Sessão Recife Nostalgia: Mais um chalé demolido na nossa cidade

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Estão vendo esse lindo chalé aí acima? Não existe mais. Apesar de belo, típico mesmo das construções românticas que tomaram conta do Recife no início do século passado, ele foi demolido por uma construtora. O que é uma pena. Ficava na Estrada de Belém, mas faltou sensibilidade à incorporadora para manter de pé essa edificação tão significativa. Nada contra o desenvolvimento. Mas custa nada preservar nossa memória arquitetônica? É só ter um pouco de boa vontade com relíquias como esta, que não poderia ter sumido do mapa.

Há alguns dias, publiquei aqui uma postagem sobre os velhos chalés do Recife, aqueles que lembram as casas dos avós na nossa infância. Tinham terraços, varandas, arabescos nas janelas e também quintais imensos com fruteiras. Nos jardins, três flores que jamais faltavam eram a rosa, o jasmim e a rainha da noite, que perfumavam o ambiente em volta. No domingo, fui presenteada pelo amigo Bráulio Moura, com um turbilhão de fotos de chalés. De vários cantos da cidade e também de Olinda.  “Para acrescentar ou continuar a matéria dos chalés”, sugeriu. Continuar o assunto, claro. Entre as fotos enviadas, aparecem chalés como este, cinza, com dois pavimentos. Está bem conservado, e funciona na Rua Velha, no Bairro da Boa Vista. Para mim foi uma surpresa, pois não lembrava dessa edificação naquela via, onde  os imóveis não tão conservados.

Ele também enviou uma outra foto, do antigo Hospital Magitot, que fica na Várzea e que está praticamente desabando. O prédio, belíssimo,  também é em estilo chalé. Fica em um terreno enorme que poderia virar uma área de lazer, uma espécie de extensão da Praça Pinto Damaso,  que é bastante frequentada. Mais conhecida por Praça da Várzea, ela é um dos famosos projetos do paisagista Burle Marx no Recife. Porém sofreu descaracterização, com construções como academia de ginástica e instalação de equipamentos para educação física. Todos esses equipamentos modernos poderiam ter sido instalados no grande terreno onde fica o Magitot, que funcionou como o primeiro hospital especializado em odontologia da América Latina. A antiga sede poderia virar um museu. Ou um centro cultural.

Mas, infelizmente, a situação do Magitot é cada dia pior.  Como acontece com outras edificações do gênero, como o Chalé do Prata, em Dois Irmãos. Turismólogo e historiador, Bráulio é uma pessoa que sempre consulto, quando tenho uma dúvida sobre nossa cidade. Ele é um dos responsáveis por muitos dos roteiros turísticos do Programa Olha! Recife, que realiza passeios a pé, de ônibus ou de barco para que as pessoas –  moradores ou visitantes – conheçam melhor a cidade. Os passeios são gratuitos. Também criou o Recife Sagrado, através do qual  as pessoas visitam nossos templos, com direito a guias. Infelizmente está tudo parado, devido à pandemia. Mas Bráulio não para. Está sempre procurando novidades para novos roteiros,quando a situação se normalizar.

Sobre os chalés, diz ele:

“Estilo de construção que marcou época, de inspiração romântica e que  acabou influenciando casas residenciais menos abastadas, de tradição vernacular, como a que vivi na infância com minha avó, na Bomba do Hemetério, seguindo esse modelo construtivo, com alpendre e calçada alta. Símbolo de um jeito de morar que se conectava com o quintal e a rua, que evoca sensação de conforto, afeto e tradição. Para quem olha uma casa dessas, uma estranha  força abraça o observador, como cafunés de avó que nas pontas dos dedos dizem em carícias: aqui é um lar”.

Bráulio lembra, também, que o chalé onde a avó morava, tinha quintal grande com muitas fruteiras, como era comum no passado. “Havia um salão no meio, desses que no Sudeste chamam gafieira, mas lá era o Clube da Sombra”. Sombra, aliás, cada dia mais difícil com os cortes das árvores e o avanço cada vez maior da selva de concreto. Veja, na galeria abaixo, alguns dos chalés sobreviventes do Recife e de Olinda:

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Bráulio Moura / Cortesia

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