Dom da Paz : “Se pergunto porque os pobres não têm comida, eles me chamam de comunista”

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Perto de virar santo, Dom Helder Câmara (1909-1999) volta a ficar em evidência. E, com certeza, desperta o interesse de milhares de católicos – entre bispos, padres e leigos – que se encontram em Pernambuco, participando do 18º Congresso Eucarístico Nacional. Além da demanda por visitas ao Memorial Dom Helder Câmara (que acaba de passar por restauração e reabrir ao público), o Dom da Paz é o tema de cinco livros que serão lançados no encontro, todos editados pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe).

Como se sabe, a Cepe vem contribuindo para a preservação da memória do religioso. E é a empresa responsável pela digitalização dos documentos enviados ao Vaticano, e que serão utilizados no processo de canonização do mais famoso Arcebispo que a Arquidiocese de Olinda e Recife já teve, e o único que chegou a ter seu nome cogitado para ganhar o Prêmio Nobel da Paz. Foram quatro indicações, o que não é pouco. Isso em plena ditadura militar, quando o Dom era censurado no Brasil, mas levava à Imprensa estrangeira notícias das violações dos direitos humanos e das torturas que aconteciam nas masmorras do regime de exceção, implantado no país em 1964. Além disso, o Dom se notabilizou pela atenção que dava aos excluídos e desassistidos, sendo um dos criadores da chamada Teologia da Libertação. Pelo amor dedicado aos pobres, era chamado de “bispo vermelho” e de “comunista”, chegando a sofrer atentados, praticados por agentes da repressão. Um dos seus principais auxiliares, o Padre Henrique Pereira Neto, foi sequestrado, torturado e assassinado.

Para divulgar o pensamento de um dos homens que marcou a vida na luta pela paz, a Cepe lançou a Coleção Obras Completas de Dom Helder Câmara. E acaba de colocar um estande no Centro de Convenções de Pernambuco, com novos lançamentos. É que é no Cecon onde acontece boa parte da programação do  18º CEN, que se prolonga até 15 de novembro. Os  lançamentos revelam profecias, textos de cartas trocadas com amigos e autoridades. E um outro traz a figura do Dom através de postais. Os seja, são interessantes para católicos, para religiosos, leigos e por todos aqueles que se interessam em exemplos de fé, humildade, defesa dos direitos humanos, e de coragem. Porque o Dom foi, também, um homem de coragem, apesar da voz mansa e quase inaudível com que se dirigia aos interlocutores. As publicações também constituem interessantes fontes de pesquisa para historiadores e teólogos.

Conheça as obras sobre o Dom da Paz, que estão sendo lançadas no CEN:


Dom Helder Câmara em PostaisPara quem gosta de imagens, o mini-álbum é um prato cheio. Lançado em parceria  da Cepe com o  Instituto Dom Helder Câmara (IDHeC), o livro 48 páginas e 20 postais destacáveis do Dom em algumas fases de sua vida religiosa, além de frases proferidas em diversas situações. Um dos cliques é do Natal de 1990, e mostra Dom Helder conversando e  distribuindo donativos a pessoas humildes na porta da Igreja das Fronteiras (foto superior). No verso, a seguinte frase: “Se eu dou comida aos pobres, me chamam de santo. Se eu pergunto por que os pobres não têm comida, eles me chamam de comunista.”

Não deixe cair a profecia: A herança de Dom Helder Câmara para a humanidade do século XXI –  Escrito pelo monge beneditino Marcelo Barros, a obra reflete sobre o caráter de atualidade do apelo à transformação pessoal, social e política defendida pelo Dom da Paz. Marcelo ouviu do arcebispo a frase que dá título ao livro, 20 dias antes de ele falecer. “Acolhi a palavra daquele profeta, pastor, que, em 1969, me ordenou padre e com o qual trabalhei por quase dez anos (1967-1976). E a acolhi como sendo dirigida não somente a mim, e sim a toda pessoa que quer viver o caminho de uma fé inserida na realidade”, afirma Marcelo, teólogo e autor de 62 livros. “Neste livro, tento reler os textos e escritos de Dom Helder para atualizar a proposta de uma fé cristã profética que se insira em um mundo plural, diversificado, laical (não religioso) e solidário (a partir dos pobres e das culturas dos povos originários e comunidades negras)”, revela o monge. “Há profecias de caráter mais social, outras mais diretamente políticas, outras na área da educação, da saúde e das culturas e há profecias nos caminhos do pluralismo religioso e espiritual”, cita Marcelo.

