Tradicional Bolo de Noiva é agora Patrimônio Imaterial de Pernambuco. Confira a receita

Em alguns estados do Nordeste e até mesmo do Sul e Sudeste, o tradicional bolo de noiva nem de longe lembra o preparado em Pernambuco, nas festas para comemorar casamentos. Na Bahia, por exemplo, o bolo de noiva é confeitado com glacê branco, mas a massa lembra mesmo é a de pão de ló. Amigos pernambucanos que residem em Salvador estranham, pois já se habituaram a saborear a nossa iguaria que acaba de virar patrimônio imaterial de Pernambuco. E que agora, portanto, está com a receita inscrita no Livro de Registro dos Saberes do Patrimônio Cultural Imaterial do Estado de Pernambuco. Tal qual o bolo de rolo  e o Souza Leão, que já estão “tombados”. Bom, não é? O reconhecimento de bolo de noiva foi oficializado em uma resolução publicada no Diário Oficial do Estado  agora em dezembro. E é um marco histórico para a confeitaria pernambucana. Uma vitória para boleiras e boleiros que cultivam uma tradição com muito amor, arte e dedicação. E uma das responsáveis por essa conquista foi a chef Cristianne Barros (foto abaixo), que é professora do curso de Gastronomia da Faculdade Senac Pernambuco. E foi quem mais se empenhou para conseguir reconhecimento para a iguaria pernambucana.

Pesquisadora e estudiosa do tema, a chef já publicou vários artigos sobre a receita. Sua dissertação de mestrado foi sobre a iguaria, tendo como título “A Educação Cultural a partir do Bolo de Noiva Pernambucano”. Na ocasião, ela pesquisou não só na literatura especializada, como entrevistou inúmeras boleiras e boleiros por todas as microrregiões de Pernambuco, valorizando as falas de cada um, após buscar saberes e fazeres das pessoas por trás da tradicional receita.”Na convivência com culturas de outros Estados e países, além de um profundo estudo sobre os costumes do povo pernambucano no consumo desta iguaria, alimentei este sonho”, afirma a professora, referindo-se ao desejo antigo de registrar o bolo de noiva como Patrimônio Cultural Imaterial de Pernambuco. “Eu não compreendia como um bolo tão enraizado em nossa cultura, nas nossas tradições, presente em todos os eventos sociais, não tinha visibilidade nas doçarias, confeitarias e padarias”, diz ela. Ao longo dos anos, como professora de Gastronomia na Faculdade Senac, Cristianne Barros sempre solicitou apoio aos alunos caso eles tivessem conhecimento de algum deputado que abraçasse o seu projeto para registro do bolo de noiva. Até que no ano de 2021 isso se concretizou.

Cristianne é a maior responsável por transformar o nosso bolo de noiva em patrimônio imaterial de Pernambuco

O deputado Fabrizio Ferraz  se sensibilizou com o processo. “Assim, desenvolvi um projeto e o deputado deu entrada no gabinete para que o então governador autorizasse o início do projeto de patrimonialização”, explica. E foi por unanimidade que o Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural (CEPPC) aprovou, no último dia 14 de dezembro, o registro das práticas socioculturais associadas ao bolo de noiva, marcando o ponto culminante de um trabalho que se estendeu por mais de dois anos.

De acordo com os estudiosos, o bolo de noiva pernambucano é inspirado no tradicional bolo de frutas, servido nos casamentos da realeza britânica. Agora, a receita ganha inscrição no Livro de Registro dos Saberes do Patrimônio Cultural Imaterial do Estado de Pernambuco. A confeiteira decidiu compartilhar a receita com vocês. Até porque a iguaria embora seja obrigatória nas festas de casamento,  é também consumida em outras ocasiões, como nas comemorações de fim de ano. Onde tem festa em Pernambuco, o bolo de noiva é iguaria certa. Consumido até mesmo em festas de aniversário. É de dar água na boca….

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Serviço
Receita do tradicional bolo de noiva pernambucano (por Cristianne Barros):
Ingredientes para a massa
250g manteiga sem sal
250g açúcar mascavo
250g farinha de trigo (sem fermento – tipo 1)
3 ovos
60g Achocolatado ou cacau em pó
10g de fermento químico
500ml vinho do Porto ou Moscatel (para macerar as frutas)
250g de frutas cristalizadas
250g de uvas passas
250g de ameixas sem caroço
2 g de noz moscada (opcional)
1 pitada de sal
Modo de preparo
Deixe as frutas macerando no vinho por no mínimo 24 horas, no mínimo. Quanto mais tempo, melhor. Podem ficar meses apurando e o sabor só melhora. Em um bowl, deixe as ameixas de molho com bastante água na geladeira, um dia antes do preparo do bolo. Pré-aqueça o forno a 160°C, e insira uma caldeira de água no forno.
Realize o mise en place dos ingredientes, pesando-os. Reserve. Retire as ameixas da geladeira e, com o auxílio de uma panela, leve-as para cozinhar com 100g de açúcar (retirados da receita). Deixe cozinhar as ameixas até que amoleçam. Retire da cocção e ao esfriar machuque-as com auxilio de um garfo e reserve.
Escorra o vinho das frutas maceradas e reserve. Processe as frutas cristalizadas. Leve a batedeira, a manteiga com o açúcar por em média 6 minutos. Insira os ovos um a um batendo bem, ou se preferir coloque as gemas e insira as claras em neve ao final da preparação da massa. Junte os secos, reservando o fermento.
Retire da batedeira e aos poucos envolva levemente os secos alternando com o vinho macerado das frutas. Insira as ameixas, as frutas cristalizadas e as passas e após, adicione o fermento e a noz (opcional). Unte ou utilize o desmoldante em uma forma de 15 cm x 10 cm de altura, e forre com papel manteiga,  ultrapassando dois centímetros de altura da forma. Leve a cocção por em média de 1h30.
Ingredientes para o glacê mármore tradicional
70g de claras pasteurizadas
1,5 a 2,0 kg de glaçúcar peneirado
100ml de sumo de limão (dois a três limões)
Modo de preparo
Bata as claras até obter textura de neve. Aos poucos vá adicionando o açúcar até obter uma pasta cremosa, adicione o sumo do limão e um pouco mais de açúcar, quando estiver com textura cremosa, retire da batedeira e reserve um pouco para selar o bolo. Reserve.  Aos poucos vá inserindo o glaçúcar até soltar das mãos. Mantenha coberto.

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação

 

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