No Canal do Arruda, não tem “limpeza” que dê jeito: Esgoto a céu aberto e lixão o tempo todo

As margens são até arborizadas. Embora o ex-Prefeito Geraldo Júlio (PSB) tenha cogitado em derrubar pelo menos cem, para implantar uma ciclovia beirando o Canal do Arruda, no bairro do mesmo nome. É aquele ali das foto acima, que é um esgoto a céu aberto e mais parece um lixão. A gritaria foi tão grande contra a erradicação das árvores, que até os ciclo ativistas ficaram contra o traçado da ciclovia por conta do que seria arboricídio coletivo. Um dia, todas as árvores marcadas para morrer amanheceram amarradas com fitas vermelhas. Um alerta. .

Então, as margens do Canal do Arruda permanecem arborizadas e sem ciclovia. Nelas, há plantas que sobrevivem há décadas no local. Mas o seu leito… Parece não ter jeito.É um mar de detritos – garrafas, latas, plásticos, pedaços de madeira e isopor, pneus velhos, tudo que se possa imaginar – o que constitui uma vergonha para os recifenses e um atentado contra a natureza. Dos canais, esse acúmulo de lixo desce para os rios. E de lá termina no Oceano e, em consequência, em nossas praias. Não é difícil, portanto, que estejamos no saudável banho de mar e nos defrontemos com plásticos, garrafas pets, embalagens de salgadinho boiando.

As margens são até arborizadas, porém o Canal do Arruda virou um lixão com esgoto a céu aberto. Um horror!

Lembro que houve uma gestão, a de João Paulo (PT) – se não me engano – que chegou a colocar barreiras nos canais, para evitar que todo esse lixo fosse transportado para rios e mar. Estudantes da rede pública também já criaram uma rede feita com garrafas PET, para segurar o lixo nos canais.  A experiência foi até mostrada no exterior. Mas ficou só mesmo na invenção. As PETs, como se sabe, são os grandes vilões da natureza, principalmente  de córregos, canais, rios, mares. E são um problema não só do Recife, mas em todos os continentes.

De acordo com o Prefeito João Campos (PSB), nada menos de 20 por cento de todo o lixo coletado da cidade vem dos canais. E a julgar por esse quadro das fotos, nada mudou. Nem mesmo depois de recentes inovações na coleta de lixo do Recife, anunciadas no mês passado. Foi divulgada a renovação da frota, assim como lançamento de campanha “Lixo Zero”, e atividades como gincana de recicláveis, lixômetro, operação cata-tralhas. As atividades duraram apenas uma semana.  Mas… cadê o resultado? Do jeito que faltam a educação doméstica e a ambiental no Recife, aquele tipo de iniciativa tem que ser permanente. Uma semana só, sinceramente, não dá em nada. E o Canal do Arruda é a mais triste prova do que estamos afirmando.

Convém salientar que todos esses canais que foram transformados em esgotos a céu aberto, no passado, eram riachos, que funcionavam como afluentes de rios maiores como o Capibaribe e o Beberibe. Conversando com moradores antigos de margens de outros canais – com o Jordão (em Boa Viagem) e o Guarulhos (no Jardim São Paulo) – eles relatam que chegaram a conviver com águas limpas, a fazer pescaria e até a lavar roupas usando as suas águas. No Guarulhos, as famílias utilizavam suas margens como área de lazer aos domingos, fazendo inclusive piqueniques. No “Rio” Jordão, como chamam os mais antigos, as mulheres usavam suas águas para ajudar no orçamento familiar com lavagem de roupa. Vai ver hoje, para que serve a água de lá….

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Foto do Leitor / Genival Paparazzi/ Agência G.F.V Paparazzi

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