Há muito tempo que tenho por hábito separar o lixo. O que é reciclável, normalmente levo para pontos de coleta, como cooperativas de catadores, instaladas em armazéns, supermercados e até em shopping centers. Também costumo colocar sacos de papel, plástico e latinhas no carro e paro, quando vejo um catador conduzindo sua carroça. Pergunto se o material que tenho no bagageiro interessa. Se interessar, já deixo com eles. Há uns que só catam plásticos, outros só latinhas, e por aí vai. Vez por outra recorro aos ecopontos oficiais. Mas só como última alternativa, porque os do Recife só são “ecopontos” no nome. De ecopontos, não têm é nada.
Senão, vejamos. Eles contrariam por completo a norma universal de separação do lixo. De que adianta o cidadão separar tudo, e chegar no coletor e observar que lá é tudo “junto e misturado?” Não há compartimentos para a separação ser feita logo no descarte. Assim, não dá. Com a pandemia, as cooperativas que ficam perto de minha casa suspenderam os trabalhos, porque o lixo descartado virou risco de infecção. Tudo porque os recifenses, simplesmente estavam misturando as máscaras descartadas ao lixo que deveria ser reaproveitado. Pode, um negócio desse? É muita irresponsabilidade e falta de amor e respeito ao próximo.
Então, o jeito foi recorrer aos coletores oficiais. Mas… sinceramente, são revoltantes, e ecologicamente incorretos. E agora, mesmo na pós-pandemia, são os únicos que ainda recebem depósitos de vidro. Porque segundo os catadores, o preço do vidro – ao contrário do papelão, das latinhas e do plástico – não compensam o sacrifício. Então, vidro tem que ser colocado é lá mesmo. Nesses monstrengos. Sei não, mas acho que nossa população não é muito educada, quando o assunto é descarte de lixo doméstico.
Mas, com certeza, a gestão pública não ajuda. Porque se nossa política de destinação de resíduos sólidos fosse eficiente, a gente não veria cenas como essas aí da foto. O coletor fica na Praça Silva Jardim, no Bairro do Monteiro, Zona Norte do Recife. Mas já vi outras situações até piores, como o da foto central, em um alto popular da Zona Sul. Também há muita sujeira sendo jogada nas ruas em tempos fora de pandemia, cujos porcalhões são facilmente identificáveis, principalmente à frente de bares, lanchonetes, restaurantes e casas de festa. Como andava muito antes da pandemia, via de manhã as montanhas de depósitos de vidro, garrafas pet, copos plásticos caixas de papelão, tudo misturado. E às vezes, espalhados pelas calçadas. Custa nada organizar esses grandes produtores de lixo e convencê-los a preparar tudo para a coleta seletiva? E quem muito suja, pouco leva multa. Alô,alô, Emlurb… Acorda prá Jesus, meu povo, que a eleição vem aí.
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife