Açaí, o “ouro roxo” da Amazônia é a prova que a floresta em pé é mais lucrativa que deitada

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Até os anos 1970, o açaí era consumido apenas na Região Norte. Ainda hoje, é no Pará onde se concentra a demanda de cerca de 60 por cento de todo o açaí produzido no mundo.  O fruto era praticamente desconhecido no resto do Brasil, como ainda hoje o são, muitos daqueles nativos da Amazônia: biribá, cubiu, camu-camu, tucumã, bacuri, piranga, ajuru, uxi, inajá, cupuaçu. No final do século passado, aquele fruto amazônico misturado com outro produto da área (o guaraná) pipocou em todo o  país, e passou até a ser produto de exportação. Surgiram várias marcas com misturas diversas e até mesmo lojinhas especializadas em servir o açaí, seja na forma de sorvete, sobremesa, suco, frapê. Versátil, o fruto caiu mesmo no gosto do paladar brasileiro. E a procura só faz aumentar. Tanto é assim, que entre 2012 e 2022, houve um crescimento de 15.000 por cento na comercialização do fruto, de acordo com a Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa).

Também conhecido como o “embaixador da Amazônia”, o açaí chega a ter produção  de cerca de 1.500.000 toneladas por ano, com área plantada na ordem de 209 mil hectares, segundo números de 2021 divulgados pelo IBGE. Desde então, a produção só faz crescer diante do mercado em constante expansão.  O maior produtor de açaí do Brasil, hoje, é o estado do Pará que, inclusive, não só atende o mercado interno, mas também representa mais de 94% das exportações para o mundo todo, passando de 41 toneladas (2011) para 5.937 toneladas (2020). A cada dia, surgem novas empresas, voltadas para a comercialização do “ouro roxo”. A açaí é uma das opções de se explorar comercialmente produtos da Amazônia, conservando a floresta em pé ou, pelo menos, mantendo suas espécies nativas. Uma das mais recentes iniciativas comerciais com o açaí é a Kiloton Amazônia, que apostou na pura polpa para inovar. Por trás da recente empreitada, no entanto, não estão empresários do Pará, mas sim do Paraná. Aliás, cinco irmãos paranaenses: Áureo, Ivan, Angélica, Márcia e Josenia Bordignon.

Empresa aposta no açaí sem adoçantes, aditivos nem outros produtos, como o guaraná mas vende tudo para o PR e RS.

Tudo começou com Ivan, o primeiro a ter contato com o fruto nos anos 1980. A família então, ao visitá-lo no Norte, sempre consumia o açaí na sua forma natural, mas quando retornava ao Paraná, não encontravam o produto como gostavam.  Se quisessem consumir açaí, o jeito era “aceitá-lo” na forma doce, com muito açúcar, corantes, xaropes, estabilizantes, conservantes, emulsificantes e gorduras trans. “E isso, com o tempo, passou a nos incomodar. Afinal, da forma ‘assorvetada’, apesar do açaí ser um superalimento, ele deixa de ser saudável e pode se tornar até prejudicial, principalmente para quem já sofre de algum problema de saúde”, explica Áureo Bordignon.

“Então, foi pensando em ajudar pessoas com comorbidades e ainda ser útil para os esportistas e aqueles que querem se manter em forma, abrindo mão da química e da sacarose, é que identificamos esse nicho de mercado”. Segundo a empresa, o açaí, adquirido das famílias ribeirinhas em várias cidades do Amazonas, Acre, Bolívia e Peru, é levado em transporte refrigerado até a fábrica em Porto Velho (RO), onde passa por  processo de separação e tratamento. Dois quilos de frutos resultam em um quilo de polpa.

Irmãos paranaenses criam empresa para fornecer açaí sem aditivos nem açúcar de olho em dietas saudáveis

Depois, é aplicada uma técnica de branqueamento do açaí, fazendo com que ocorra a desativação das enzimas que causam o seu escurecimento. Então, nessa fase, é mantida a sua cor, textura, aroma e sabor. A polpa é congelada, e sem correr o risco de perder suas características originais, ela entra em uma rota extensa, de mais de 3 mil quilômetros. Saindo de Rondônia, o produto, comercializado em pacotes de 1kg, segue viagem para a cidade de Curitiba, no Paraná. Ao todo, são cinco dias de percurso em um caminhão frigorífico, vez que o açaí, por ser congelado a uma temperatura de 18 graus negativos, demanda um ambiente aclimatado especialmente para evitar a deterioração e manter a sua validade de um ano. Do Paraná, ele segue para as sorveterias interessadas,  no próprio estado e para os vizinhos Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

“Outro benefício é que, por se tratar de um produto in natura, nossos clientes têm a possibilidade de criar receitas próprias, melhorando a própria marca, além de fazer combinações com frutas”, enaltece Áureo. O intuito é atender às necessidades e gostos de cada consumidor apaixonado pelo açaí, mas sem deixar de preservar as propriedades e os benefícios do fruto. “A Kiloton Amazônia chega à região Sul do Brasil desenvolvendo uma alimentação “raiz”, ligada aos povos e culturas tradicionais, comprometendo-se com a sustentabilidade social e ambiental, desenvolvendo fornecedores e mão de obra capacitada com a ajuda dos ribeirinhos amazônicos, gerando renda e emprego, auxiliando no processo de descarbonização da economia e promovendo o replantio do açaizeiro em áreas degradadas”, informa. Se for tudo verdade como a empresa diz, então, tá bom. Mais informações no site kilotonamazonia.com.br.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação e redes sociais

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