“Eu sou rio / Corpo de Água / Corredeira sem fim / Encho e esvazio / Alago/ Inundo a terra de mim / Dou água / Desde a nascente até o mar / Tudo nasce assim / Sem meu corpo não há devir / Pela vida tenho direito de existir”. Os rios não falam, mas esse “Manifesto dos Rios” é para dar voz a eles, que imploram por vida, para que suas águas fiquem limpes, para que não mais funcionem como esgotos e lixões. E que possam prover seus serviços ambientais. No Dia Mundial dos Rios – comemorado no último domingo de setembro – ativistas distribuem o manifesto e fazem ações em 21 rios estratégicos para sua localidades, em cinco regiões do Brasil. Infelizmente os nossos Capibaribe e Beberibe não estão incluídos nas ações de hoje, contra a poluição do qual são vítimas.
As ações abrangem rios como o Bixiga, Tietê, Jundiaí, Iquirim, e os córregos Água Preta e o Ibirapitanga, que ficam em São Paulo. No Bixiga, neste domingo, haverá uma série de manifestações em parceria com a Cia Teatro Oficina, que criou uma alegoria do rio, manipulada por bambus que, com seus movimentos, desenha um dragão chinês no ar. É que o Bexiga tem boa parte do seu trajeto canalizado atravessando o terreno onde fica a sede do Teatro Oficina. O terreno, de propriedade privada, é tido como o último chão de terra livre do centro de São Paulo, o que levou os aliados do rio a lutarem pela implantação de um parque com o Bixiga como protagonista.
Há ações, ainda, em Manaus (Igarapé Petrópolis), Acre (Rio Acre), Amapá (Rio Amazonas), Pará (Rio Castanhal), Maranhão (Rios Anil e Piquirá), Paraíba (Rio Cuiá), Paraná (Canal Belém), Tocantins (Ribeirão Traquaçu), Rio de Janeiro (Rio Guandu), Roraima (Rio Branco), Distrito Federal (Rio Melchior). As margens de quase todos ganham cobras pintadas gigantescas (como a da foto superior). Elas são inspiradas na lenda amazônica da Cobra Grande (ou Boiúna). De acordo com a lenda, sob a cidade de Belém moraria uma cobra gigantesca que vive adormecida e que, se acordada, arrastaria toda a cidade de Belém para o fundo do rio. As manifestações chamam atenção para a situação de nossos rios que, no Brasil, enfrentam consequências de assoreamentos desmatamento, mineração, garimpo, construção de reservatórios, hidrelétricas, despejo de esgotos.
Nas grandes cidades, eles têm mais uma dificuldade: a canalização (fato que, no caso do Recife, vitima sobretudo os riachos, que hoje são chamados de canais). Estudo da WWF feito em 246 grandes rios do mundo – que somariam 12 milhões de quilômetros – mostra que pouco mais de um terço desses rios podem ser considerados como de “curso livre”, que é a condição de um curso d´água, quando oferece benefícios ambientais e serviços ecossistêmicos. Nesse caso, o que dizer dos nossos Capibaribe, Beberibe Tejipió e todos os “canais” que cortam o Recife, que viraram esgotos a céu aberto). Uma outra pesquisa, da Penn State University (EUA) indicou que em 800 rios investigados na América do Norte e na Europa, houve aumento da temperatura em 87 por cento deles e perda de oxigênio em 70 por cento, fatos que constituem risco para a qualidade de vida da flora e da fauna nesses rios. No caso do oxigênio, como estaria o nível dos cursos d´água em Pernambuco? Deve ser quase zero. E o Rio Ipojuca, hein, incluído entre os cinco mais poluídos do Brasil , como estará?
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação e Letícia Lins / Acervo #OxeRecife