No Dia Mundial de Proteção aos Manguezais, um pedido de socorro. Nesta segunda-feira (26/7), está sendo lançada nesse momento a Campanha Rios Livres, Mangues Vivos. O local do evento é a Comunidade Quilombola Ilha da Mercês, que fica no município de Ipojuca, a 54 quilômetros do Recife. A campanha visa recuperar o Rio Tatuoca, prejudicado pelo desenvolvimento econômico do Litoral Sul, onde nem sempre o crescimento da economia impõe – muitas vezes – um preço alto às populações locais, devido às agressões impostas ao meio ambiente.
Em Pernambuco, por exemplo, houve um grande crescimento de incidentes com tubarões, fato atribuído por cientistas à implantação do Porto de Suape. O Tatuoca é apenas mais um exemplo. Ele está situado na região onde se instalou aquele complexo industrial portuário. E é um rio de fundamental importância econômica e cultural para o povo de Mercês, sendo responsável pela soberania alimentar e pela reprodução identitária da comunidade. Em 2008, o rio teve seu curso interrompido pela construção de um dique de enrocamento, que deveria servir de passagem provisória – por no máximo 2 anos – para dar acesso ao Estaleiro Atlântico Sul.
Mas os quilombolas reclamam que até hoje a obra permanece no local, embora o Estaleiro já tenha fechado as portas. A obra, no entanto, permanece bloqueando a foz do rio, sem qualquer processo de licenciamento ambiental que justifique sua presença. “Sua permanência, além de ilegal, é danosa tanto para a vida da comunidade quilombola, que conta com mais de 213 famílias, quanto para o mangue, a fauna e a flora da região”, alega em documento a população prejudicada. A Comunidade de Mercês tem lutado há mais de uma década contra o fechamento do rio. O maior desejo dessa comunidade tradicional é ver o rio livre, o mangue vivo e, assim, poder restaurar seu modo de vida.
O rio e o mangue são as principais fontes de sustento da comunidade e ter os dois vivos e preservados é preservar também o povo de Mercês. Além do Dia Mundial da Proteção aos Manguezais, 26 de julho é, também, o dia de Nanã, orixá da terra molhada e da vida que dela brota. A campanha é uma realização do Fórum Suape Espaço Socioambiental, em parceria com a Comunidade Quilombola de Ilha Mercês e a Ação Comunitária Caranguejo Uçá, e conta com o apoio das organizações Both ENDS e Fundo Casa Socioambiental.
No curso da Campanha, haverá a publicação, nas redes sociais, de peças de comunicação (fotos, vídeos, podcasts etc.) abordando os problemas envolvidos no fechamento do rio e a dura realidade que vivenciam as pessoas que dele precisam para sobreviver. Essas peças contam com a visão dos membros da comunidade de Mercês, de pescadores e pescadoras afetados pelo barramento, de representantes da sociedade civil, pesquisadores, comunicadores, membros de organizações jurídicas, entre outros.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Fran Silva/ Divulgação / Caranguejo Uçá