A pergunta que não quer calar. O Recife vai ter ou não carnaval? Se depender da Câmara Municipal, a resposta é não. Pelo menos no período oficial, que tem início em 28 de fevereiro de 2022. Os vereadores preferem que a festa seja adiada e recomendam que não haja qualquer tipo de “segregação carnavalesca”, durante o período momesco. A segregação, claro, contraria uma tradição do carnaval de rua pernambucano, que é o carnaval participação, secularmente praticado sem cordões de isolamento e sem obrigação do folião pagar um abadá para participar. No carnaval do Recife, somos todos “pipocas”.
A segregação – tipo a que é praticada no carnaval de rua de Salvador – não faz parte da nossa história. Mas se o cancelamento vingar, a festa terá sim, segregação. Não nas ruas. Mas sim em locais fechados, com cobrança de ingresso muito bem pagos e inacessíveis para a maior parte da população. E não são poucos os promotores e produtores que estão anunciando os festões. Os anúncios são vistos nas redes sociais, nos ônibus, nos táxis. O povão, que está se matando até para pagar as contas, vai ter que ficar de fora pois o carnaval de rua é tido como arriscado do ponto de vista de segurança sanitária. Até porque estamos diante de uma nova variante, a Ômicron, e o percentual da população vacinada ainda não atingiu a 90 por cento.
A Câmara Municipal do Recife formou uma comissão para estudar a realização do carnaval, mas a exemplo do que dizem cientistas, a recomendação – pelo menos para fevereiro – é não. Os vereadores recomendam o adiamento da festa que, segundo eles, não tem como ser realizada no período oficial. Além da nova variante do coronavírus, a população ainda enfrenta um surto de gripe, que vem lotando as emergências e hospitais públicos. Com as aglomerações, o problema pode se agravar. Para os vereadores, aglomerações como as do carnaval só poderiam ocorrer com maior percentual de vacinação, e com índices menores de internação e incidência da Covid-19.

“Reconhecemos que fevereiro não é o momento ideal”, ratifica o vereador Marco Aurélio (PRTB), que presidiu a comissão. Até porque o carnaval é “um evento de massa”, no qual não há como impedir as aglomerações. Os vereadores, sugerem – no entanto – ajuda financeira para os músicos, artistas e blocos que vivem do carnaval. Pedem uma nova edição do AME (auxílio municipal emergencial), que deveria ser pago um mês após a realização da festa. Pedem, ainda, que se faça uma programação cultural para movimentar mercados públicos, dando ocupação a cantores, músicas, agremiações.
Recentemente a Academia Pernambucana de Ciência e a Academia Pernambucana de Medicina recomendaram a não realização do carnaval. E alguns blocos já confirmaram que não irão às ruas, em 2022, embora haja aqueles que vão trocar as ruas por eventos fechados e pagos. Em outras palavras, segregação. Só vai brincar quem puder pagar. Até agora, já cancelaram os desfiles de rua: O Homem da Meia Noite, Pitombeira dos Quatro Cantos, Eu Acho é Pouco e A Mulher na Vara.
A Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) informa que, por mais um dia, os dados de casos leves da Covid-19 em Pernambuco não poderão ser divulgados. Apesar do sistema E-SUS Notifica do Ministério da Saúde já estar funcionando para registro e atualização das notificações pelos municípios, ele ainda está indisponível para que o Estado realize a extração dos dados. Assim, nessa quarta-feira (22/12), a SES-PE registrou 10 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave confirmados para a Covid-19. Agora, Pernambuco totaliza 643.441 casos confirmados da doença, sendo 55.257 graves e 588.184 leves. Também estão sendo contabilizados oito óbitos, ocorridos entre os dias 10/06/2020 e 20/12/2021. Com isso, o Estado totaliza 20.387 mortes pela Covid-19.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: PCR / Acervo #OxeRecife