E não é que os jardins filtrantes do Parque do Caiara do Recife viraram tema de tese de doutorado na Universidade Federal de Pernambuco… A iniciativa é da doutoranda Simone de Paula, que na sexta-feira (17/1) apresenta os resultados de sua pesquisa em palestra a ser realizada na Escola Municipal da Iputinga (EMTI), para os moradores daquele bairro da Zona Oeste do Recife. O evento será aberto ao público. O que é bem interessante, já que muitos trabalhos acadêmicos ficam restritos aos ambientes onde foram produzidos. Em linguagem coloquial e acessível, a doutoranda terá um reencontro com a comunidade local que contribuiu para seus estudos, no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (Prodema) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Os moradores do entorno do Parque do Caiara terão informações antecipadas sobre o resultado da tese “Biotecnologia Wetland Paisagística Como Elemento de Requalificação Urbana” , já que o trabalho ainda está em vias de apresentação na UFPE. Posteriormente será depositado na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFPE. Durante a gestão do Prefeito Geraldo Júlio, o Parque do Caiara esteve abandonado. Faltava tudo: equipamentos, brinquedos e, principalmente, o verde acolhedor. Eu, por exemplo, já presenciei cavalos e vacas na área destinada à comunidade, atraídos pelo grande matagal em que o Caiara se transformara. Dava até medo ir lá. Mas da última vez que o visitei, durante uma das caminhadas que realizo, a situação era diferente. Havia canteiros floridos e vegetação exuberante, devido aos jardins filtrantes ali implantados, aproveitando as águas do Riacho do Cavouco, que tem sua nascente perto do campus da UFPE.
Simone vai explicar à comunidade que as chamadas “wetlands” construídas são reproduções de sistemas de lagoas naturais”. O termo em inglês designa áreas úmidas (naturais ou artificiais) que funcionam como áreas terrestres e aquáticas. No caso do Caiara, trata-se de “wetland” artificial, através de projeto para tratar águas residuais. Os jardins filtrantes foram implantados em 2023, na gestão João Campos, através de parceria com vários órgãos nacionais e internacionais. A tecnologia lá utilizada se inspira em áreas de terras úmidas como manguezais e pântanos, importantes para manutenção da biodiversidade e proteção das áreas costeiras. As wetlands são elaboradas a partir de um conjunto de procedimentos biotecnológicos e podem contribuir para a despoluição de rios, lagos e outros corpos hídricos.
A pesquisadora pontua que “ao contrário das estações de tratamento de esgoto (ETE) convencionais, nesse sistema não há lodo para ser tratado e a biomassa proveniente das plantas pode ser reutilizada como adubo”. E complementa: “Se o sistema for aplicado adequadamente, os efluentes das wetlands podem atender às exigências da resolução Conama nº 357, de 17 de março de 2005, quanto ao lançamento de efluentes e controle de nutrientes”. Na tese, Simone apresenta informações sobre planos de recuperação feitos em diversas partes do mundo, como o do Rio Cheonggyecheon, na Coreia do Sul; o do Rio Sena, na França; o do Rio Los Angeles, nos Estados Unidos; e ainda do Rio Medellín, na Colômbia até chegar à parte específica do Rio Capibaribe.
O Capibaribe, como se sabe, passa por 42 municípios pernambucanos, incluindo o Recife E é às margens dele, que encontra-se o Parque do Caiara. “O Brasil é um país que oferece excelentes condições climáticas e ambientais para a implantação desse tipo de biotecnologia, especialmente na região Nordeste, onde a irradiação solar é constante durante quase todo o ano, favorecendo o processo fotossintético das macrófitas [plantas aquáticas]”, diz Simone. “A utilização de sistemas de alagados artificiais pode ser uma medida viável e complementar à tecnologia tradicional para despoluição de corpos hídricos, auxiliando no processo de saneamento universal”, complementa.
Sugestão do #OxeRecife: Cá para nós, bem que o Parque da Macaxeira, que no verão parece um areal, poderia ganhar jardins filtrantes, com águas do Açude de Apipucos ou mesmo do Capibaribe, que passam tão pertinho. O que vocês acham?
Além de observar a situação em que se encontrava esse parque urbano, Simone também tem como objetivo da tese apontar sugestões para o projeto de requalificação do espaço público em questão, ouvindo a comunidade. A tese inclui projetos de arquitetura complementares, como um anfiteatro à beira do Rio. “Espero que possamos mostrar os resultados da pesquisa e a nossa contribuição social para além dos muros da universidade”. Que bom! Quanto mais próxima da comunidade, mais a universidade se fortalece no alcance de seus objetivos.
Nos links abaixo, você confere mais informações sobre jardins filtrantes e, também, sobre parques alagáveis.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins (Acervo #OxeRecife), Simone de Paula (UFPE) e Redes Sociais