Livro mostra a rica vida cultural do Recife: teatros, óperas, companhias estrangeiras do passado

Houve época em que o Recife possuía uma profusão de teatros: Santo Antônio, Santa Isabel, Philodramático, Cine-Teatro Helvética, Teatro Moderno, Teatro do Parque, Cine-Teatro Polytheama, entre outros. Com tantos palcos, a capital pernambucana tinha uma vida cultural intensa, chegando a receber grandes nomes da cena musical como Carlos Gomes e Villa-Lobos. Por aqui também passavam companhias estrangeiras e até de operetas judaicas. As óperas movimentavam os palcos, mas o marco da produção lírica recifense foi Berenice, com música de Valdemar de Oliveira e libreto de Nelson Paixão.

No século 19, a ópera ganhou espaços públicos como arte coadjuvante do teatro. Mas antes, árias famosas eram executadas durante os intervalos das comédias no Teatro Público ou Casa da Ópera. Também chamado de Capoeira, o teatro foi o primeiro construído em Pernambuco, ainda  em 1777. Durante meio século, funcionou como centro cultural do Recife, e era frequentado tanto pela aristocracia quanto pelas classes populares, o que não deixa de ser curioso, já que naquela época a sociedade era bem estratificada. Às vezes, a balbúrdia na plateia era tão grande, que as apresentações eram suspensas. Essas e outras informações curiosas fazem parte do livro  Ópera no Recife: Vozes, Bastidores, Espectadores, dos historiadores Karuna Sindhu de Paula, Felipe Azevedo e Souza, e Sérgio Deslandes.

Óperas como Carmen (foto superior), Dom Giovani (foto central), Traviata e operetas movimentaram os palcos do Recife

Publicado  pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) em parceria com a Titivillus Editora, o livro será lançado às 19h dessa quinta-feira (10/11), no Museu do Estado, no bairro das Graças.  E resulta de intensa pesquisa, trazendo um panorama da produção operística e musical erudita na cidade, principalmente entre os séculos 19 e 20. Para os autores, nossa cidade foi um importante centro cultural  do continente americano e por onde passaram dezenas de companhias europeias. Um lembrete do #OxeRecife: a movimentação era tão grande, que o Teatro do Parque, por exemplo, integrava um complexo que incluía hotel, onde se hospedavam companhias estrangeiras. O livro resgata história, protagonistas, personagens e traz até ilustrações e folhetos sobre óperas apresentadas no Recife. Diz Felipe Azevedo:

A agitação da ópera no Recife criou um intenso intercâmbio entre artistas estrangeiros e nacionais, movimentou a economia de produtos de luxo, a oferta por aulas de canto, aguçou debates estéticos e morais, ativou disputas políticas. Aliás, o teatro era por excelência o lugar de agitação de ideias e as luzes da ribalta eram disputadas por quem queria se manifestar – teatro e política andavam de mãos juntas.

A publicação pela Cepe e Trivillus é a segunda edição de Ópera no Recife: Vozes, Bastidores, Espectadores. A pesquisa foi financiada pelo Funcultura em 2016, virando em seguida um livro. Não contemplado no edital, o título foi publicado com pequena tiragem  e esgotou-se em curtíssimo tempo.  E, como não poderia deixar de ser, a noite de autógrafos será contemplada com apresentação de Emparedadas, ópera de um ato livremente inspirada no romance A Emparedada da Rua Nova, de Carneiro Vilela (1846-1913), um dos clássicos da literatura pernambucana e que terminou virando lenda urbana. Como se sabe, o romance conta a história de uma jovem que é emparedada pelo pai, ainda viva, quando ele descobre que a moça está grávida do amante da mãe. A ópera de hoje contextualiza uma temática bem atual: o feminicídio.

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Serviço
Evento: Lançamento do livro “Ópera no Recife” e apresentação da ópera “Emparedadas”
Onde: Museu do Estado de Pernambuco
Endereço: Avenida Rui Barbosa, 960, Graças
Horário: 19h
Quanto: acesso gratuito
Preço do livro: R$ 35 (impresso) e R$ 14 (E-book)

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação / Cepe

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