Tributo a Altino Alagoano, que não era ele. Era ela: “O Viulino do diabo”

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O nome era e ainda é conhecido: Altino Alagoano.  O seu cordel mais famoso – O “viulino” do diabo ou o valor da honestidade – consta em livros sobre a literatura popular ainda tão viva no Nordeste. E  até virou tema de trabalhos acadêmicos. Mas Altino Alagoano não era ele. Era ela. Chamava-se Maria das Neves Batista Pimentel, e consta ter sido a primeira autora de um folheto de cordel. Ou seja: uma pioneira. A publicação data de 1938, quando os livretos eram escritos por homens. Ela, então, tomou emprestado o nome do marido: Altino. E o Alagoano vem de uma tradição no meio, na qual o “sobrenome” dos cordelistas se refere ao lugar onde nasceram.

O Altino real também era poeta popular. O sogro dele, o pai de Maria das Neves, idem. Só que além de poeta, Francisco Chagas Batista tinha uma editora de cordel, uma tipografia e uma pequena livraria. O que facilitou a vida de Neves, que se escondia sob o nome de um homem para escoar seus versos. Neste domingo, Altino ou Maria das Neves, será lembrada com sua sua verdadeira identidade. Pena que a festa imperdível não será no Recife, mas sim em Petrolina, no Sertão do São Francisco. É que hoje acontece a segunda edição  do Caldinho com Cordel Tomou-Rimou. Será das 17h às 19h30, na Casa do Cordel Mulheres Cordelistas, que fica na Rua 16, nº 138, no bairro de Cosme e Damião.

 

Cosme e Damião fica na cidade sertaneja, localizada a 769 quilômetros da capital pernambucana. Petrolinaé conhecida como a Califórnia Brasileira, devido à produção de fruticultura irrigada. Mas tem, também, um movimento cultural forte, com destaque da presença feminina. Na ocasião, será lançada a obra coletiva 83 Anos de Publicações Femininas na Literatura de Cordel. A programação que será transmitida pelo Instagram @mulherescordelistas, inclui autógrafos, declamações e até sorteio de rifa colaborativa. O prêmio é uma xilogravura impressa emoldurada, feita pela artista  Kelmara Castro. Em se tratando de um encontro para exaltar as mulheres, o trabalho de Kelmara não poderia ter outro tema: Um dia Frida. Frida Kahlo (1917-1954), para os que não lembram, é a  grande artista mexicana que viveu à frente do seu tempo.

O livro 83 Anos de Publicações Femininas na Literatura de Cordel  foi organizado por Graciele Castro (foto superior). Tem capa de Regina Drozina, reúne o trabalho de 32 mulheres e celebra a publicação O Viulino do Diabo e o Valor da Honestidade, publicado pela primeira vez em 30 de outubro de 1938. A partir das 18h30m,  será transmitido um vídeo pelo canal no YouTube Casa Cordel do Cordel Mulheres Cordelistas, através do link encr.pw/Ct1dF. O vídeo tem participação de grandes nomes entre cordelistas, pesquisadoras e artistas com legado importante na nossa literatura popular.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação/  Casa do Cordel Mulheres Cordelistas

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