Capibaribe: “Vamos jogar lixo no rio que o barco vai passar para limpar”.

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Dá uma tristeza ver cenas como esta da foto, em um manguezal do Rio Capibaribe, à altura do Bairro de Apipucos, onde reside a titular desse Blog. O jacaré não é o primeiro animal que é encontrado quase sufocado no meio do lixo, no chamado “rio das capivaras”, onde observa-se, também, quelônios – como cágados e tartarugas – fazendo esforço para sobreviver no oceano de detritos. Capivaras até que aparecem, de vez em quando. Mas em pequenos grupos, em quantidade bem distante das abundantes populações do passado que terminaram por dar nome ao nosso principal rio.

É uma pena que aquele que é um dos nossos principais cartões postais e antiga estação de veraneio do Recife esteja transformado em um lixão. Infelizmente. São os detritos jogados nas ruas, que se misturam às águas da chuva, que escoam para canais e depois chegam ao rio. E daí para o mar. E tome lixe em canais e rios.  Em abril deste ano, o Prefeito João Campos (PSB) informou que 20 por cento do lixo coletado no Recife é proveniente dos canais. Então, dá para se ter ideia da carga  de detritos que o rio recebe. Até porque não há ecobarreiras nos canais que impeçam a passagem do lixo.  E, infelizmente, este é atirado o tempo todo na água até do próprio rio. O resultado é o que se vê nas fotos.

O órgão encarregado da limpeza do Capibaribe é o mesmo que limpa as ruas da cidade, a Emlurb. O #OxeRecife solicitou ao órgão público um balanço do que foi recolhido em 2020 e o que já foi coletado em 2021, só para que o leitor tivesse uma ideia do que foi retirado do Capibaribe. Pelo menos por um órgão oficial. Mas a assessoria de imprensa não forneceu os números. Limitou-se a dizer que “ todos os meses, a Emlurb realiza a limpeza dos manguezais que margeiam o Capibaribe”. Informou os locais das intervenções: Rua da Aurora, Cais da Alfândega, Cais José Estelita, Cais da Jaqueira e Poço da Panela. Ou seja, nada que a população não saiba. O #OxeRecife insistiu nos números. Mas a assessoria disse, referindo-se às informações: “Só temos essas”. Haja inércia! Ou desinformação, não sei.

É incrível que a população não tenha direito de saber o total de lixo coletado nas águas do Rio Capibaribe que passam no Recife. Pelo menos para ter conhecimento que algum esforço de limpeza está sendo feito na cidade.  E uma boa forma de se avaliar o serviço é mostrar números. Mas cadê? Qual mistério há em saber isso? Sinceramente….  Segundo informa essa mesma assessoria, há um “ecobarco”, que atua “em trechos navegáveis do município, incluindo as ilhas do centro do Recife, a Zona Norte até a BR 101 e a Bacia do Pina”. No entanto, segundo alguns estudiosos, a ação do barco é inócua, se não for precedida por esforço de conscientização para as populações ribeirinhas. “Embora recolha o lixo, a eficiência do ecobarco é duvidosa,  se não houver um trabalho pesado de educação ambiental”, afirma Alexandre Ramos, membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Capibaribe.

“Uma vez eu acompanhava o trabalho do ecobarco no Pina, e vi a reação equivocada de alguns moradores. Eles diziam: vamos jogar o lixo no rio que o barco vai passar para limpar”, conta Ramos. Ou seja, o que se vê no rio é um comportamento semelhante ao adotado por ambulantes na areia da praia de Boa Viagem, que reagem mais ou menos da mesma forma, quando os banhistas reclamam que eles estão acumulando o lixo na areia. Eu já virei a chata da beira da praia. Reclamo sempre. Mas a resposta é sempre a mesma. “O gari da Emlurb vai passar para limpar”.  Quando a tarde começa, a praia já está cheia de montanhas de lixo, principalmente junto ao paredão que separa a areia do calçadão. E o tempo que os garis poderiam ganhar em recolher o que fica nas lixeiras, gastam juntando as montanhas de detritos que, com certeza, afugentam turistas. Se houvesse fiscalização e multa, com certeza, a sujeira aí seria menor.

Ou seja,  a educação ambiental está realmente precisando de reforço. Seja nas margens dos rios, nas praias, nas ruas. A foto do jacaré cercado de lixo é de Antônio Gomes Neto, amigo aqui do #OxeRecife e que sempre envia fotos poéticas ou tristes do nosso “Cão sem plumas”, que até o início do século passado tinha as margens ocupadas por casas de veraneio de famílias abastadas da cidade. A água era tão cristalina, que os banhos de rio – até noturnos nos meses de calor – eram a diversão da época. Posteriormente, o #OxeRecife vai voltar à questão do nosso querido Capibaribe, abordando o problema do saneamento.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Antônio Gomes Neto / Cortesia

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