Coletivo circense “A Penca” faz belo espetáculo sobre o arboricídio: “Viver com, morrer com”

Quem me  segue aqui neste espaço, sabe muito bem que o #OxeRecife tem uma campanha permanente em defesa do verde: #paremdederrubarárvores, que surgiu diante da constatação de que a ação da motosserra insana é desvairada no Recife e que os arboricídios constantes estão contribuindo para transformar a cidade em uma grande ilha de calor. Pelo que observo, esse tipo de ação sensibiliza as pessoas, também, em outras capitais. E tanto é assim, que o Coletivo circense “A Penca” está trazendo ao Recife o belíssimo espetáculo “Viver com, morrer com”, inspirado no calvário das  árvores de São Paulo. Um réquiem. A maior metrópole do Brasil inclusive está mais órfã de verde, pois o temporal da última semana derrubou “somente” 2 mil árvores. Então, a apresentação que ocorre no Teatro Apolo, às 19h do sábado (11/11) não poderia ser mais oportuna.

Porque lá como cá, as árvores são sempre culpadas por derrubar a fiação, por pender para um lado e cair (quando na verdade são vítimas de podas mal feitas), por tomar as vagas de estacionamento, por ocupar os terrenos destinados aos espigões.  Como não podem se defender, viram vítimas fáceis da insanidade humana. E não é novidade para ninguém que os arboricídios contribuem, também, para as mudanças climáticas e os eventos extremos que assolam grandes cidades não só no Brasil, mas no mundo. Por esse motivo, não posso – sob hipótese alguma – perder esse espetáculo sugestivo, profundo e que transforma em poesia ações tão cruéis contra a natureza.  “Viver com, morrer com” está na programação do Festival de Circo do Brasil , cuja 17ª edição segue até  até domingo no Recife. E, pelo visto, é um dos espetáculos mais pungentes.

Espetáculo “Viver com, morrer com” que será apresentado no Teatro Apolo, no sábado, mostra o arboricídio

Isso porque resulta do Projeto Fabulações Semipoéticas, do Coletivo Circense A Penca. Seus integrantes desenvolveram e investigaram parcerias criativas “entre mulheres e árvores”, após passar um bom período “acompanhando serviços de podas, coletando troncos, galhos e histórias de artistas que propõem ressignificação de matérias descartadas”. Ou seja, transformam pedaços de árvores que iriam para o lixo em protagonistas e parceiros cênicos. O Coletivo lembra que, “numa cidade cinza e coberta de asfalto e prédios como São Paulo, a remoção de uma árvore do espaço público costuma tocar os corações mais duros”. Ou seja, em São Paulo (como no Recife), vejam o  sentimento que o espetáculo tenta expressar. Até porque, como lembra o grupo, para  além da discussão de causas de tombamentos, sabemos que muitas são removidas simplesmente porque atrapalham”. E acrescentam:

“Homens com ferramentas, trabalhando por horas e às vezes dias, no esquartejamento das gigantes (muitas mais velhas do que eles próprios), a via coberta por enormes pedaços de troncos; o cheiro da madeira e serragem; um clima estranho e especulação sobre a tragédia que poderia ter acontecido.  Algumas espécies mais dramáticas como a Tipuana, que chora sangue ao ser cortada. Depois de tudo terminado, sobra um buraco no espaço; a vista demora para se acostumar; a luz muda; o som muda.  Os passarinhos vão embora, o asfalto fica mais quente”.

Ou seja, a ação da motossera insana mexe com a paisagem, com o clima, com a luz. E sobretudo com os nossos corações. E é isso, que o espetáculo mostra. O Coletivo circense “A Penca” é formado por Andrea Barbour, Bárbara Francesquine e Maria Carolina Oliveirz, que também atuam no espetáculo.  Palcos à parte, eu não sabia que a Tipuana solta “sangue” ao ser degolada. Deve ser a resina que é usada como adstringente e até como laxante, na medicina popular. Mas ao saber que ela “chora sangue” lembrei da última palmeira que foi degolada no bairro do Poço da Panela, no Recife,  que – um dia após o corte – ainda minava.  Não o sangue da tipuana, mas lágrimas cristalinas, fato que registrei aqui nesse espaço.  O espetáculo tem um toque pernambucano: a música de Flaira Ferro. Confira o vídeo de “Viver com, morrer com“. E trate de colocar na sua agenda. Você não vai se arrepender. Pelo e pela mensagem que ele passa,  em defesa da natureza. Mais do que uma encenação, um réquiem.

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Serviço:
Coletivo circense “A Penca” apresenta “Viver com, morrer com”
Onde: Teatro Apolo (dentro do Festival de Circo do Brasil)
Endereço: Rua do Apolo, 121, Bairro do Recife
Quando: sábado, 11 de novemb
Horário: 19h
Ingressos: no  Site do Festival e na bilheteria do teatro (R$ 10, meia; e R$ 20, inteira)

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife

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2 comments

  1. Realmente você é uma ativista incansável na defesa do nosso verde Letícia! Parabéns!! E muito interessante sua dica sobre esse espetáculo do Coletivo circense “A Penca”, mais do que necessário nesses tempos! Vamos tentar prestigiar!! 👏👏👏

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