Tartarugas: entre a ameaça e a salvação

Nessa semana, em que se comemora o Dia Mundial da Limpeza das Praias (21), que tal uma boa notícia? O Projeto Tamar acaba de informar que na próxima temporada de desova, alcançará a marca de 40 milhões de tartarugas marinhas protegidas e devolvidas ao oceano. Todo esse esforço, no entanto, ficará muito aquém do benefício esperado se a população continuar jogando plásticos no mar. Como eles parecem bolhas transparentes quando estão boiando na água, as tartarugas confundem esses materiais nocivos com águas vivas ou caravelas, que lhes servem de alimentos. Resultado: morrem sufocadas.

Para se ter um exemplo da matança provocada pelo homem, basta citar um exemplo bem próximo: o município do Cabo de Santo Agostinho (PE), onde em apenas 40 dias desse ano, foram resgatados nada menos de 32 animais mortos. Uma tristeza, não é não? Portanto, faça o favor: nada de canudos plásticos (que engancham em suas narinas) nem sacos ou sacolas que matam as bichinhas, tão importantes para o equilíbrio marinho. A situação estaria ainda mais dramática sem o Tamar, que é internacionalmente reconhecido como uma das mais bem sucedidas experiências de conservação marinha do mundo. O objetivo é a proteção e conservação de cinco espécies de tartarugas, todas ameaçadas de extinção.

Projeto Tamar recebe visitantes para aulas de educação ambiental sobre tartarugas, na praia do Forte, na Bahia

 

O Tamar conta com apoio de empresas como a Petrobrás, com a qual tem parceria de 39 anos. O Projeto está presente em 26 localidades, distribuídas em áreas prioritárias de desova, alimentação, migração e descanso. Estudos científicos mostram que as populações de tartarugas marinhas no Brasil estão se recuperando. Graças a Deeeeeeeeuuuuus (e ao Tamar, claro). “Podemos dizer que a tartaruga de número 40 milhões já existe e navega em uma viagem transcontinental rumo às praias brasileiras. Mas é importante lembrar que a cada mil tartarugas que nascem, apenas uma ou duas sobrevivem. Ainda há muito a fazer para livrar esses animais da ameaça de extinção”, diz o fundador do Projeto Tamar, Guy Marcovaldi, que tive o prazer de conhecer  pessoalmente há alguns anos.

Foi quando, como repórter, participei de uma expedição científica ao Atol das Rocas. Já tinha conhecimento de um outro trabalho de Marcovaldi, por conta do mapeamento que ele havia feito do peixe-boi marinho na costa brasileira  (justamente quando estudava as tartarugas). O peixe-boi marinho, embora abundante no passado, não constava nos registros de ocorrência da espécie no País. Ou seja, além das tartarugas, Guy  contribuiu, também, para que os sirênios não fossem extintos. Com certeza, já teriam desaparecidos das águas do Nordeste, se não houvesse empenho de ambientalistas em criar meios de proteger o mais ameaçado mamífero marinho do país.

Voltando às tartarugas. A cada temporada reprodutiva o número de filhotes que nascem nas praias monitoradas pelo Tamar passa de 2 milhões, além de muitas tartarugas jovens e adultas que são protegidas e salvas da captura incidental na pesca. Acidentes com redes e anzóis, atropelamentos, trânsito de veículos nas praias e plástico são fatores de risco para as tartarugas. E os plásticos, claro. O Projeto Tamar contribuiu, em conjunto com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICM-Bio), para o início da recuperação – comprovada cientificamente – das populações de quatro espécies de tartarugas marinhas: tartaruga-oliva, tartaruga-de-pente, tartaruga-cabeçuda e tartaruga-de-couro, e pela estabilidade da tartaruga-verde em Fernando de Noronha (PE) e Trindade (ES). A ação do Tamar se estende por cerca de 1.100 km de praias na Bahia, Sergipe, Pernambuco, do Rio Grande do Norte, Ceará, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina.  O Tamar é membro da Rede de Projetos de Biodiversidade Marinha (Rede Biomar), grupo composto também pelos Projetos Albatroz, Baleia Jubarte, Coral Vivo e Golfinho Rotador, todos patrocinados por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Divulgação

 

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