Circulares Ação Justiça e Paz – Outra contribuição da Cepe é a publicação do 5º volume das cartas circulares que o arcebispo enviava a um grupo de amigos residentes em Pernambuco e no Rio de Janeiro, em plena ditadura militar no Brasil e numa época em que ele estava proibido de fazer declarações públicas. O novo volume, dividido em três tomos, é denominado Circulares Ação Justiça e Paz, cobre o período de janeiro de 1970 a maio de 1971 e compõe a Coleção Obras Completas de Dom Helder Camara, lançada pela Cepe em 2009.  O tomo 1 reúne 80 cartas, de 31 de janeiro/1º de fevereiro de 1970 até 18/19 de julho de 1970, nas quais o Dom defende a liberdade religiosa, além de demonstrar preocupação com as comunidades pobres do Recife que viviam precariamente em morros e alagados. Na circular nº 40 (13/14 de abril), dom Helder define dessa forma o projeto Ação Justiça e Paz: “ “Não se trata de partido político, nem de movimento preso a um homem, a um País, a uma língua, a uma religião.

Trata-se da união dos homens de boa vontade para além de todas as barreiras de religiões, de línguas, de raças, de partidos políticos e de ideologias.”. O tomo 2 reúne 85 circulares escritas entre 20/21 de julho de 1970 e 30/31 de dezembro de 1970, período em que dom Helder prioriza as ações de socorro às vítimas das enchentes de junho e julho daquele ano e fortalece o trabalho da Operação Esperança e os grupos do Encontro de Irmãos. As cartas mostram que os discursos escritos pelo arcebispo para conferências em várias partes do mundo convergem para as questões da justiça e paz. No tomo 3, há 76 circulares datadas de 31 de dezembro de 1970/1º de janeiro de 1971 a 16/17 de maio de 1971. Os organizadores afirmam que “talvez”, as cartas desse tomo, mais do que as circulares anteriores, são marcadas pelo diálogo de dom Helder com as pessoas que ele quis chamar de “minorias abraâmicas”. Essas minorias eram formadas por pessoas que seguiam um estilo de vida e de relações sócio-econômicas e políticas fundamentadas na justiça e paz.

Abaixo, você confere mais informações sobre o Dom da Paz e também sobre o Congresso Eucarístico

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Serviço:
Eventos: Lançamentos de livros sobre Dom Helder Câmara, o Dom da Paz

Livros:  Não deixe cair a profecia: A herança de Dom Helder Camara para a humanidade do século XXI, com mediação da coordenadora de comunicação do IDHeC, Rejane Menezes
Quando: Sábado, 12/11, no Centro de Convenções de Pernambuco
13/11, às 17h – Lançamento dos livros Dom Helder Camara em Postais e Circulares Ação Justiça e Paz

Preços:
Circulares Ação Justiça e Paz (Vol. V – Tomo I) – R$ 80 (livro impresso); R$ 32 (E-book)
 Circulares Ação Justiça e Paz (Vol. V – Tomo II – R$ 75 (livro impresso); R$ 30 (E-book)
Circulares Ação Justiça e Paz (VOL. V – Tomo III) – R$ 70 (livro impresso); R$ 28 (E-book)
Não deixe cair a profecia: A herança de Dom Helder Camara para a humanidade do século XXI – R$ 30 (livro impresso); R$ 12 (E-book)
Dom Helder Camara em postais – R$ 20 (livro impresso)
Combo Circulares Ação Justiça e Paz  (Vol. V – Tomos I, II e III) – R$ 200 (livro impresso)

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Cepe / Acervo do Instituto Dom Helder Câmara

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