Itacuruba ficou famosa por ostentar os maiores índices de depressão e suicídio do Brasil. A situação, denunciada por profissionais de saúde, chegou a ser tema do documentário Di Profundis, da cineasta Isabela Cribari. Os problemas foram provocados pela construção de uma hidroelétrica nos anos 1980, que resultou em inundação de parte do município, deixando agricultores sem suas terras nem meios de sobrevivência. Muitos se entregaram ao alcoolismo. A cidade – localizada a 481 quilômetros do Recife – nem se recuperou do trauma anterior, e já corre o risco de enfrentar um outro: a construção de uma usina nuclear.
Esse temor, pelo menos, foi um dos assuntos discutidos em reuniões da operação Fiscalização Preventiva Integrada da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco em Pernambuco (FPI/PE), que no momento percorre cinco municípios do Sertão, que ficam às margens do Velho Chico. Os moradores receiam a instalação de usina nuclear em área vizinha à ocupada por indígenas, também afetando outros povoados da região. A implantação da usina foi proposta há quase dez anos, entrou em banho maria, mas o assunto vem sendo retomado, de acordo com as lideranças, pelo Ministério de Minas e Energia e pela empresa estatal Eletronuclear. Itacuruba foi visitada pela equipe Comunidades Tradicionais da (FPI/PE).
Os técnicos se reuniram com representantes de comunidades quilombolas e indígenas no município de Itacuruba, no Sertão do Itaparica. Os técnicos promoveram dois encontros, em que foram ouvidos representantes quilombolas dos Negros de Gilu e Poço dos Cavalos, além de indígenas dos povos Tuxá e Pankará. Nas reuniões, a equipe levou aos participantes esclarecimentos sobre o objetivo da FPI, além de ouvir as demandas relacionadas ao atendimento das necessidades das comunidades, relacionadas à educação, programas assistenciais, saúde e, principalmente, demarcação das terras. Atualmente, estima-se que 54% da população de Itacuruba, que possui cerca de 4.600 habitantes, são formados por povos indígenas e quilombolas, que são distribuídos, ao todo, por seis comunidades. A FPI fiscaliza ações que vão da preservação do meio ambiente aos direitos das populações sertanejas. Em 2018, registrou saldo muito positivo em Pernambuco.
A FPI foi criada na Bahia, acontece desde 2013, e tem coordenação do Ministério Público Federal (MPF) e do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), contando com apoio do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF). As entidades participantes do programa são: Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária do Estado de Pernambuco (Adagro); ONG Animalia; Agência Nacional de Mineração (ANM); Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac); Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa); CemaFauna Caatinga/Univasf; Agência de Bacia Peixe Vivo; Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH); Fundação Nacional de Saúde (Funasa); Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe); Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra); Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan); Polícia Militar de Pernambuco (PMPE / 23º BPM e Companhia Independente de Polícia do Meio Ambiente – Cipoma); Polícia Rodoviária Federal (PRF); Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) e Secretaria Estadual de Saúde (SES).
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação/ MPPE