No século passado, especialistas decidiram povoar o Capibaribe com tilápias, porque o peixe -resistente à poluição – poderia até contribuir para limpar o rio, já que se alimenta de produtos orgânicos. Na época, o peixe não era muito procurado. Os consumidores alegavam que a espécie tinha gosto de terra, de barro. Mas os tempos mudaram, e a tilápia é, hoje, um dos pescados mais caros nas gôndolas dos supermercados, onde são vendidas com o nome de filé Saint Peter, em emblagens congeladas. Como o peixe passou a ser criado em viveiros – trocando as algas que davam no leito dos rios pela ração nos alçapões – o sabor mudou. Ficou mais delicado.
O gosto de terra sumiu. O problema é que a grande maioria dos tanques-rede onde são criados no Rio São Francisco, encontra-se em situação irregular. Pelo menos, essa foi a realidade encontrada pela Fiscalização Preventiva Integrada da Bacia do Rio São Francisco em Pernambuco (FPI/PE), operação que é realizada no momento em cinco municípios sertanejos do Estado, com foco na situação do meio ambiente e no bem estar das populações daquela região. A FPI visitou cem empreendimentos e quase todos não possuem licença, o que dificulta a ação do poder público para ordenar os negócios da piscicultura. Há criatórios instalados em Área de Preservação Permanente, em terras às margens do Rio São Francisco.
A regulamentação ajudaria a fiscalizar práticas que podem trazer desequilíbrio para o Velho Chico. Entre elas, o uso excessivo de ração para as tilápias. A grande quantidade de viveiros e o uso exagerado de alimentação artificial provoca “o aumento da quantidade de excremento dos peixes”. E este, por sua vez, facilita “o crescimento do número de baronesas, plantas aquáticas que têm se multiplicado no rio, diminuindo a quantidade de oxigênio nas águas e desestabilizando o ecossistema”, informa o Ministério Público de Pernambuco (MPPE). Fenômeno semelhante já foi constatado por biólogos nos rios da Paraíba, por conta da ração dadas a peixes e camarões em viveiros artificiais.
O licenciamento envolve vários órgãos, como Ibama, Agência Nacional das Águas, Ministério da Agricultura, Secretaria do Patrimônio da União e Agência Estadual de Meio Ambiente. No dia 25, a FPI/PE vai promover audiência pública para discutir o assunto e orientar os produtores sobre o processo de regularização e os limites que devem ser impostos, para evitar maiores danos ao meio ambiente. A FPI foi desencadeada sob coordenação do Ministério Público Federal (MPF) e do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), com apoio do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF). E conta com a participação 20 outras entidades, entre órgão públicos, privados e organizações sociais.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: FPI/ Divulgação/ MPPE
Foto: FPI/ Divulgação/ MPPE
