Situação de poltronas do Santa Isabel é incompatível com a importância do teatro

Já não é a primeira vez, que nossos teatros mostram sinais de abandono. Durante o Festival Janeiro de Grandes Espetáculos, estive no Teatro Apolo com algumas amigas. E não só eu, mas todas que estavam comigo, reclamaram da situação da antiga casa: paredes sujas, piso estragado, cheiro de mofo, torneira quebrada no banheiro.

Cheguei até a fazer uma postagem aqui no #OxeRecife, mostrando o quanto foi linda a peça sobre arboricídios urbanos “Viver com, morrer com”, encenada pelo coletivo circense “A Penca” (SP).  Mas mostrei o quanto estava triste devido ao estado de conservação do Apolo (1842), que é o teatro em funcionamento mais antigo do Recife. Mais famoso e mais recente que o primeiro, o Teatro Santa Isabel (1850) também choca o público, devido à falta de manutenção de alguns dos seus equipamentos.

Monumento nacional, o Teatro Santa Isabel é um belo e imponente prédio, mas poltronas exigem cuidados

Ainda mais porque o TSI está para o Recife como o Municipal (1909), para o Rio de Janeiro; como o José de Alencar (1910), para Fortaleza; como o Theatro da Paz (1878), para Belém; como o Theatro Amazonas (1896), para Manaus; e como o centenário Theatro Cinema Guarany (1922), para o Sertão de Pernambuco. São todos relíquias da nossa arquitetura, da história e da evolução das artes cênicas no Brasil.   Em Pernambuco,  o TSI  é tombado pelo IPHAN e, portanto, monumento nacional.

É gerenciado pela Prefeitura do Recife, mas o temor é que aconteça com ele o mesmo problema que houve com o Teatro do Parque, cujas necessidades foram se acumulando e que terminou passando por mais de uma década em reforma. É que o TSI começa a dar sinais de que necessita, urgentemente, de pequenos reparos, antes que as demandas sejam muito grandes e obriguem a casa de espetáculos a passar longo tempo fechado. Há alguns dias, a amiga Lélia de Maria, do Grupo Bora Preservar, foi assistir um concerto da Orquestra Sinfônica do Recife, no TSI. E deixou o teatro muito chocada, diante das várias poltronas rasgadas, com os estofados estourados,  espumas à mostra.  Ela postou um comentário, com fotos de poltronas rasgadas, em uma  rede social:

“Vejam o estado em que se encontram os estofados do Teatro de Santa Isabel. Fotos tiradas há alguns dias. No final do ano passado, falei com o diretor sobre o assunto. Sugeri se no período de recesso, quando o teatro fecha suas portas, não haveria possibilidade de dar início a troca dos estofados, uma vez que no geral estão em péssimo estado.   A resposta foi rápida e direta: para fazer qualquer reforma é preciso fechar o teatro e a classe artística não aceita. Pensei, será?  Considerei resposta cômoda. A continuar assim, sem manutenção das coisas menores, num futuro próximo o teatro obrigatoriamente fechará as suas portas. Isso ocorrendo, só Deus sabe quando reabrirá”.

Acho que Lélia tem razão. E de exemplos, o Recife está cheio. Quem não lembra do Teatro do Parque, que passou quase uma década em obras, enquanto os grupos de teatro enfrentavam escassez de palcos para suas encenações? (Como o TSI, o Parque é administrado pela Prefeitura do Recife). E o Cinema São Luiz (gerenciado pelo governo estadual), que até hoje não reabriu? A manutenção de qualquer monumento tem que ser constante e diária, pois quando não ocorre como se deve, os estragos vão se acumulando, o custo dos reparos aumenta, assim como o tempo de espera pela reabertura.

Com a palavra, a Secretaria de Cultura do Recife. Nos links abaixo, você confere mais informações sobre teatros do Recife.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Lélia de Maria (Cortesia) e Andrea Rego Barros/ PCR / Acervo #OxeRecife

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2 comments

  1. Super oportuno você abordar este tema no seu blog, Letícia. Realmente, o nosso Santa Isabel está abandonado. Sou frequentadora assídua e fico triste vendo-o assim. Além de rasgados, o escarlate dos estofados de todas as cadeiras estão gastos, sem viço, urge que a troca seja feita. Os tapetes a mesma coisa. O Teatro de Santa Isabel, como você bem o disse, equipara-se ao Teatro Municipal do Rio, é patrimônio cultural nosso e merece mais atenção e respeito. Espero que a sua reportagem chegue àqueles que ocupam cargos de mando e que providências cabíveis sejam tomadas antes que tarde seja. Por fim, meu muito obrigada a você, Letícia, por se importar com o nosso lindo, pequenino e delicado Teatro de Santa Isabel.

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