Parece até notícia de primeiro de abril. O terror no paraíso. Mas é verdade. A praia de Porto de Galinhas – um dos principais destinos turísticos do Brasil – parecia, hoje, uma cidade fantasma, a julgar pelas imagens que foram divulgadas em emissoras de TV e redes sociais. Praia vazia, ruas interditadas, comércio fechado. Famílias em casa. E turistas trancafiados em pousadas e hotéis,antecipando o retorno para suas cidades de origem.
Tudo por conta das cenas de violência – ruas interditadas, veículos e até ônibus incendiados, fogo nas estradas – que começaram a pipocar após a morte da menina Heloísa Gabrielle, de seis anos. Na quarta-feira, ela foi atingida por uma bala, durante uma operação contra traficantes, executada pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar. A origem do disparo está sendo investigada, mas grande parte da população está atribuindo o incidente à PM. A menina morava na comunidade de Salinas, uma das mais carentes do balneário.
O Secretário de Defesa Social, Humberto Freire, preferiu atribuir a bagunça não à revolta popular, mas sim à bandidagem. “Traficantes estão se aproveitando para fazer bagunça em Porto de Galinhas”, afirmou, em entrevista nessa sexta-feira. Segundo ele, para “pregar a saída do Bope”. Sinceramente, sempre aparecem oportunistas e bagunceiros no meio das manifestações sociais, mas não acredito que a revolta popular em Ipojuca por conta do assassinato seja atribuída unicamente aos traficantes. Populares dizem que a polícia, quando chega, já vem atirando.
A população está sim, indignada com a morte de uma criança inocente, de seis anos, atingida por uma bala ninguém sabe disparada por quem. Não é de hoje que Ipojuca, onde fica Porto, seja tida como um município violento. A situação vinha se agravando desde o boom econômico do Complexo Industrial de Suape e a invasão de forasteiros. Com a crise nas indústrias do Polo e o desemprego, a situação ficou pior, agravada pela crise econômica e pela pandemia. Mas segundo o Secretário, os crimes letais caíram em 33 por cento em relação ao ano passado. Diz, ainda, que os contra o patrimônio também estão em queda: sete por cento.
Ele reconhece que os números ainda não são os pretendidos, mas já representariam um avanço. Afirmou que a Operação Porto Seguro está em operação e que 250 policiais civis e militares foram enviados para Ipojuca. Violência não é o único problema de Porto de Galinhas. Todo mundo sabe disso. Não há saneamento compatível com o crescimento do balneário, e por trás dos hotéis de luxo moram comunidades como a das Salinas, com famílias residindo em palafitas, em situação de extrema carência. Há, por acaso alguma rede de proteção social para essa população? Se o Estado se omitir, abre caminho para impor a Porto o mesmo destino da antes paradisíaca ilha de Itamaracá, da qual muito frequentador antigo corre hoje. Tudo por conta da desordem urbana, lixo nas ruas, violência, poluição ambiental, poluição sonora. Quem aguenta?
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Acervo #OxeRecife (AHPG)