Paulo Freire vive. Ignorado e criticado no governo do ex-capitão – que não se envergonha de achar que clube de tiro é mais importante do que livro – o educador Paulo Freire vive em nossos corações e pelo mundo, onde seus ensinamentos perduram para sempre. Paulo Freire Vive! , aliás, é o título do livro que será lançado às 18h30m da sexta-feira (05/08) no Sítio Trindade, no bairro de Casa Amarela, ainda dentro das comemorações do centenário do autor de Pedagogia do Oprimido e Educação como Prática da Liberdade. Paulo Freire nasceu em 1921 e morreu em 1997, após regressar do exílio político.
A escolha do local para lançamento do livro não é em vão. O histórico Sítio Trindade foi palco de resistência contra os holandeses no século 17 e dessa época ainda restam ali ruínas de um forte de terra, porém não muito valorizado pelas nossas autoridades. É até desconhecido por grande parte de nossa população. Na última vez que estive lá, nem sinalização turística havia sobre a relíquia. O Sítio foi, também, sede do famoso Movimento de Cultura Popular (MCP) nos anos 1960 do século passado. O MPC foi sufocado durante a ditadura implantada em 1964,quando seus líderes foram perseguidos e até presos pelos militares. O Sítio foi invadido pelos milicos, depredado e o material pedagógico foi apreendido como “prova de subversão”. Na época, artistas como Ariano Suassuna, Abelardo da Hora, Francisco Brennand, Luiz Mendonça participavam do MCP, contribuindo com seus trabalhos para reforçar o uso da arte na disseminação os ensinamentos de Paulo Freire.

Após o desmantelo do núcleo “subversivo”, forças militares chegaram a circular em 1964 com tanques de guerra na região. Ou seja, os armados – pelo que se vê – temiam os desarmados. As ideias podem ser perigo maior que o dos fuzis, pelo que se vê. Hoje, no governo Bozó, elegeu a metodologia Paulo Freire como inimiga da educação, usando o bordão para disseminar a alienação política nas escolas. Em 2022, a Prefeitura do Recife anunciou que o Sítio Trindade vai funcionar como Memorial da Democracia, abrigando inclusive todos os documentos do Instituto Dom Helder Cãmara, o Dom da Paz, cujo nome encontra-se em processo de canonização no Vaticano. Dom Helder lutou contra a ditadura, denunciou torturas e fez o que pode em defesa dos direitos humanos. Como Paulo Freire, dedicou a vida à defesa da liberdade. Se acontecer, o Sítio passa a ser atração turística internacional já que o Dom sempre foi reverenciado não só no Brasil, como também no exterior.
Após o golpe de 1964, Paulo Freire teve que viver fora do Brasil, retornando só com a anistia. Porém o país nunca o esqueceu. Tem até estátua em área pública, como ocorre no campus da Universidade Federal de Pernambuco. O livro Paulo Freire vive! tem 412 páginas e edição bilíngue (português e espanhol). A publicação sistematiza experiências baseadas nos métodos do educador no Brasil, Argentina, Uruguai, Colômbia, Equador e Peru. São depoimentos que abordam a segunda fase da Campanha Latino-Americana e Caribenha, realizada de 2019 a 2020, com o objetivo de aprofundar a compreensão do papel da cultura popular nas ações organizadas, e de acordo com as necessidades das particularidades regionais. Durante o lançamento da publicação haverá boneco gigante do educador, atrações culturais, recitais, exposições fotográficas, apresentações de grupos da cultura afro e reggae.
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife