Ameaçado de extinção, lobo-guará é alvo de projeto de conservação e é reintroduzido à natureza

Pensem em um animal lindo e imponente. Ele faz parte das memórias afetivas de minha infância. Pois lembro-me que, décadas atrás, quando viajava com algum parente para a Zona da Mata – principalmente a Sul – era fácil ver esses animais cruzando a estrada, normalmente à noite. Eles chegavam a se desorientar com a luminosidade dos faróis dos automóveis. Depois, o maior canídeo da América Latina sumiu da região canavieira. Em Pernambuco, por exemplo, quase nem se ouve falar mais desse animal, que encontra-se ameaçado de extinção no país, onde ficou em evidência quando passou a ilustrar a cédula de R$ 200. Em alguns locais, como no Santuário do Caraça (MG), os lobos-guarás são aguardados com expectativa para deleite de sortudos turistas.

É que todas às noites, eles vêm buscar alimentos (carne) que ali são colocados pelos responsáveis por aquela que hoje é a Reserva Particular do Patrimônio Natural do Caraça. Os visitantes ficam de plantão, à noite, para contemplar os belos animais. Em outros, eles são alvo de projetos que tentam evitar que o animal desapareça do nosso mapa. O #OxeRecife já mostrou aqui esforço de preservação da espécie, feito no Paraná. Agora aborda outra ação na Bahia, onde tem gente trabalhando a preservação desse mamífero, inclusive com reintrodução na natureza. É o que ocorre no Parque Vida Cerrado, que fica no município de Barreiras, a  863 quilômetros de Salvador. Nesse mês de maio, completa-se um ano da primeira reintrodução de lobos-guarás à natureza. O trabalho resulta de parceria do Parque Vida Cerrado com o ICMBio, ONG Jaguaracambé, Projeto Sou amigo do Lobo e Projeto Ritmos da Vida. Cinco lobos-guarás, espécie que está ameaçada de extinção no Brasil, já foram soltos e três continuam sendo monitorados tanto pelos institutos participantes quanto pelo Parque.

No Santuário do Caraça (MG), turistas ficam de “plantão” à noite, para admirar o lobo-guará, que faz visitas ao local

O Parque é o primeiro e único centro de educação socioambiental do Oeste baiano, que há 16 anos abriga um criadouro conservacionista e um centro de excelência em restauração do bioma Cerrado. O trabalho com os lobos-guarás contribui com a sua conservação, pois vai gerar protocolo para a espécie que indica ações de recebimento, treinamento, soltura ou translocação e o monitoramento dos animais pós-soltura. Quando finalizado, o protocolo será transformado em artigo científico, cartilha e manual para cursos de reabilitação da espécie, e poderá servir de base para futuros estudos e reintroduções do lobo-guará, assim como outras espécies, na natureza.

“O maior indício de uma reintrodução de sucesso é quando o animal é capaz de reproduzir, pois ele cumpre o papel de gerar sua própria ninhada”, explica Gabrielle Bes da Rosa, bióloga e coordenadora do Parque Vida Cerrado. “No início do ano, percebemos o pareamento da Caliandra com o José Bonifácio, animal de vida livre que recebeu o colar de GPS no ano passado, em outro projeto de monitoramento de fauna. Existe, inclusive, uma possibilidade de gestação por parte dela, mesmo que pequena, mas o pareamento já é um indicativo muito favorável, já que se trata de uma espécie territorialista”, informa Gabrielle. Os dois foram reintroduzidos pelo projeto. Os pesquisadores também buscaram comparar as atividades da Caliandra à do José Bonifácio e da Elizabeth, outra loba-guará de vida livre, já que todos receberam o colar de monitoramento na mesma região.

Abaixo, você confere mais informações sobre lobo-guará e outros mamíferos silvestres

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Calan Sandeson / Parque Vida Cerrado / Divulgação e Santuário do Caraça / Divulgação / Acervo #OxeRecife

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