A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) estima que cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são perdidas ou desperdiçadas anualmente em todo o mundo. No Brasil, além do desperdício, o setor agrícola enfrenta desafios ambientais críticos, como as recentes queimadas que devastaram grandes áreas de cultivo. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostram que, apenas nos primeiros oito meses deste ano, mais de 100 mil focos de incêndio foram registrados, afetando diretamente a produção agrícola e a qualidade do solo. As queimadas resultam na liberação de carbono e em grandes perdas de produtividade agrícola, o que contribui para o ciclo de insegurança alimentar.
Diante desse quadro alarmante, é essencial entender que a continuidade dessas perdas e a degradação ambiental colocam em risco a segurança alimentar e a sustentabilidade do setor. Por isso, destaca-se a necessidade urgente de práticas agrícolas mais eficientes e sustentáveis para mitigar o impacto dessas perdas e otimizar a produção de alimentos. Tecnologias como a Agricultura de Precisão (AP) e o geoprocessamento surgem como soluções promissoras nesse cenário. Desde sua consolidação entre as décadas de 1950 e 1990, impulsionada pela mecanização e pela introdução do GPS, a Agricultura de Precisão tem sido essencial na gestão agrícola, utilizando avanços tecnológicos para otimizar o uso de insumos e enfrentar os desafios atuais.
Hoje, ao analisar dados detalhados sobre atributos das lavouras, como a fertilidade do solo, os produtores rurais conseguem adaptar suas práticas de manejo, reduzindo custos e utilizando os recursos de forma mais eficiente. Essa abordagem incentiva um uso sustentável da terra, maximizando a produtividade. Por sua vez, o geoprocessamento desempenha um papel crucial na AP, é ele quem permite a coleta e análise de dados geográficos essenciais para o monitoramento das lavouras. Através de mapas que revelam variações de produtividade e características do solo, os trabalhadores rurais conseguem tomar decisões mais informadas sobre o manejo de suas culturas.
Essa interação entre AP e geoprocessamento é fundamental para aumentar a produtividade, já que ao coletar e analisar dados geográficos, o sistema possibilita uma visão aprofundada das lavouras, levando a decisões que minimizem o uso excessivo de insumos. Essas combinações têm o potencial de transformar o agronegócio. Empresas que utilizam geomonitoramento remoto, por exemplo, conseguem antecipar dados climáticos, calcular o uso do solo e até emitir alerta sobre focos de incêndio.
No entanto, apesar dos benefícios, a AP ainda enfrenta desafios significativos, como a falta de conectividade em áreas rurais. Segundo o Indicador de Conectividade Rural (ICR), somente 18,8% da área agrícola produtiva do Brasil possui condições adequadas de conectividade. A ausência de infraestrutura limita o acesso a essas tecnologias, dificultando que os produtores rurais aproveitem ao máximo o potencial das inovações disponíveis. Superar o desafio da infraestrutura é fundamental para que o agronegócio brasileiro realmente tire proveito de todas essas ferramentas, que prometem transformar o setor e oferecer uma vantagem competitiva crucial em um mercado cada vez mais acirrado.
A expansão do 5G e de aplicativos móveis sinaliza avanços importantes, hoje por exemplo, é possível ter acesso à ferramentas de monitoramento em tempo real através de whatsapp, alcançando até mesmo o menor produtor e sem depender de investimentos robustos. O questionamento que fica é: o mercado precisa utilizar a evolução tecnológica e o agronegócio do futuro, baseado em dados, algoritmos, IA para garantir um futuro mais competitivo e sustentável para o planeta.
*Sergio Rocha é CEO da Agrotools. Com mais de 30 anos de experiência em áreas como commodities agrícolas, serviços financeiros, tecnologia, comércio internacional, dados e geotecnologia. Sergio também investiu em startups e reestruturou empresas em setores como finanças, commodities e tecnologia. Estudou planejamento estratégico na escola de negócios IMD, na Suíça, e trabalhou na Rússia. Antes de fundar a Agrotools, trabalhou na Costa Pinto Trading Company, na OPE Investments e foi presidente da Tecpar Technology Investment Partners nos EUA.
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