Ao contrário do Pelourinho – em Salvador – que vive cheio de turistas, o nosso belíssimo Pátio de São Pedro está esquecido. Infelizmente. Com grupos de caminhadas, estive lá por dois fins de semana seguidos. E constatei a desolação. Como se sabe, aquele conjunto arquitetônico é tombado pelo Iphan. É, portanto, monumento nacional, o primeiro – aliás – a ser assim classificado em Pernambuco. E merece carinho, apoio, preservação, movimentação cultural para que se mantenha vivo, efervescente como o centro histórico baiano.

Para completar, além do seu simétrico casario, o Pátio de São Pedro ainda ostenta a Concatedral de São Pedro dos Clérigos, datada do século 18 e considerada “uma das mais expressivas estruturas arquitetônicas do Brasil”, segundo o livro Guia do Recife – Arquitetura e Paisagismo. O templo barroco teve sua construção iniciada em 1728. No Pátio há equipamentos culturais como a Casa do Carnaval, o Memorial Chico Science, o Memorial Luiz Gonzaga e ainda o Museu de Arte Popular. Também possui restaurantes, entre eles o excelente São Pedro, que tem Thiago Chagas como chef e que responde, também, pela famosa cozinha do Reteteu, este localizado no bairro da Encruzilhada.
Porém nos domingos em que lá estive, à tarde, só ele estava funcionando. Apesar de toda a importância, fiquei muito triste com o que vi, quando estive no Pátio de São Pedro pela última vez. Estava vazio. A animação ficou por conta do I Encontro da Irmandade Guardiãs de Adjá, que havia se reunido ali pertinho, na sede do Afoxé Óvá Alaxé, que fica na Rua das Águas Verdes, no oitão da Igreja. A roda formada pelo pessoal me fez lembrar os tempos áureos do Pátio, quando suas noites eram movidas a rodas de ciranda, que movimentavam a sociedade. Eram festas democráticas, que costumavam atrair pessoas de todas as classes sociais. Todos, de mãos dadas, em rodas ao som da zabumba, do ganzá, do tarol, da cuíca, sanfona e do pandeiro, repetindo como nos ensina Lia de Itamaracá, “o movimento das ondas do mar”. Mas isso foi há muito tempo, nos anos 70 e 80 do século passado, quando o local histórico vivia grande efervescência.
Com o passar dos anos, como vinha ocorrendo em todo o centro da cidade, o Pátio de São Pedro foi sendo esquecido. A movimentação mais significativa ficou por conta da Terça-Negra, que antes da crise sanitária ocorria uma vez por mês. Também tinha movimento durante os períodos carnavalescos e juninos, que vão ser retomados com o fim daquelas restrições. O Pátio de São Pedro é lindo e merece ser tratado com carinho e muita seriedade. Há tempo que o #OxeRecife vem denunciando pilhagens em seus equipamentos urbanos, como lampiões coloniais. Esperamos que o Recentro encontre soluções criativas que movimentem o logradouro e lhe devolva os tempos áureos do passado. Recentemente, o Recentro anunciou policiamento ostensivo no local, já que a falta de segurança naquela região do Recife afugenta o público.
Agora vamos aos “parênteses”. Parece até que a história das luminárias e lampiões coloniais do Recife me perseguem. Encontrei no Pátio postes de ferro fundido, antigos, sem os lampiões. E les sumira sumiram até de velhos casarões, como o que fica na esquina da ruela que dá acesso à Avenida Dantas Barreto. O que está acontecendo? Foram surrupiados? Foram retirados para que sejam substituídos por esses, de material bem mais ordinário do que os originais e que logo após colocados, vêm sendo roubados no resto da cidade? Consultei a Autarquia de Manutenção e Limpeza do Recife, Emlurb, para saber o que está acontecendo, se a retirada faz parte já do plano de substituição pelas luminárias a LED. A resposta da Emlurb não foi muito convincente: “Fizemos uma primeira etapa e vamos fazer uma segunda com reposição de postes, etc”. A “primeira etapa”, no entanto, ficou sem explicação sobre o que se trata.
Como assim? Reposição de postes? Vão ser retirados os originais? O Pátio de São Pedro, a exemplo do Teatro Santa Isabel – aqui já referido – é tombado e seus equipamentos não devem ser substituídos, mas sim restaurados e lá recolocados. Já basta o que foi feito com a Ponte Velha, que perdeu 22 lampiões coloniais, na execução da “reforma” do seu sistema de iluminação. Já chega de agressões ao nosso patrimônio e atentados estéticos contra a cidade. Estão aí a Praça de Casa Forte, o Cais da Aurora, o Cais da Jaqueira, a Ponte Velha, o Teatro Santa Isabel e a Ponte Duarte Coelho, que não nos deixam mentir. Atenção, Recentro! No domingo em que estivemos no Pátio, com o Projeto Recife que te quero ver, fomos brindados não com uma roda de ciranda, mas com uma outra, dos Guardiões de Adjá, que rendeu fotos e imagens para a nossa turma.
Confira o vídeo:
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Texto, fotos e vídeo: Letícia Lins / #OxeRecife