Prepare a mala e a sandália para dançar Xaxado, que Virgulino vem aí. Virgulino Ferreira da Silva, o famoso Lampião, volta a entrar em cena, no lugar onde nasceu, Serra Talhada, que fica no Sertão do Pajeú,em Pernambuco. Na cidade, o cangaceiro é muito reverenciado, mas não se livra da mesma polêmica, 84 anos após sua morte: herói, bandido ou justiceiro? Porém, mais do que tudo isso, Lampião hoje é história. Para assinalar o mês de nascimento e morte do sertanejo, a Fundação Cabras de Lampião realiza Tributo a Virgulino, entre os dias 27 e 31. Tudo movido a música, poesia, teatro, dança, fotografia. No período, o evento ocupa a Estação do Forró e o Museu do Cangaço, em Serra Talhada, a 418 quilômetros do Recife.
Realizado desde 1994, o Tributo a Lampião costuma atrair turistas de cidades e estados vizinhos. E o que mais chama a atenção é o espetáculo teatral O Massacre de Angico – A Morte de Lampião. A peça foi escrita por um especialista no assunto, Anildomá Willans de Souza . E é dirigida por Izaltino Caetano. No elenco, 80 atores e figurantes da região e também de outras localidades do estado, que recontam as histórias que transformaram o Rei do Cangaço em mito. A escolha das datas para o Tributo não poderia ser melhor. É que, o mês de férias é tambémo que Virgolino Ferreira da Silva nasceu (no dia 7 de julho de 1897) e morreu (em 28 de julho de 1938).
Ele foi morto pelas tropas volantes do governo e foi liquidado ao lado de sua companheira, Maria Bonita. O mais famoso casal de cangaceiros, que dividiu a história do sertão brasileiro em antes e depois da passagem deles pela terra, até hoje “são amados e odiados”, como lembra Anildomá. “Lampião é um marco na história do Nordeste. Para uns, herói; para outros, bandido. A verdade é que qualquer brasileiro tem uma opinião a respeito do famoso cangaceiro pernambucano. Sua história se confunde com a própria história do nordeste brasileiro”, afirma.
A encenação de O Massacre de Angico acontece às 20h, nos três dias do evento. Além das encenações, o evento reunirá grupos musicais, folclóricos, violeiros repentistas, cantores, poetas e pesquisadores do cangaço, para expressar a cultura de raiz. Haverá uma integração entre as mais diversas linguagens artísticas demonstrando a força da cultura popular. “Comemorar seus mitos, festejar datas, celebrar fatos, é comum aos povos que têm cultura e que valorizam a sua história”, comentou Cleonice Maria, uma das responsáveis pelo Tributo a Virgulino. “A realização do Tributo a Virgolino – A Celebração do Cangaço, integrando diversas linguagens culturais, na terra onde Lampião nasceu, é de majestosa autenticidade, de um valor simbólico imensurável, e que poucos eventos possuem”, explicou também Anildomá Willans de Souza, um dos organizadores da grande festa. Toda a programação é gratuita.
À frente da organização do evento, Anildomá é um estudioso de Lampião e do cangaço, um fenômeno social que abalou os sertões no final do século 19 e início do século 20, quando a omissão do estado era quase absoluta na caatinga, onde quem mandava eram os “coronéis” sem patente, mas com muito poder político. E Lampião, produto do meio, foi o cangaceiro mais famoso. No século passado, Anildomá provocou uma grande polêmica ao fazer um “plebiscito” na cidade, pela defesa de uma estátua para Lampião. Foi uma confusão muito grande, pois houve quem não defendesse homenagem para um “bandido”. Mas Lampiao venceu o pleito. A estátua, no entanto, jamais foi construída. O incentivo do Tributo é do Funcultura/ Fundarpe/Secretaria de Cultura/Governo de Pernambuco, com o apoio da Prefeitura de Serra Talhada/Fundação Cultural de Serra Talhada. A produção é da Fundação Cultural Cabras de Lampião e da Agência Cultural de Produção e Criação. A programação completa está disponível nos sites: www.museudocangaco.com.br e www.cultura.serratalhada.pe.gov.br e no Instagram do Museu do Cangaço @museudocangacost.
Leia também
Esgotado, livro “Estrelas de Couro: a estética do cangaço” é relançado
Lampião, bandido, herói ou história?
Lampião e o cangaço: fashion e social
No Sertão, na trilha de Lampião
Massacre de Angicos em palco ao ar livre
Duas costureiras e dois maridos: um cangaceiro e um gay
Filme gratuito na Academia Pernambucana de Letra
Livro conta lendas do Sertão
Memórias afetivas, praia do Sertão, rendas de bilro e primeiro amor
O Sertão no Coração de Pedra de Carol
O bode dançarino do Sertão
É sempre tempo de reisado no Sertão
Missa do Vaqueiro: do Sertão ao Cais
Os misteriosos tabaqueiros do Sertão
Caretas, caiporas e tabaqueiros
Cais do Sertão mostra arte de J.Borges Borges
Samico, o devorador de estrelas
Tributo a Altino Alagoano, que não era ele. Era ela: “O viulino do diabo”
Serviço
Evento: Tributo a Lampião
Quando: 27 a 31 de julho de 2022
Onde: no Museu do Cangaço e na Estação do Forró, sem Serra Talhada, Sertão de Pernambuco
Atração principal: encenação de “O Massacre de Angico – A morte de Lampião”, nos três dias de evento, na Estação do Forró, às 20h
Quanto: Acesso gratuito
Programação paralela: apresentações de grupos musicais, folclóricos, xaxado, violeiros e repentistas, gastronomia, palestras
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação