Inspirado na realeza, bolo de noiva pode virar patrimônio imaterial de Pernambuco

Ele está para os salões de festas de casamento como a tapioca para os tabuleiros que ficam nas ruas. Isso em Pernambuco, onde é presença obrigatória nas comemorações dos enlaces. Há estados onde a massa dos bolos de noiva até lembra o pão-de-ló. Mas no nosso, além da massa, a iguaria leva frutas secas e vinho. Não é à toa, portanto, que esteja a caminho de se tornar Patrimônio Cultural Imaterial de Pernambuco.  E vai até virar tema de live, que vai ao ar nessa terça-feira (10/05). Duas outras delícias já foram “tombadas” como tal: o bolo Souza Leão e o Bolo de Rolo. Cada um melhor do que o outro, não é não?

A live começa às 19h, no canal que a Secretaria de Cultura de Pernambuco mantém no YouTube, com retransmissão no Facebook. Participam da conversa  Cris Barros (chef, pesquisadora e professora de Gastronomia do Senac) e Marcelo Renan (historiador e coordenador de Patrimônio Imaterial da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco. Quem vai mediar o debate é Ana Cláudia Frazão (gastróloga, professora, pesquisadora e assessora de Gastronomia da Secretaria de Cultura de Pernambuco).

Segredo guardado a sete chaves por boleiras e boleiros pernambucanos,  a receita tem variações, mas a base é um bolo de frutas cristalizadas, ameixa e uvas passas. Segundo Cris Barros, o bolo de noiva é uma adaptação do bolo de frutas britânico, servido até hoje nos casamentos da Realeza. Se, na Inglaterra, coloca-se conhaque, a variação pernambucana usa vinho do Porto ou vinho moscatel, que é mais em conta. Trocou-se também as cerejas pelas ameixas. Mas a massa úmida e a tradição de guardar pedaços do bolo para comer tempos depois do casamento são comuns às tradições tanto britânicas quanto pernambucanas.

Curioso é que o bolo de noiva não ultrapassou os limites de Pernambuco. Quando viajo para outro estado sempre me pediam para levar bolo de rolo, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro. Mas ultimamente o pedido é outro, inclusive na Bahia: o bolo de noiva. É que o bolo de rolo já encontrado em muitas doçarias de outras capitais.  Mas o de noiva só se acha aqui, embora alguns raros casamentos em João Pessoa, capital da Paraíba, tragam a receita para o centro da festa. Em Pernambuco, não há como negar que o bolo de noiva é uma das “atrações” mais aguardadas nas festas de casamento. Tem gente que só sai depois que se farta de comer a iguaria.

Mas, e qual a importância de transformar o bolo de noiva em Patrimônio Imaterial do estado? “O reconhecimento de um patrimônio alimentar é a base da proteção e salvaguarda de diferentes saberes e dos elementos materiais associados à produção alimentar, assim como dos meios naturais de onde se extraem as matérias-primas”, diz Ana Cláudia, autora do livro Comedoria popular: receitas, feiras e mercados do Recife. ” Esse ‘assentamento’ reforça e promove a cultura e os modos de viver de diferentes públicos que, historicamente, atuam em defesa desses saberes”, explica.

“Reconhecer o bolo de noiva como patrimônio Imaterial de Pernambuco é salvaguardar um bem alimentar cultural único no país, valorizando e reconhecendo a comunidade produtiva das boleiras e boleiros que movimentam a economia no estado e repassam seus conhecimentos às novas gerações, perpetuando assim a preservação dos saberes tradicionais’, defende Cris, que tem artigos sobre o tema e fez uma tese de mestrado com o título A Educação Cultural A partir do Bolo de Noiva Pernambucano. Marcelo Renan informa que a Fundarpe recebeu depoimentos em áudio e vídeo de boleiras e boleiros de todo o estado e reuniu documentos que serão analisados pelo titular da  Secretaria de Cultura de Pernambuco, Oscar Barreto. E a partir daí,  pode ser confirmada a abertura do processo de registro do bolo de noiva como Patrimônio Cultural Imaterial de Pernambuco.

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Serviço
Live “Bolo de noiva, patrimônio gastronômico de Pernambuco”
Quando: 10 de maio de 2022 (terça-feira), às 19h
Com: Cris Barros, Marcelo Renan e Ana Cláudia Frazão (mediação)
Transmissão: www.youtube.com/SecultPE | www.facebook.com/culturape

Texto: Letícia Lins /  #OxeRecife
Foto: Secult / Divulgação

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