Mamulengueiros tradicionais se rendem ao mundo virtual

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Quem não se lembra das festas de rua de antigamente, onde não faltava nunca um teatro de fantoches? Eles estavam presentes nos arraiais, nas quermesses, nos aniversários infantis e praticamente em todos os eventos nas praças do interior. Com o passar do tempo, foram rareando principalmente na capital. Mas em Glória do Goitá, os mamulengos são uma espécie de marca registrada. Aliás, se confundem com a identidade do município, localizado a 63 quilômetros do  Recife.

“Aqui é a capital estadual do mamulengo”, afirma Pablo Vinícius Dante Alves, Diretor do Museu do Mamulengo de Glória do Goitá e também Presidente da Associação Cultural de Mamulengueiros e Artesãos de Glória do Goitá, entidade que está comemorando aniversário nessa sexta-feira, já que foi fundada no dia 7 de maio de 2003.  A data também é considerada, como aquela em que foi criado o Museu do Mamulengo de Glória do Goitá, embora alguns sites oficiais digam que ele foi “fundado  em 2010 e que em 2011 já figurava nos roteiros turísticos do estado”. A data oficial da criação da Associação e do Museu, agora, é uma só: 7 de maio de 2003.

Isso porque o espaço físico com os bonecos para visitação já existia bem antes de 2010. Naquela  época, no entanto, o local  não era ainda chamado de museu. Em 2019, o Museu do Mamulengo chegou a receber mais de 3 mil visitantes, funcionando como uma espécie de vitrine para os artistas da terra. Mas a pandemia tem imposto uma série de dificuldades não só à entidade, como aos artistas que vivem dessa arte popular, o que obrigou o Museu a se  que se reinventar. Por esse motivo, realizou o Feirão do Mamulengo, em novembro do ano passado. O Museu e a Associação se juntaram para realizar o evento, com a participação de mais de 20 artesãos locais, como Mestre Bila (foto maior). Mas foi tudo de forma virtual.

“Criamos um catálogo de peças para venda pela Internet, já que o setor cultural foi muito afetado”, diz Pablo. O Feirão, segundo ele, foi um sucesso. “Em quinze dias vendemos R$ 10 mil, o que garantiu o Natal de artesãos e mamulengueiros”. Em 2021, o Museu e a Associação vão repetir a dose. O Feirão voltará a ser realizado, provavelmente entre os dias 16 e 30 de junho. O evento ficará no calendário do setor.  Pois os artesãos do município não pretendiam participar mais da Fenearte, mesmo que a maior feira de artesanato da América Latina ocorresse em 2021. Em 2020, a edição foi suspensa, devido à pandemia. “Participar da Fenearte ficou difícil para os artesãos, pois o espaço é caro, as despesas com refeições também, e o negócio foi ficando inviável”, diz Pablo.

Ele informa que o catálogo virtual tem 100 peças de cerca de 24 artesãos que formam a Associação. Os bonecos custam a partir de R$ 35, e podem ser utilizadas em atividades educativas, em escolas, organizações comunitárias e também são muito solicitadas por arquitetos como peças decorativas. Tem de tudo, monstros, fiscais, moças bonitas, caboclos de lança, bois e figuras, enfim, personagens que povoam o imaginário popular e o mundo mágico dos bonecos.

A sede da Associação fica no mesmo prédio onde está instalado o Museu do Mamulengo de Glória do Goitá, na Rua Cleto Campelo, S/N, no centro da cidade.  No prédio, funcionava um antigo mercado de farinha de mandioca, um dos principais produtos agrícolas do município. Segundo os artistas e artesãos, o setor contou com dois grandes incentivadores que passaram pela Prefeitura de Glória do Goitá: Fernanda Paes (1935-2010),  que foi Prefeita do município entre 1997 e 2004. O outro é Djalma Paes, filho de Fernanda,  e que hoje é Presidente da Agência Estadual do Meio Ambiente (Cprh).  Os dois são considerados pela categoria como grandes amigos dos mamulengueiros. Djalma chegou a incentivar a presença do teatro popular e seus artesãos nas atividades escolares da rede pública.

O Museu possui um acervo de cerca de 400 peças, 250 das quais estão sempre em exposição permanente. E elas representam o melhor do que é feito na cidade que já nos deu tantos mestres do Teatro Popular de Bonecos do Nordeste, que é reconhecido desde 2015 como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Iphan. É portanto uma arte que precisa ser preservada e tratada com carinho.

Um  carinho que, no entanto, nem sempre chega das autoridades competentes, que desconhecem a importância dessa manifestação popular. Além do Museu do Mamulengo de Glória do Goitá, Pernambuco tem outro Museu do Mamulengo, que funciona no Mercado Eufrásio Barbosa, no bairro do Varadouro, em Olinda. Ambos, no entanto, estão com suas atividades prejudicadas em virtude da pandemia.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Museu do Mamulengo de Glória do Goitá / Internet

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