Feminista, ambientalista, advogada por formação, militante comunista, vereadora (PC do B), escritora, poeta, recitadora, onze livros publicados. E também vencedora do Melhor Livro do Ano do Prêmio Jabuti 2020 com Solo para Vialejo (Cepe). Assim é Cida Pedrosa, nascida no Sertão, que na próxima terça-feira (30) estará na Biblioteca Pública de Pernambuco, área central do Recife, para autografar o livro de poemas “Claranã”, originalmente lançado há uma década. E, pelo que li, um livro imperdível, daquele que a gente guarda na estante com carinho.
O evento acontece entre 18h e 21h do dia 30 de julho, e contará com um bate-papo com o escritor Cícero Belmar, autor também premiado, integrante da Academia Pernambucana de Letras e, como Cida, nascido no Sertão. Aliás, ambos são da mesma cidade, Bodocó, situada a 649 quilômetros do Recife. O nova edição é iniciativa da Cepe Editora. O título contém 40 poemas que falam sobre amores, solidão, morte, erotismo, fé, arte, o existir. São temas sociais e filosóficos comuns à produção da autora pernambucana, mas criados de outra forma, sob a inspiração de cordelistas, cantadores, cantorias de viola, com a “cor” da poeira e dos saberes da Caatinga, onde estão as raízes de Cida Pedrosa. A segunda edição, no entanto, passou por mudanças. E Claranã, portanto, está ainda melhor. “Fiz atualizações estéticas em um ou outro poema, mudei rimas porque encontrei algumas repetidas”, afirma ela.
O prefácio do livro é do multiartista e brincante Antônio Nóbrega, que é também um grande pesquisador da cultura popular que norteia a sua arte. Ele elogia as “décimas perfeitas”, criadas pela autora.
“O modo como usa a língua, a substância das ideias e a natureza oral dos versos e estrofes me deixa não só hipnotizado como com a consciência alerta em relação aos poderes da poesia rimada. E aí volto uma questão que tem me batido frequentemente: a necessidade de desalojarmos essa forma de criar versos da cela do regionalismo onde está confinada”.
Claranã é uma palavra é de origem indígena, que significa clarão/claridade e dá nome a uma pedra em Bodocó. Para escrever o livro, Cida contou com a colaboração de amigos, que a provocaram com motes. Dessas sugestões, ela constrói uma poética de gêneros populares variados: gemedeira, quadrão, galope à beira-mar, coqueiro da Bahia. Entre os autores que deram motes, estão Chico Pedrosa (Moisés balançou a vara / E o mar com medo se abriu); Marco Polo Guimarães (Que na gravura em madeira / O Samico é um danado); Wilson Freire (No terreiro da paz Salú descansa / Silencia a rabeca genial), entre outros. Já Nóbrega lembra quadrinha tomada de Jó Patriota (Quando a dor se aproxima/ fazendo eu perder a calma/ passo uma esponja de rima/ nos ferimentos da alma). Ele elogia a forma como Cida construiu seus versos, tomando-a como morte:
“E entre a dor e o nada/ Há um poeta no meio/ Versejando sem enleio/ Junto à sombra velada./ A rima lhe foi tomada/ Da mão que já não espalda/ E não tem Jó nem viva alma/ que salve o pobre insano/ E ponha suave pano/ Nos ferimentos da alma”.
“Claranã realmente foi meu primeiro livro metrificado, isso é uma experiência incrível porque eu tenho essa herança do Sertão, da métrica e da rima. Meu segundo livro, O Cavaleiro da Epifania, tinha algumas experimentações de metrificação, mas muito frágeis ainda. Depois do Claranã, outra forma de ver, sentir e escrever a poesia aconteceu na minha vida, é um estilo literário que aprendi e gosto de usar. A abertura e o fechamento do Araras Vermelhas são em métrica”, diz a autora. A publicação tem 140 páginas e ilustrações de Luiza Morgado. “Claranã é um clarão na minha vida, na minha criatividade, na minha construção poética”, destaca Cida Pedrosa. No prefácio que fez para a primeira edição, o escritor, compositor e dramaturgo Braulio Tavares traduz a inspiração para o livro:
“A poesia popular entra na vida da gente por todos os lados, muito antes da gente saber com que letra começa o nosso nome. Entra pelo cheiro e pelo gosto de tudo quanto a gente compra na feira ou na calçada obedecendo à atração de uma trova cantada a plenos pulmões, de um pregão engraçado e sonoro. Entra nas cantigas de lavadeiras e nos aboios de vaqueiros.”
Para Cida, “Claranã” tem um significado muito especial. “Continuo assinando, dez anos depois, cada poema que está escrito lá, eu gosto muito do resultado. Se tem um livro meu que eu gosto do resultado, é do Claranã. Ele é um clarão na minha vida, na minha criatividade, na minha construção poética. E a segunda edição está tão bonita! E as linografias de Luiza (Morgado) são lindíssimas, é uma grande companhia ter no livro uma jovem que utiliza esse tipo de arte”.
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Texto: Letícia Lins / #Oxerecife
Fotos: Andrea Rego Barros e Cepe / Divulgação
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