Trajes juninos na “família” de Francisca

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Quando eu era criança, lembro que meu pai tinha uma amiga na França, cuja irmã vivia de uma profissão que ele considerava “curiosa”. A moça era costureira de roupas de… bonecas. E como eram charmosas, as bonequinhas francesas. Lembro de algumas, cujas vestidinhos eram realmente lindos. Se Dona Maria Francisca de Almeida fosse uma profissional da área, com certeza, não ficaria sem emprego. Mas aos 94, ela adotou a costura como forma de passar o tempo, tirar o sono que lhe atingia durante o dia, e de se distrair. Detalhe: Passa tardes e manhãs manipulando agulhas, linhas e tecidos. Tudo para confeccionar roupinhas somente para sua “família” de bonecas.  Os “looks” são lindos e criativos. Sem repetição.

Já falei dela aqui, pois durante a pandemia, nossa amiga ficou um tempão longe de sua cidade natal, Quipapá, localizada a 188 quilômetros do Recife. Com a necessidade de isolamento social, os familiares preferiram que  ela não corresse risco e, enquanto esteve na capital, costurou, costurou. Das mais de 30 bonecas que  tem no interior, dez vieram com ela. De volta ao município onde sempre viveu, Dona Francisca voltou a abraçar a “comunidade”. E em clima de São João. Pois não parou. Durante o mês de junho, fez roupinhas juninas para as bonecas. Sua filha, Ceça Almeida, calcula que tenha feito umas 200 no  período. “Ela não fez só os vestidos, calças e camisas. Fez todos os adereços, enfeites para cabeça, sapatinhos de crochê”, conta.  Francisca tem cinco filhos, seis netos e dois bisnetos. Entre as filhas, nossa amiga,  Ana Almeida, coordenadora do Grupo Andarapé, com quem já fiz diversas caminhadas.  Porém, as bonecas são uma espécie de segunda “família” de Dona Francisca. Ela tem o maior cuidado e carinho não menor com as “meninas” e “meninos”. Os 30 bonecos e bonecas lhe foram presenteadas por amigos e parentes. E os filhos não lhe deixam faltar material. Há sempre tecidos, linhas, fitas, rendas e bicos para as mini confecções.  Curioso é que a idosa sempre prepara sua “turma”  para as datas de época. No Réveillon, estavam todos de branco, a cor da paz e da festa. Eram vestidinhos de cambraia bordada, seda, renda e popeline. No São João, ela preparou um guarda-roupa novo para a “criançada”.

Os  cerca de 30 “meninos” e “meninas” estão nas prateleiras de sua casa,em Quipapá, com os looks do ciclo junino, que se encerra nessa terça-feira, 29, data dedicada a São Pedro. É provável que, a partir de agora, ela comece a preparar o guarda-roupa do Dia da Criança, que é em outubro. E as bonecas de Francisca são “crianças” mesmo. Têm caras e corpos de bebês. Passam longe daquelas que lembram manequins adultos e esquálidos, como BarbieSuzi. Viva Dona Francisca! Aos 94, com sua alma de criança, entre “meninos” e “meninas”.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Ceça Almeida / Cortesia

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One comment

  1. Parabéns minha querida Dona Francisca e Família, em especial Ceça Almeida um filha maravilhosa. Um forte abraço a todos. Dona Francisca um dia quero ter o prazer de de lhe conhecer pessoalmente. Bjs!

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