O “Hotel do Parque” sem memória

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Se tem um dia bom para se conhecer melhor o centro do Recife, esse dia é o domingo. Foi por isso que no último final de semana, decidi deixar a praia de lado e enfrentar um passeio do Projeto Olha! Recife. A cidade parecia outra, diante da grande diferença entre o tumulto dos dias úteis e a tranquilidade do domingo, com calçadas vazias, o trânsito vagaroso em ruas e avenidas. E a gente termina achando surpresas difíceis de se perceber na correria do resto da semana. Uma dessas encontrei na Rua do Hospício, bem pertinho ao Teatro do Parque. É esse belo edifício da foto, onde no passado funcionou o Hotel do Parque. Vejam que coisa interessante, pois ele foi construído para hospedar companhias que vinham se apresentar naquela hoje secular casa de espetáculos.

Fiquei apaixonada pelo edifício que é lindo.  E também pela sua história. Se não estou enganada, no passado cheguei a subir suas escadarias, para almoçar em um restaurante, que funcionou ali durante longo tempo, e que foi um dos pioneiros da cozinha chinesa no Recife. Mas nunca  tinha observado que ele se chamava Hotel do Parque, nem detalhado sua arquitetura, as portas, os janelões. Me senti curiosa a respeito desse “complexo” do início do século 20.  Até imaginei a indumentária dos artistas – atores, atrizes, músicos – daquele tempo, na recepção do Hotel.  Soube que tanto o Teatro quanto o Hotel foram um plano ousado de um comendador português Bento Luiz Aguiar, que queria  reproduzir no Recife um conjunto de equipamentos para turismo e lazer, parecidos com os de sua terra.

E assim o fez. Infelizmente, o Teatro do Parque está fechado. Aliás, em obras, segundo informa a Prefeitura. E o antigo hotel, devido à insensibilidade dos comerciantes e à omissão de nossos governantes, teve o andar inferior totalmente reformado. Para pior, claro. Ou seja, o térreo está totalmente descaracterizado. A reforma na fachada, no entanto, em nada contribuiu para aumentar o espaço da loja ali instalada. Ou seja, a loja poderia funcionar sem “profanar”  a arquitetura do prédio. Felizmente, o primeiro e o segundo andar estão preservados. Indaguei à Secretaria de Cultura do Recife  se o prédio é tombado. Ou se conta com algum outro tipo de proteção especial. Infelizmente ele não consta de nenhuma lista que lhe garanta a sobrevivência arquitetônica, o que é uma pena. “O prédio onde funcionava o hotel questionado na pauta faz referência ao conjunto que era composto também pelo Teatro do Parque”, informa o Gabinete de Projetos Especiais da Prefeitura, que cuida também da reforma do Teatro do Parque.

“Em 1959, ainda na gestão do prefeito Pelópidas Silveira, parte do conjunto foi desapropriado, passando o Teatro do Parque a ser um equipamento cultural público de responsabilidade municipal”, acrescenta Anna Paula Novaes, que responde pelo Gabinete. “O prédio onde funcionava o hotel é de propriedade privada. Assim, sua conservação é de responsabilidade do proprietário do imóvel. Diferente do Teatro, o imóvel citado não é classificado como Imóvel Especial de Preservação, tendo suas características originais modificadas ao longo dos anos”, diz. É uma pena que isso aconteça. Porque se o Teatro e o Hotel eram um conjunto, fazem parte de uma mesma história, e tinham ambos que contar com  leis que garantissem a preservação dos dois prédios. Infelizmente, o Recife pouco cuida de sua memória.

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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife 

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