Cais da Jaqueira ganhou manutenção mas coreto ficou ainda mais depenado

“Fiquem de olho no coreto da Jaqueira”, adverti aqui, ainda em 2018, quando começaram as obras de requalificação das calçadas da Avenida Rui Barbosa, uma das mais importantes vias da Zona Norte e que corta vários bairros do Recife. Também mostrara recentemente que o Cais da Jaqueira estava com guarda-corpo cheio de ferrugem e precisava manutenção. Enfim, a manutenção foi feita, o cais ficou mais bonito e a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb) dá o trabalho por concluído. Tirando as luminárias com estética zero  (as anteriores, em vidro leitoso, eram muito mais fotogênicas),  o Cais não faz mais vergonha. Já o coreto, tão decorativo… não recebeu novas tintas e perdeu todas as luminárias.  Assim como aconteceu com a que foram subtraídas da Ponte Velha, no Centro do Recife pelo mesmo órgão oficial.

Guarda corpo do Cais da Jaqueira foi restaurado, pois estava muito roído pela ferrugem, porém perdeu as luminárias anteriores, tão bonitas.

A pergunta é: por que as coisas são decididas dessa forma?  A outra: por que sempre se procura a “solução” mais fácil, mesmo que essa prejudique a paisagem da cidade, deixando-a mutilada? Aquela área que tangencia o Rio Capibaribe, defronte da Capela de Nossa Senhora da Conceição (que fica no Parque da Jaqueira) chama-se Praça Edgar Amorim. A sua última requalificação aconteceu em 1999, quando Roberto Magalhães ainda era Prefeito do Recife. Ou seja, já se vão 23 anos.

O Cais e a pracinha formam um dos bonitos cartões postais da cidade, sem falar na secular travessia de barco que leva moradores da região de uma margem à outra do rio. Pois não é que mesmo com o serviço dado por encerrado, o coreto da pracinha permanece sem pintura e … pior, depenado. Todas as suas luminárias, de vidro leitoso, foram retiradas durante o processo de “manutenção”. E nem botaram as novas (horrorosas) com o sistema de LED, e nem conservaram as anteriores. A-B-S-U-R-D-O! Dá para entender?

 

Perguntei à Emlurb o que será feito “do pequeno coreto”, mas resposta que é bom… zero. De acordo com a mensagem distribuída à imprensa nesta semana, o Cais da Jaqueira “acaba de ser entregue à população de cara nova”.  O serviço, que custou R$ 400 mil incluiu “requalificação do guarda corpo, recuperação da escada de madeira do píer, tradicional ponto de interligação de transporte fluvial entre os bairros da Torre e da Jaqueira”. E o coreto? A foto abaixo foi publicada em 2018, e aqui no #OxeRecife já era externada a preocupação com o que poderia acontecer com ele. O coreto era assim, como aparece ao lado da máquina  em serviço. Mas  na foto menor e na superior, vocês podem ver como ficou. Sem nenhuma lâmpada.

Em 2018, o #OxeRecife mostrou temor que o coreto, tão decorativo, fosse destruído. Veja como era. Nas fotos acima, como ficou.

De acordo com a Emlurb, no geral,  a intervenção aumentou a largura de calçadas na região, através do Programa Calçada Legal com recuo do gradil de ferro do Parque da Jaqueira. O revestimento dessas calçadas – pelo menos por enquanto – está menos irregular do que antes  com a colocação de blocos de tijolo intertravado no passeio público. A calçada, em frente à capelinha, tinha cinco metros de largura. Agora possui oito metros. Também foram implantadas obras de acessibilidade, o que é muito necessário.

Mas fazer uma requalificação não implica em depenar o que já existe. Pelo contrário, devia-se respeitar o patrimônio já existente, conservá-lo, aproveitá-lo e não dar fim.  Além do coreto, no Recife um outro equipamento urbano que também foi prejudicado durante “reforma”: a Ponte Velha perdeu 22 suportes de ferro com os respectivos lampiões coloniais. A Ponte do Limoeiro por pouco não foi totalmente descaracterizada. A Emlurb já estava até retirando o guarda corpo atual, que é charmoso, substituindo-o por uma mureta de concreto, sem graça nenhuma. A gritaria – iniciada aqui no #OxeRecife –  felizmente, foi tão grande, que a Prefeitura voltou atrás. Pelo menos isso!

Atualizando: Na noite da terça-feira (23/3), o coreto do Cais da Jaqueira – cuja estrutura lembra a de um caramanchão (porém sem folhas nem flores) – havia ganhado seis luminárias movidas a LED, em reposição às tradicionais, que haviam sido retiradas. Elas são do mesmo padrão daquele que foi colocada na extensão da calçada à margem do Rio Capibaribe e que fica defronte da Capela de Nossa Senhora da Conceição, situada no Parque da Jaqueira. À noite, não foi possível perceber se o coreto foi pintado. Ainda fico entre os que defendem que as antigas luminárias  – em vidro leitoso – deveriam ter sido mantidas. Bastava adaptar os antigos modelos ao novo sistema de iluminação. Em casa, assistindo ao noticiário, vejo como elas são mantidas, conservadas e adaptadas em tantas partes do mundo. Sem as luminárias de rua anteriores, aquele trecho perdeu boa parte da beleza de antes. Como ocorreu, aliás, com o Cais da Aurora, no Centro. E também em parques e praças da cidade.

Abaixo, você confere outras informações sobre perdas significativas no Recife.

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

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