Relíquia entre os colecionadores de automóveis antigos – não há uma mostra sobre o tema em que ela não apareça – a Rural Willys ainda faz a festa em Pernambuco e na Bahia. No nosso estado, quem não conhece o famoso “Som na Rural“, que percorre o Brasil de Norte a Sul, com o veículo comandado pelo agitador cultural Roger de Renor? Em Salvador, vi circulando o que, pelo menos para mim, foi novidade: “Rural Elétrica Patativa”.
Com muitas luzes e com programação musical que geralmente valoriza os artistas pernambucanos, o “Som na Rural” tem esse nome por conta da marca do icônico veículo, ano 1969, que é usado para shows e que já viajou até a São Paulo, para participar de eventos em praças. Chegou a marcar presença, também, na famosa Virada Cultural, que movimenta anualmente a Pauliceia. Pelo “Som na Rural” já passaram artistas como Crioulo, Otto, Mombojó, Maciel Melo, Lirinha, Zé Brown, DJ Dolores, Silvério Pessoa, Alceu Valença, entre outros.
O modelo Rural Willys foi fabricado pela Willys Overland nas décadas de 1950, 1960 e 1970, quando passou a ser produzido pela Ford do Brasil, que comprou a fábrica da Willys em 1967. O utilitário virou símbolo de força e resistência em estradas barrentas, esburacadas tão comuns naquela época, principalmente as que levavam a sítios, fazendas e engenhos. Mas a Rural foi se urbanizando tomou espaço nos corsos de carnaval, na ida às praias, veículo em que tudo cabia para piqueniques, e levava famílias ao cinema, nos finais de semana. Virou cult.
O veículo era tão resistente que atravessou o século 20 e entrou no 21 como relíquia de colecionadores. O que ninguém previu é que, mesmo fora de série, o icônico utilitário ainda estivesse nas estradas e que se transformaria em palco ambulante nos dois estados. A de Roger, no entanto, roda. E muito, levando o som feito em Pernambuco a outras regiões, sempre em parceria com Niltinho Pereira, responsável, também, pela documentação fotográfica e em vídeo das jornadas da dupla, que também abre espaço para cantores de outros estados. Pois não é que no Pelourinho encontrei uma outra Rural nos festejos juninos… Na verdade, não um “Som na Rural”, mas a “Rural Elétrica Patativa”, que circulava pelas ruas da cidade alta, em Salvador, puxando uma carroça com bandinha de forró.
No Recife, perguntei a Renor se ele conhecia a “irmã” de Salvador. Sim, ele conhece. “De vez em quando, alguém me envia uma foto dessa Rural. Ele (o dono) é músico baiano e reboca um mini trio que é um sucesso na Bahia, né?”, informa. Ao contrário do “Som na Rural”, a “irmã” da Bahia não é tão feérica, iluminada e cheia de charme e história, quanto a comandada no Recife por Renor, que sempre esteve mostrando com antecipação os novos artistas da cena musical pernambucana. Foi no seu saudoso bar Soparia, por exemplo, que se revelou o manguebeat. A “Rural Elétrica Patativa” é adesivada com decoração que remete à cultura popular, via xilogravuras. E realmente, puxava uma carroça, como diz Renor. Na carroça, uma bandinha de forró, quando me chamou a atenção, quando eu passeava em junho pelo Pelô.
Só não sabemos se a “Rural Elétrica Patativa” foi inspirada no “Som na Rural ” de Roger, ou no trio elétrico de Dodô e Osmar. O que você acha?
No vídeo abaixo, você confere a Rural Elétrica Patativa, nas ruas de Salvador
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos e vídeo/ Salvador: Letícia Lins/ #OxeRecife; Zé de Holanda / Som da Rural