Tido como uma das maiores vozes da chamada Geração 65 e com presença marcante na poética do Nordeste e do Brasil, Marcus Accioly (1943-2017) “viajou” para outro plano, deixando por aqui como herança uma importante obra literária: Cancioneiro (1968), Nordestinados (1972), Xilografia (1974), Sísifo (1976), Íxion (1978), Érato (1983), Narciso (1984). E ainda, Ó de Itabira (1980) e Guriatã: um cordel para um menino (1979). Neste último, talvez o seu poema mais autobiográfico conhecido pelo público, o autor passa em revista o período de infância entre os engenhos Laureano e Jaguarana, às margens do Rio Sirigi, no município de Aliança, na então verde Zona da Mata de Pernambuco.
Eram tempos de brincadeiras em que extasiado, e com os pés no chão úmido, caminhava entre as árvores, colhendo frutos, curtindo os passarinhos, incluindo o guriatã, pássaro enigmático do qual poucos conhecem o canto, pois se dedica a imitar o das outras aves. Todo esse universo faz parte das memórias afetivas do poeta. Nas traquinagens, a companhia de Manuel, o inseparável amigo de infância, que se foi na juventude, devido a uma doença que, naquela época, era muito endêmica na região canavieira. Com a partida precoce do colega, o poeta decidiu homenageá-lo. E relata as lembranças de tempos tão lúdicos, junto à exuberância da natureza, através dos personagens Leunam e Sucram ( Manuel e Marcus lidos de trás para frente). As vivências dos dois foram relatadas em versos com tão cenas marcantes, que dariam facilmente para transformá-los em texto para o palco.
E foi isso que fez o professor Robson Teles, quando era ainda um aluno de Marcus, cuja obra literária passou a encantá-lo dentro e fora da sala de aula. Tanto que em 2005 adaptou para o teatro “Ave, Guriatã!”, com versão imediatamente aprovada por Marcus Accioly, que saiu em busca de recursos para a montagem no Recife. O livro havia sido apresentado a Robson por Max Almeida, ator e diretor de teatro. “Você vai descobrir a teatralidade no poema e gostaria de vê-lo no palco”, disse-lhe Max. “A leitura de Guriatã, um cordel para um menino, foi uma abertura de cortina para mim”, diz Robson que iniciou, assim, sua carreira como dramaturgo. No sábado (28/9), o hoje professor lança o livro com sua versão do poema para o teatro. “Ave, Guriatã!” tem tarde de autógrafos a partir das 14h no Beach Class Convention by Hom, que fica na Rua Maria Carolina, 661, em Boa Viagem. O evento é aberto ao público, e o preço de “Ave, Guriatã” é R$ 39 (cartão, PIX ou dinheiro).
Um lembrete: Manuel morreu jovem. “Mas no poema ele é um menino que se transforma em pássaro, porque criança não morre, se encanta”, lembra Robson. “Na minha visão, há livros que nascem destinados para o palco, por se apresentarem imagéticos, compostos de cenas visuais, teatrais. Assim, meus olhos de encenador leram Guriatã: um cordel para menino”, lembra. “Mostrei a adaptação a Marcus, que era meu professor de Literatura Brasileira, no curso de Letras da UFPE. Generosamente, ele leu a adaptação em um tempo recorde e me disse que eu não era mais um aluno, mas um companheiro de trabalho. Marcus sempre foi muito generoso comigo. Fiquei profundamente emocionado. Foi, na verdade, minha estreia como dramaturgo. O meu primeiro texto teatral. Meu primeiro filho dramatúrgico, que agora sai em livro, mas que já voou pelos palcos dos teatros pernambucanos”. Diz ele:
Aprendi com Marcus que todo poeta é uma linguagem viva e, se não for, é sempre uma linguagem. Transpus, então, Guriatã da linguagem poemática para a teatral. Assim, pus em prática o que meu mestre havia me ensinado. O poeta é o que cria, faz inventa. Inventei Ave, guriatã! a partir do país-infância que ele me apresentou.
Robson Teles criou o Grupo de Estudos da Poesia de Marcus Accioly na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) que, com o apoio de Glória Dalla Nora, desenvolve estudos, pesquisas sobre a obra do poeta. Guriatã: um cordel para menino conquistou dois grandes prêmios literários – 1º. lugar no Concurso Nacional Prêmio Fernando Chinaglia (1979), União Brasileira de Escritores – Rio de Janeiro e Láurea Altamente Recomendável para o jovem (1980) Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Guriatã: um cordel para menino já alcançou cinco edições, é o livro mais editado do autor. No evento estarão presentes a viúva de Marcus Accioly, Glória Dalla Nora (incansável batalhadora pela divulgação da obra do poeta), alunos do Colégio Santa Maria e da Universidade Católica de Pernambuco, onde o professor ensina. E ainda a vereadora, escritora, poeta e ativista Cida Pedrosa (PC do B).
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Serviço
O quê: Lançamento do livro “Ave, guriatã!”, de Robson Teles (adaptação para o teatro do poema “Guriatã, um cordel para um menino”
Quando: Sábado (28 de setembro)
Horário: das 14h às 18h
Onde: Beach Class Convention By Hom
Endereço: Rua Maria Carolina, 661, Boa Viagem
Preço do livro: R$ 39,90
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação
