Abandonada à exaustação durante os oito anos da gestão passada e também nos primeiros três anos da atual, a Praça Maciel Pinheiro acaba de ser requalificada e entregue, enfim, à população. Além de degradada, aquela que já foi uma das mais importantes praças do Bairro da Boa Vista ultimamente vinha sendo utilizada por população em situação de rua, que a usava como dormitório e mictório. Segundo os moradores da região, a Praça havia se transformado, também, em uma verdadeira cracolândia. Vamos ver, com a reforma, como fica essa situação.
Inaugurada em 1876, em comemoração à vitória do Brasil na Guerra do Paraguai (1864-1870), a Maciel Pinheiro integra o elenco de quinze “jardins históricos”, que têm a assinatura do paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994), que residiu no Recife nos anos 30 do século passado, quando criou ou redesenhou várias praças do Recife, quinze das quais são “jardins históricos”, sendo seis atualmente tombadas pelo IPHAN. A Maciel Pinheiro não é tombada pelo IPHAN, mas está incluída entre os jardins históricos. E foi beneficiada pelo Programa Tá Aprumado Praças, que prevê investimentos de R$ 60 milhões na revitalização de 120 espaços públicos da cidade. Já era tempo… Pois as praças do Recife, incluindo os jardins históricos, realmente estavam totalmente detonadas. Uma vergonha.
Segundo o Prefeito João Campos (PSB), só a Maciel Pinheiro consumiu R$ 500 mil na reforma, realizada pela Emlurb.“Além da recuperação urbanística que estamos fazendo, haverá também uma equipe permanente da Guarda Civil e da ação social da prefeitura. Aqui era uma área que estava muito vulnerável, crítica, com pessoas em situação de rua e a gente tem vários serviços que vão estar aqui presentes para poder direcionar cada pessoa para o serviço adequado. Nosso objetivo é poder preservar esse local como ele foi concebido e continuar fortalecendo o comércio da região”, afirmou o prefeito durante a nova inauguração do equipamento. As ações realizadas no equipamento fazem parte do plano de requalificação desses quinze jardins históricos.
O principal objetivo das ações, desenvolvidas com a consultoria do Laboratório da Paisagem da UFPE, é valorizar retomar (quando possível) as propostas arquitetônicas e paisagísticas dos projetos originais de Burle Marx, que foram perdidas ou descaracterizadas ao longo das décadas. O projeto paisagístico de 2024 propõe espécies arbustivas e forrações coloridas e com flores – ixoras nos canteiros que envolvem o chafariz central, crinos com flores brancas e zebrina roxa nos dois canteiros maiores. No local ainda é possível encontrar as palmeiras tamareira-de-jardim (Phoenix roebelenii O’Brien) e sabal (Sabal palmetto), além dos ipê-roxos (Handroanthus heptaphyllus) e amendoeiras (Terminalia catappa) que emolduram a praça.
A requalificação também incluiu a limpeza e recuperação dos postes. Mas infelizmente sem os lampiões de ferro fundido originais, que foram retirados pela Prefeitura e substituídos por outros mais ordinários (como aliás, ocorre em vários locais da cidade). Também passaram por limpeza o piso em pedra itacolomy, as bordas dos canteiros em pedra maciça, os bancos de maneira tipo “veneziano” e os monumentos. E ainda: o chafariz histórico, a obra do artista Antônio Moreira Ratto; a escultura de Clarice Lispector, pertencente ao Circuito da Poesia, e o painel de cerâmica com frase do poeta recifense Eugênio Coimbra Júnior.
Vamos torcer para que essa recuperação da praça seja o ponto de partida para revitalizar o seu entorno, antes tão bonito e convidativo. Pela Maciel Pinheiro já transitaram no século passado, ídolos do cinema como Henry Fonda. Quem, em 2024, viria de Hollywood para passear pelo meio da decadência que ela se transformou? Tomara que a recuperação da Maciel Pinheiro seja ponto de partida para recuperar o degradado bairro da Boa Vista. Afinal, por ali por perto ficam o belíssimo Teatro do Parque; o antigo Hotel do Parque (com o andar térreo descaracterizado); a Paróquia do Santíssimo Sacramento (mais conhecida como Matriz da Boa Vista); o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco.
Na própria Praça fica, ainda, o sobrado onde a escritora Clarice Lispector passou parte de sua infância e que, felizmente, está em vias de restauração. Na mesma área, um pouco mais afastado, fica o sobrado onde nasceu o abolicionista Joaquim Nabuco, na esquina da Rua da Imperatriz com a Bulhões Marques. Ou seja, ainda há muita coisa a se fazer pelo Bairro da Boa Vista e pelo Centro em geral.
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Texto: Letícia Lins /#OxeRecife
Fotos: Hélia Scheppa / PCR