Ciência: Drone vira laboratório em pleno ar para identificar qualidade das águas poluídas

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Não é novidade para ninguém, que o Brasil é um país de rios sujos. Até porque, nada menos de 100 milhões de brasileiros não possuem acesso à coleta de esgoto. E, segundo cálculos do Instituto Trata Brasil, o resultado é que nossas águas recebem um despejo diário equivalente a 5,5 mil piscinas olímpicas.  Ou seja, um verdadeiro e permanente desastre ambiental. Em  Pernambuco, dá para se perceber o tamanho do drama. Relatório recente divulgado pelo Tribunal de Contas do Estado mostra números incompatíveis com o que deveria ser a realidade do século 21. É que apenas 30,8 por cento da população conta com serviço de coleta de esgoto, enquanto no Recife, esse percentual é um pouco maior, 44,99 por cento. E nem é preciso recorrer a esses vergonhosos números, para se perceber a triste realidade. Basta observar nossos rios, lagoas e canais (que um dia foram riachos). Estão, todos, transformados em esgotos a céu aberto.

E quais são as consequências desse descalabro ambiental? Como andam, por exemplo, as águas do Rio Capibaribe e Beberibe, para citar os dois mais importantes do Recife? E qual o grau de poluição de lagoas como a do Araçá, do Náutico e do chamado Açude de Apipucos? Para responder a perguntas como essas de forma prática e rápida, pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco, acabam de criar o Lab-on-a-drone. Trata-se de um “laboratório” voador, capaz de coletar, filtrar e selecionar amostras de água, fazer a análise de possíveis poluentes e enviar os resultados em tempo real para a tela de um celular, utilizado para controlar o dispositivo. Parece ficção científica, não é?  Mas tal  tecnologia com um drone funciona. E tanto é assim, que artigo sobre o tema será capa da revista Analytical methods de outubro. O equipamento é o primeiro do tipo da área a ser descrito na literatura especializada.

“O equipamento permite monitorar em tempo real a qualidade dos recursos hídricos, possíveis ações de contaminação, despejo irregular de esgoto não tratado por empresas ou outras ações antropogênicas”, explica o professor Vagner Bezerra dos Santos, do Departamento de Química Fundamental (DQF) da UFPE, que é o orientador do estudo que originou o equipamento. O trabalho conta, ainda, com participação da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Clemson University (EUA).   E também, com cooperação da  Agência Pernambucana de Águas e Clima (APAC),  da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) e  Sollaris Engenharia.

Águas poluídas como as do Rio Ipojuca (foto superior) e do Capibaribe (acima) podem ser analisadas em tempo real com drone

O que foi feito pelos pesquisadores?  “Uma adaptação robótica em um drone comercial, criando um mini laboratório nele. Drones convencionais apenas fazem vídeos ou fotos, mas esse faz a análise de poluentes”, explica o professor. O Projeto é de autoria do LIA3 da UFPE. A  equipe é formada por João  Paulo Barbosa de Almeida, Maysa Nascimento, Vinícius de Alcântara e Leandro Paulo da Silva.  A invenção ainda não está disponível para venda, mas provavelmente o interesse  será grande. Pois é de extrema utilidade e, um dia, será considerado indispensável por órgãos de controle do meio ambiental.

“É um protótipo em testes com resultados muito bons, faltam apenas empresas interessadas na comercialização”, afirma Vagner. E pelo visto, o equipamento pode proporcionar economia a órgãos de controle e fiscalização do meio ambiente, cujas equipes às vezes perdem muito tempo, percorrendo distâncias agora desnecessárias. “O Drone adaptado faz 20 min com cada bateria. Mas não temos limitação pois todas as baterias são recarregadas em campo com um sistema portátil de energia solar que levamos a campo”, diz Vagner.  Ou seja, um laboratório completo, só que voador. E como funciona? “As amostras são coletadas usando microbomba, na linha de fluxo existe filtro que remove material particulado, depois uma válvula direciona as amostras para diferentes compartimentos, onde existem eletrodos que executam uma análise Eletroanalítica, e os dados são enviados por Wi-fi para o operador do drone”.  E viva à nossa Academia e à ciência, tão relegada nos quatro anos que se passaram. Afinal, o nosso futuro fica comprometido sem eles.

Professor Vagner e equipe terão artigo sobre o drone laboratório publicado em revista científica em outubro (UFPE)

Nos links abaixo, você confere informações sobre o problema do saneamento básico e diversas formas de poluição nas nossas águas com resíduos domésticos. Caso queira saber sobre a praga dos plásticos em rios e oceanos – um das maiores pragas ambientais do século 21-  é só clicar em plásticos no buscador do #OxeRecife.  Mais informações sobre o trabalho, no Instagram do LIA3, LIA3-UFPE

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Mais informações: https://pubs.rsc.org/en/content/articlelanding/2023/ay/d3ay01088k/

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos:  Ulrich Scheider (Patrulha Ambiental) e Letícia Lins, Acervo #OxeRecife; Divulgação /UFPE

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One comment

  1. Maravilha, ótima invenção pernambucana. Agora é colocar em prática, que seja usado e útil ao que se predispõe. Quiçá seja uma ferramenta que veio pra ficar e trazer resultados. Não podemos esperar mais.

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