Praça Maciel Pinheiro vai de mal a pior

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Ao longo de seus  145 anos, a Praça Maciel Pinheiro já teve muitos nomes:  Moscoso, Largo do Aterro, Largo da Matriz, Largo da Boa Vista, Praça do Conde D´ Eu.   O atual,  Maciel Pinheiro (1839 – 1889), é em homenagem ao advogado e jornalista de ideias liberais e republicanas, que chegou a alistar-se como voluntário para a Guerra do Paraguai, mas que não conseguiu lutar como pretendia, porque foi atacado pela malária.

Ele precisou retornar a Pernambuco, sem conseguir cumprir sua missão de herói.  Foi depois homenageado pelo então colega do curso de Direito, Castro Alves (1847 – 1871), com o poema Peregrino Audaz. De volta do Paraguai passou a colaborar nos jornais locais, defendendo suas ideias políticas, incluindo as abolicionistas. A praça, na verdade, foi implantada em comemoração à vitória das tropas brasileiras naquele conflito, que durou de 1864 a 1870.

A Praça Maciel Pinheiro já foi  uma das mais importante do centro. No casarão rosa (ao fundo) morou Clarice Lispector.

Por isso, a Praça Maciel Pinheiro é histórica e deveria merecer todo o cuidado dos nossos governantes.  Também foi o local  por onde começou o abastecimento público no Recife. Recebeu um chafariz para servir a população da Boa Vista, cuja água ia por tubulações do Açude do Prata até a Boa Vista, um avanço para a época.  A fonte que hoje ocupa o lugar do antigo chafariz –  com bacias,  ninfas índia e leões – é considerada uma das mais importantes esculturas do artista português Antônio Moreira Ratto (1818 – 1903). O conjunto de esculturas que forma a fonte é, talvez, o mais bonito das praças do Recife. Também na Praça fica o sobrado onde a escritora Clarice Lispector (1920-1977) passou parte da infância. Infelizmente, no entanto, a Praça nem de longe passa pela atenção merecida de nossas autoridades.

Virou o refúgio de desvalidos. São pessoas que não têm onde morar e fizeram ali os seus barracos de papelão ou com  restos de madeira. A praça histórica virou dormitório, refeitório, latrina, ponto de consumo para drogas. A cada dia a situação piora, com novos moradores e mais degradação. Passei lá nesta semana, e a tão linda praça está de fazer pena. Também o fotógrafo Genival Paparazzi,  autor das fotos da ocupação indevida da praça, ficou impressionado com o que viu e enviou para o #OxeRecife. Obrigada pelas fotos, Paparazzi. Tomara que as autoridades se sensibilizem e tomem providências. Sabemos que a situação não está fácil, que muitos trabalhadores informais perderam o ganha-pão na pandemia. Mas sabemos, também, que praças e calçadas são locais públicos e que não podem nem devem ser permanentemente ocupadas e que cabe ao poder público zelar pela sua manutenção.  Praças não podem  servir de dormitório e mictório.

Cabe, portanto, ao poder público fornecer abrigo para quem precisa de teto. No Recife há abrigos e restaurantes populares mantidos pela Prefeitura, porém não têm sido suficientes para a demanda. A anunciada iniciativa do Prefeito João Campos (PSB) – através de edital – para acomodar moradores de rua em hospedarias ou hotéis da cidade não surtiu efeito. Provavelmente por preconceito do empresariado do setor.  O mesmo preconceito que enfrentou a Pastoral do Povo da Rua, quando tentou alugar imóveis para que eles tivessem um local para morar. Depois, o preconceito começou a cair e já são muitos os moradores em situação de rua que ganharam um teto (quitinetes) para se abrigar. O trecho da Boa Vista onde fica a Praça Maciel Pinheiro concentra uma série de pérolas da nossa arquitetura e da nossa história, mas a maior parte em decadência ou ruínas: o casario da Rua da Imperatriz, o Teatro do Parque (felizmente restaurado), o Hotel do Parque, a Matriz da Boa Vista, a Igreja de Santa Cecília e o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco. E ainda o belíssimo Hotel Central  (também restaurado). Todos no bairro da Boa Vista.

Veja, na galeria de fotos, como está hoje a Praça Maciel Pinheiro, uma tristeza!

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins (#OxeRecife) e Genival Paparazzi (cortesia)

 

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