade) e com o show Valencianas (com a Orquestra Ouro Preto), agendado para o dia 18 de agosto (no Centro de Convenções de Pernambuco), o cantor, compositor, instrumentista, poeta, diretor de cinema e ator Alceu Valença é o dono da noite dessa terça-feira. É que a partir das 19h, como já lembrei antes aqui no #OxeRecife, ele estará no Paço do Frevo, para o lançamento de sua biografia, que relata a persistente saga do pernambucano na busca de realizar o sonho de ser artista. Uma vocação para o palco que, aliás, manifestou-se quando ele ainda era criança, em São Bento do Una,  na Região Agreste de Pernambuco.

Foi  ali, que  o “doidinho de dona Adelma ( sua mãe)”, tentou o palco pela primeira vez, em 1950, durante o Primeiro Concurso de Talentos Mirins, no Cinema Rex, localizado no centro daquele município, a 208 quilômetros do Recife. Cantou a marcha carnavalesca “É frevo, meu bem”, de Capiba, porém quem ganhou o prêmio foi um garoto de origem hispânica, chamado Miguelito, que interpretou “Granada”. Sentindo-se injustiçado, Alceu soltou-se das mãos dos pais, invadiu o palco e começou a dar cambalhotas e a fazer outras acrobacias. E enquanto Miguelito, já premiado, voltava a cantar, Alceu roubou a cena e os aplausos do vencedor.

Depois de virar tema de exposição no Museu do Estado, Alceu Valença ganha biografia

“Comecei a girar no palco, a plateia toda girou comigo. Eu girava, girava…inconscientemente eu já defendia a terra, a identidade, a cultura. E já me lascava por causa disso”, relata o artista, no livro ”Alceu Valença – Pelas ruas que andei”, de Júlio Moura, assessor de imprensa que acompanha Alceu há mais de dez anos. A biografia será lançada, também, no Rio de Janeiro (25 de julho) e em São Paulo (27 de julho). Comecei a ler, cheguei à página 103 e, sinceramente, recomendo. Não consigo parar. O texto é leve e divertido, porém desenvolvido com rigor de pesquisa histórica. Por diversas vezes, já caí na risada, com as presepadas até de Alceu como advogado (sim, ele fez Direito), da convivência com a família e com os poetas populares do interior.

O livro mostra o convívio de Alceu – ainda na infância – com cantadores, violeiros, poetas de cordel. Depois, residindo no Recife, via passar pela Rua dos Palmares os maracatus, os caboclinhos, os bumbas meu boi, os blocos de frevo que, ainda guri, ele costumava seguir, encantado. Para completar, moravam na mesma rua o grande poeta Carlos Pena Filho e o pianista, compositor e diretor artístico da Gravadora Rozemblit, Nelson Ferreira. Há outras passagens curiosas, como aquela em que amigos de colégio, Roberto e Edinho, fundaram uma banda de rock, influenciados por Elvis, Paul Anka, Neil Sedaka, e passaram a responder como Bob e Ed. Alceu recusou o convite dos colegas, para participar da banda que eles estavam formando. “Trocar a Rosinha de Asa Branca pela enlatada Diana, ou o rei do baião pelo King creole, seria uma traição imperdoável a seus princípios e algo definitivamente fora de questão”, conta Júlio Moura.

Alceu Valença passou uma década no underground, mas ganhou o estrelato na década de 1980

A partir daí, o autor vai contando as dificuldades para se firmar na carreira, que envolvem desde cantar nas ruas com o amigo Geraldo Azevedo até os problemas  financeiros vivenciados no Rio de Janeiro,  assim como as diversas vezes que ouviu “não” nas gravadoras e até a pressão imbecil da censura do governo militar para que introduzisse mudanças em algumas de suas músicas. Também relata a temporada para um intercâmbio, nos Estados Unidos, quando o “trovador” costumava ocupar a Harvard Square, para tocar (com um violão emprestado) e cantar. Terminou ganhando as páginas do jornal Fall River (Protest Song – Alceu Valença, the brazilian Bob Dylan”. “Eu nunca tinha ouvido falar em Bob Dylan”, diverte-se o cantor. Enfim, daí em diante são tantas histórias que prefiro deixar para que o leitor mate sua curiosidade lendo a imperdível e divertida biografia de um grande artista. “Poeta e trovador, seu discurso confronta o lugar comum. Sua personalidade inquieta se reflete na obra”, diz o biógrafo que conta, também, como Alceu foi confundido com o astro Jean Paul Belmondo, nas sessões de arte do Cinema São Luiz.

“Sou um grande poeta, tenho certeza disso”, afirma o artista, que tem 50 anos de estrada. E que passou uma década no undergroud, vindo a estourar em 1980, quando  conseguiu  vender 750 mil cópias de “Coração Bobo”, batendo Maria Betânia (700 mil) e Chico Buarque (600 mil).  “Complexo, irreverente, simplesmente sem escola”, diz seu biógrafo. Hoje Alceu é cidadão do mundo, com shows já realizados em países como a Suíça, a França, Alemanha, Portugal. Autor de grandes sucessos como La belle de jour, Tropicana, Bicho Maluco Beleza, Espelho Cristalino, Coração Bobo e Anunciação, esta um verdadeiro hino por esperança de dias melhores. Hoje, só uma música de Alceu, La Belle de Jour, tem 140 milhões de visualizações no YouTube. O livro resulta de parceria entre Relicário Produções Culturais e da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), conta com Lei de Incentivo à Cultura e patrocínio do Banco Itaú. A obra tem versão impressa, digital e um audiolivro adaptado aos requisitos da acessibilidade.

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Serviço:
Lançamento do livro Pelas ruas que andei – Uma biografia de Alceu Valença (Cepe Editora)
Preço: R$ 70 (livro impresso); R$ 35 (e-book); 49,90 (compra do audiolivro); R$ 20 (assinatura do audiolivro)

Recife
Quando: 27 de junho
Onde: Paço do Frevo (Praça do Arsenal da Marinha, s/n, Recife)
Horário: 19h
Acesso gratuito

Rio de Janeiro
Quando: 25 de julho
Onde: Livraria Travessa do Shopping Leblon (Avenida Afrânio de Melo Franco, 290, loja 205, Rio de Janeiro)
Horário: 19h
Acesso gratuito

São Paulo
Quando: 27 de julho
Onde: Itaú Cultural (Avenida Paulista, 149, Bela Vista, São Paulo)
Horário: 19h
Acesso gratuito

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Cafi e Carlos Hercardes/ Divulgação

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