Um livro de fantasia mudou a minha vida aos 12 anos. Talvez essa afirmação possa parecer um tanto exagerada, mas, deixe-me explicar. Imagine a seguinte situação: uma professora cria um projeto para apresentar aos seus alunos, todos no início da adolescência, envolvendo uma série de livros que fariam parte da biblioteca particular da escola. Dentre eles, havia a história de uma garota que se apaixonou por um vampiro. Não sou formada em medicina ou pouco posso falar sobre como funciona o cérebro, mas afirmo que naquele instante algo faiscou nos meus neurônios.
Eu queria mergulhar naquele enredo. Não somente naquele, mas em todos os outros que encontrei pelo caminho. Devorei palavra após palavra sobre reinos imaginários, poderes mágicos e seres místicos. Foi por conta deste primeiro livro de fantasia que, hoje, aos 29, tornei-me uma autora publicada tradicionalmente, a mais vendida da editora e rodeada de milhares de leitores que desejam saber mais sobre esse universo.
Em “O Veneno na Montanha”, meu livro de estreia, Kalina Kaster, a nossa protagonista, decide cometer um crime premeditado para ser enviada à maior prisão do continente. O motivo? Ela deseja salvar a mãe, presa injustamente. Em meio a um sistema ditador, onde a população sofre diariamente, Kalina vai conhecer um mundo maior do que ela imaginava. Além disso, questões sobre família, amizade e amor serão postas à prova ao longo da história.
Mesmo que Kalina viva em um universo fantasioso, com aranhas-gigantes, poderes como a manipulação do ar e da água e um governo tirano, os leitores conseguem se identificar com os percalços e sentimentos que a garota de 19 anos compartilha. Esse ponto é assinalado uma série de vezes pelos leitores, que afirmam gostar de acompanhar uma protagonista imperfeita lidando com questões reais.
Desde o início da pandemia, a fantasia jovem é um dos gêneros literários que mais cresce no mercado nacional. Segundo dados do instituto de pesquisas Nielsen, a fantasia young adult — lida por jovens entre 16 e 24 anos — registrou em 2020 um crescimento de 61% no Brasil, com mais de 1,5 milhão de títulos vendidos. Não apenas autores norte-americanos são os escolhidos pelo público leitor, mas escritores brasileiros do gênero conquistaram o coração dos jovens.
Para mim, a magia da fantasia jovem é trabalhar com questões cotidianas em que muitos leitores poderão se ver representados, assim como expandir debates importantes da sociedade. E, ainda, utilizar elementos fantásticos para transportá-los a realidades que os inspirem e os façam ter interesse em continuar no mundo da literatura.
A adolescência, de fato, é uma época complicada, mas com a ajuda das páginas de um livro, fica mais fácil enfrentar os medos que um coração jovem pode sentir. Reconhecendo a importância que as minhas palavras e personagens têm sobre esses corações, continuarei escrevendo para eles, assim como um dia outra autora escreveu para mim.
*Bianca Jung é escritora e autora da trilogia “O Veneno na Montanha” (Qualis Editora). Ela é autora de livros de ficção sobre reinos mágicos, habitados por criaturas que povoam o imaginário de jovens leitores, ela explica os motivos desse gênero estar em alta no Brasil. E sempre destaca como a literatura fantástica impactou sua vida, ainda adolescente, e impulsionou a carreira como escritora.
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Edição: Letícia Lins / #OxeRecife
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