Uma área de difícil acesso do Parque Estadual Mata da Pimenteira é atingida por incêndio de grande proporção desde a manhã do domingo. E até o início da tarde dessa terça-feira o fogo ainda não havia sido debelado. A área vem a ser a primeira unidade de conservação de Pernambuco no bioma da caatinga, e fica no município de Serra Talhada, localizado a 418 quilômetros do Recife. A ocorrência de incêndios no Sertão do Pajeú, onde está a UC, já é 30 por cento maior do que a quantidade de ocorrências de igual período de 2019.
Equipes do Corpo de Bombeiros de Pernambuco e da Agência Estadual de Meio Ambiente (Cprh) estão na área, combatendo as chamas. “Estamos com o Corpo de Bombeiros de Pernambuco e com profissionais da Cprh nesta luta para extinguirmos o incêndio que, na tarde de ontem, parecia controlado”, afirma o Diretor Presidente da Cprh, Djalma Paes. “No entanto, os ventos da noite fizeram as chamas aumentarem e, hoje, o fogo se alastrou, saindo dos limites da unidade de conservação”, acrescenta.

O combate está sendo realizado, a partir de hoje, também por via aérea, com o apoio de uma aeronave para o lançamento de água. Até o momento, não há estimativa do tamanho da área afetada pelo incêndio, nem a causa e as consequência do mesmo. Por ser montanhosa, a área onde está ocorrendo o incêndio é de difícil acesso, pois é montanhosa. Outros fatores de dificuldade são a baixa umidade do ar, a alta temperatura na região e a mudança da direção dos ventos. O analista ambiental da Cprh e gestor do Parque Estadual Mata da Pimenteira, Rodrigo Ferraz, está na operação desde o último domingo.
“A unidade de conservação possui quase 900 hectares de extensão, onde predomina a Caatinga. É uma área com muitas pedras, de vegetação fechada, o que dificulta o acesso. Mas, desde que fomos acionados, estamos juntos com o Corpo de Bombeiros e os voluntários, nesta missão”,diz ele. O tenente coronel do Corpo de Bombeiros, Cristiano Correa, explica porque os incêndios em áreas florestais demoram a ser debelados. “Porque não é só a queima aparente, a que se vê na superfície. Na profundidade, o fogo também existe. É como uma fogueira de São João, que você julga apagada, mas que, ao revolver as cinzas, percebe que ainda há brasas. Isto é o que acontece em um incêndio em uma área de campo, só que em proporções muito maiores”. Ele informou que entre 1 de agosto e dez de outubro, o Corpo de Bombeiros atendeu mais de 250 chamados para contenção de incêndios em vegetação nativa na região do Sertão do Pajeú. Ele deu registro de incêndios também no Sertão do Araripe, do Moxotó, Central e do São Francisco, mas, as ocorrências no Sertão do Pajeú superaram os números das outras áreas. “Este ano, já em outubro, contabilizamos um aumento de mais de trinta por cento dos incêndios ocorridos em relação ao ano de 2019, só na região do Pajeú”, diz.
E uma curiosidade. As chuvas podem até ter ajudado a eclosão do fogo. “É que além dos ventos, da baixa umidade e da alta temperatura, o ano de 2020 foi de chuva abundante no Sertão, o que significa crescimento da Caatinga. “Parece contraditório: em anos de mais chuvas, mais focos de incêndio. Mas o crescimento da vegetação leva ao aumento da biomassa, que vira combustível. Pega fogo rapidamente. Como a chuva traz de volta a esperança na colheita, o sertanejo volta a plantar. E pequenos agricultores que fazem a limpeza de áreas, queimando a terra para plantio, que é o sistema de coivara, também promovem o risco de incêndios”, comenta. A UC tem 887,24 ha e recebe o título de Primeira Unidade de Conservação do Estado de Pernambuco da Caatinga, bioma exclusivo do Semi-árido brasileiro e único no mundo, portanto.
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Texto: Letícia Lins/ #OxeRecife
Fotos: Cprh / Divulgação