O “fantástico” Maracatu A Cabra Alada

Se há um espetáculo bonito, no carnaval do Recife, é o tal do maracatu, com contagiantes batuques que ecoam das alfaias, caixas, gonguês. Refiro-me ao maracatu de baque virado, ou maracatu nação, aquele inspirado nos costumes dos nossos ancestrais africanos que, escravizados, transformaram a “coroação” dos reis e rainhas do Congo em um sonho de liberdade.  E que guardam, também, devoção aos orixás. Com o passar dos tempos, alguns foram se criando mais sofisticados, como é o caso do Nação Pernambuco. Outros apareceram  estilizados. Longe, portanto, do cunho religioso que marcam os maracatus tradicionais, mas nem por isso deixando de preservar as manifestações culturais de Pernambuco.

No caso do Maracatu Fantástico A Cabra Alada, o nome já está dizendo: “fantástico”. Isso porque ao invés de ter a origem na senzala ou nos terreiros, o Cabra Alada começou em 1995, reunindo um grupo de profissionais liberais e integrantes e ex-integrantes do Nação Pernambuco.  Neste, o cortejo segue o modelo tradicional, com estandarte, rei, rainha, vassalos, baianas, calunga (figura mítica). No caso do Cabra Alada, a diferença fica por conta dos “orixás” transportados pelos integrantes do grupo, que são representados  por bonecos do tamanho do calunga conduzido no maracatu tradicional. O Cabra Alada tem, também, personagens que foram incorporados ao cortejo, como Nossa Senhora do Rosário, Bispo, Ventania, Cabra e Feiticeiro, que têm tudo a ver com a “lenda” que norteia a criação do grupo.

O Maracatu Fantástico Cabra Alada possui 130 integrantes e é um dos mais bonitos do nosso carnaval

Na verdade, o Cabra Alada surgiu durante a comemoração de aniversário do seu criador, o artista plástico João Neto, um dos fundadores do Nação Pernambuco, do qual nunca se desligou totalmente. Ele queria criar um grupo, para sair na quarta-feira de cinzas. Deu no que deu. “Temos tudo que um maracatu tradicional possui, inclusive os mesmos instrumentos”, afirma o artista. Mas para “fundamentar” o surgimento do maracatu, foi criada, claro, uma história que tinha que ser…. fan-tás-ti-ca. E ela é assim: era uma vez um bispo que tinha um papagaio que voava sobre as torres das igrejas de Olinda. Mas uma ventania o afastou para o Sertão, onde ele chegou com as asas quebradas. Na caatinga, fez amizade com uma cabra que ouvia, encantada, as histórias do carnaval de Olinda. Fascinada pela festa, a cabra teve uma ideia. Pediu ao feiticeiro que lhe desse asas para conduzir o papagaio de volta. Como o feiticeiro tinha uma dívida com a cabra, atendeu de imediato. Ela teria lhe dado leite, em um momento em que ele estava muito doente.

Atualmente, o Cabra Alada faz a festa dos foliões do Recife e de Olinda, com seu cortejo de 130 integrantes. Possui os mesmos instrumentos do maracatu tradicional, embora – claro – não mantenha obrigações religiosas como os maracatus mais ortodoxos do tipo nação (ou de baque virado). O nome cabra alada veio das cabras que o artista contemplava na fazenda da família, em Timbaúba (Zona da Mata de Pernambuco) e também de  registros mitológicos, como o touro alado, da antiga civilização da Mesopotâmia. “De repente, surgiu o nome cabra alada”, lembra ele. O grupo já fez apresentações fora de Pernambuco, porém não consegue atender a todas solicitações. “Muita gente trabalha e não dá para compatibilizar os compromissos profissionais com o do Cabra Alada”, diz o fundador. Mas no carnaval, felizmente, todo mundo está livre. E o maracatu é festa.  Anote: no Recife, ele sai no domingo (23) e na terça (25). A concentração é a partir das 15h na Rua da Guia.

Veja o vídeo do Maracatu Fantástico Cabra Alada,enviado pelo leitor Denaldo Coelho:

 

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos e video: Denaldo Coelho / Grupo Preservar Pernambuco / Cortesia

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