Griô, Vó Cici ganha homenagem

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Essa terça-feira (22/03), o dia é de Vovó Cici, conhecida figura do Candomblé baiano na atualidade e que reside na Bahia desde os anos 70 do século passado. Nascida no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro,  em 2 de novembro de 1939, Nancy de Souza e Silva será agraciada com o título de  “Cidadã Soteropolitana” pela Câmara Municipal de Salvador. A sessão solene está marcada para 18h, no plenário Cosme de Farias. Com admiradores espalhados em todo o país, por conta de sua sabedoria,   fica a dica para quem quiser assistir à cerimônia, que será transmitida ao vivo pela TV Cam-Canal 12.3, o canal daquela casa no YouTube, através do qual pode-se acompanhar ao vivo a concessão da honraria. E também pelo Facebook/ @tveradiocam.

A proposta de entrega do título foi do vereador Sílvio Humberto (PSB), ativista do movimento negro soteropolitano e um dos fundadores do Instituto Cultural Steve Biko. Vó Cici é muito respeitada como contadora de histórias e também pelo seu trabalho social no Espaço Cultural Pierre Verger (1902-1996),  a quem ajudou a identificar 12 mil fotografias do seu acervo. Verger era fotógrafo autodidata, antropólogo, etnólogo e, na África, obteve o título de Fatumbi, na cidade de Ketu, atual Benin, por se tornar sacerdote no culto de Ifá.  É que embora nascido na França, sua religião era o Candomblé.

 

Ao Candomblé,  Verger  dedicou grande parte de suas vivências e estudos, pesquisando similitudes entre o Candomblé baiano e o culto dos orixás remanescente da chamada Iorubalândia (região cultural africana, que compreende partes da Nigéria, e Togo e do Benin, e que é que é habitada pelos iorubás). O candomblé, aliás, aproximou Cici de Verger. Mas foi outro motivo que a trouxe para a Bahia. É que ela conheceu o babarolixá baiano Balbino Daniel de Paula –  Obaràyí – no Rio de Janeiro. Foi ele o responsável pela sua iniciação no candomblé.

Ela começa, então, a atuar no  Ilê Axé Opô Aganju, no município Lauro de Freitas, localizado na Região Metropolitana de Salvador. “Isso foi em 1972. Podemos dizer que não foi Mãe Cici que escolheu Salvador, foi a Bahia que a escolheu”, afirma o antropólogo Fernando Batista, que faz doutorado  em  Cultura e Sociedade na Universidade Federal da Bahia, e prepara sua tese sobre a história de vida dessa importante personagem.
Cici tem um belíssimo trabalho de resgate social de crianças e jovens da periferia de Salvador, que são acolhidos no Espaço Cultural Pierre Verger, para as mais diversas atividades. Desde os anos 1990, ela assumiu o papel de contadora de histórias da e naquele espaço, que fica no bairro de Engenho Velho de Brotas, área popular localizada próximo ao centro de Salvador. Suas histórias têm como base a cosmologia iorubana, legada pelo Candomblé baiano de nação keto. Cici lota auditórios com histórias inspiradas em itans (mitos) e deuses africanos, impactando gente de todas as idades.

Já tive oportunidade de assistir, no Recife, algumas dos encontros em que ela conta histórias que nos enchente de encantamento, sobre os mitos, crenças e deuses da África. Muitas vezes, ela  os transporta ou os compara com a realidade brasileira. Abaixo, você pode conferir outras informações sobre Vó Cici, que deve estar em Pernambuco no próximo mês de maio.

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Texto: Letícia Lins (#OxeRecife) e Fernando Batista (UFBA)
Fotos: Fernando Batista / Cortesia

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