Meu Deus, já faz um mês que tivemos a última edição das Caminhadas Domingueiras e já vem outra por aí. É que o nosso último roteiro ficou entre a Cidade Universitária e o Parque do Caiara (na Iputinga), uma vez que o tema do passeio comandado pelo arquiteto e urbanista Francisco Cunha era o percurso do Riacho do Cavouco e teve por finalidade mostrar a tecnologia dos chamados jardins filtrantes, que servem para limpar os cursos d´água. O roteiro saiu do campus da UFPE (onde fico o Laguinho, a nascente do Cavouco) até o Caiara ( onde o riacho deságua, no Rio Capibaribe). O riacho é alvo da primeira experiência de jardins filtrantes do Recife. Eles servem para limpar os cursos d´água. Fomos seguindo pelas margens do mais importante riacho da Zona Norte, mas que virou um canal. Ou melhor, um esgoto a céu aberto como, aliás, todos os canais do Recife, já que a cobertura de saneamento cidade não passa de 44,99 por cento. Ou seja, sanear é preciso. Urgentemente. Jardins filtrantes constituem uma excelente iniciativa. Porém, com a carga que os nossos rios recebem e ter um só, é chover no molhado, não é? Isto enquanto a cidade não tiver um esgotamento sanitário decente, compatível com as necessidades do século 21.
Em todo caso, vale a experiência. E também a intenção. A implantação dos jardins filtrantes custou R$ 8 milhões aos cofres públicos. E a técnica, que não é cabocla – mas sim francesa – consiste em purificar águas poluídas, para que estas desemboquem mais limpas em um rio ou no mar. O sistema foi criado pelo arquiteto e paisagista Thierry Jacquet. Em Paris a tecnologia ganhou estrutura gigantesca e já faz sucesso. Tanto é assim, que as águas do Rio Sena foram consideradas aptas para provas de natação em competições olímpicas, em 2023. Será que o Capibaribe seria aprovado? Com certeza, não. Em 2025, o Sena deverá dispor de três balneários, onde as pessoas poderão mergulhar, nadar. E no Capibaribe, quando isso acontecerá? Como se sabe, por dia, os rios pernambucanos recebem o equivalente a 208 piscinas olímpicas de esgoto. Dá para acreditar?
Nesta semana, o Prefeito João Campos (PSB) postou em suas redes sociais um vídeo descrevendo o sistema, que “faz tratamento natural de água suja, passando por vários lagos” que permitem a manutenção dos “mais bonitos jardins do Recife”. É verdade, o Parque do Caiara, antes um imenso areal, agora possui jardins floridos (foto superior), justamente nas terras úmidas que ficam sobre as lagoas subterrâneas que ajudam na limpeza da água poluída do riacho. Os jardins filtrantes foram implantados com recursos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, via CITIinova e têm capacidade para limpar 360 mil litros de água por dia. É melhor do que nada, mas é muito pouco diante da carga de esgoto que nossos rios e canais (ex-riachos) suportam.
Por conta da umidade, as plantas estão sempre em bom estado, floridas, o que é raro nos parques do Recife. O que chama a atenção, no entanto, é que o Parque do Caiara ficou muito bonito após a reforma e a implantação dos seus jardins filtrantes, porém estava praticamente vazio, quando o visitamos. Não havia público, o que é estranho para um domingo ensolarado, como o que lá estivemos. Não tinha gente. Praticamente só o nosso grupo. Ao contrário do que ocorre, nos mesmos horários, em parques como o da Jaqueira, o de Santana e o das Graças, que são verdadeiros formigueiros. Enfim, o que está acontecendo com o Caiara, apesar dos seus jardins floridos? Temor devido à falta de segurança? Ou o parque ainda não foi descoberto (ou redescoberto) pelos recifenses?
Lembrete: Domingo que vem (29/10) tem mais uma edição das Caminhadas Domingueiras. Tendo como tema “De Fernandes Vieira a Francisco Brennand – Caminhada pela Várzea do Capibaribe que poucos conhecem”. Saída: 8h, em frente ao Centro de Convenções da UFPE. Não é preciso fazer inscrição.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins e Internet
Olá, gostei muito da ideia e mais ainda da execução dos Jardins Filtrantes. Sobre ter ninguém no domingo em que foram lá: a população do entorno é completamente diferente. As pessoas do local por anos, acostumaram a fazer dali e das redondezas um lugar de bater bola. Era um público jovem e masculino quase que exclusivamente. Pessoal de outras localidades têm medo de ir pelo histórico da comunidade do Caiara.
Aproveito para daqui ( não sei de uma forma mais direta) sugerir ao prefeito a implantação de jardins de chuva. Estes iriam evitar alagamento em vários pontos do Recife, na CDU por exemplo. Em São Paulo tem exemplos de compravadas eficácias. É visitar e ver.
Obrigada Recife. Muito oportuno comentário.