Membro da chamada Geração 65 – importante movimento literário de Pernambuco, no século passado – o poeta Marcus Accioly (1943-2017) está de volta às prateleiras das livrarias. Dessa vez, através de sua tetralogia poética, formada pelos livros Sísifo (1976), Íxion (1978), Narciso (1984) e Érato (1990). As obras foram editadas pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) e serão lançadas às 19h da quinta-feira (25/5), no Museu do Estado de Pernambuco (MEP), que fica no bairro das Graças. O lançamento assinala os 80 anos do nascimento do poeta, e contará com um bate-papo sobre o seu legado literáro. Presentes Glória Dalla Nora (sua última companheira), Fábio Lucas (Presidente do Conselho Editorial da Cepe) e Robson Teles (Doutor em Literatura da Universidade Católica de Pernambuco).
Os temas diferem entre os livros, porém têm em comum uma revisita ao mundo grego e sua mitologia, a julgar pelos títulos. Sísifo foi considerado por Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) “fonte inesgotável de leitura e surpresa e admiração”, obra de “causar impacto”, por ser “tão densa”. Com 430 páginas, Sísifo é um poema épico em dez cantos e quase 12 mil versos. Ele se inspira no mito que foi condenado a empurrar uma pedra montanha acima, por tentar enganar os deuses. A hercúlea tarefa nunca tinha fim. Pois quando conseguia elevar a rocha, ela rolava montanha abaixo e tudo recomeçava. A sina de Sísifo é explorada à exaustão: “piso da terra pra o espaço pleno/ meus pés vacilam entre dois abismos/ porém firmando as mãos no céu ordeno:/ é preciso subir quando é preciso/ sei que a montanha é alta e eu sou pequeno/ ó descida ó estágio ó alpinismo/ rolarei para sempre (novo Sísifo) / a pedra do poema até os píncaros”.
O segundo volume, conforme o autor, é “mais que um poema dramático e menos que uma tragédia grega, (…) uma tragédia à grega”. Com 295 páginas a menos do que Sísifo, Íxion sintetiza a batalha entre o bem e o mal. O vilão da lenda mata para arrebatar a mulher alheia. Arrepende-se da primeira investida, é perdoado pelos deuses, mas repete o erro ao seduzir Hera, a mulher de Zeus. O poema relata o sofrimento de Íxion na prisão e após a morte, na roda de fogo do inferno. Para o autor, “sua fábula de ódio” se inicia com o amor. “A estória odiosa de Íxion é como se um dia de sonho penetrasse por uma noite de insônia”. O livro é escrito como se fosse para teatro com dez personagens que dialogam entre si, cenário e descrição de cenas. “O ambiente é grego.à frente do palco em treva, o corifeu, iluminado por um único foco de luz, dirá o prólogo, antecipando a ação”, recomenda.
Já de Narciso, o terceiro volume (304 páginas), Accioly diz que dos personagens malditos e mitológicos sobre os quais escreveu, “este é o mais marginal”. Isso porque convive com a absoluta solidão, falando consigo próprio. Em Narciso, um ser que basta-se a si mesmo, o poeta faz uma viagem pela mitologia, pela filosofia, pela literatura clássica e, também, pelo mar e pela história do Recife e Olinda: ” … em muralha vazada (Pernambuco) / à memória do tempo em seu fluxo / semelhante às marés (Mauritsstad recebe este poema que é de Olinda) e há tanta coisa que cantar ainda / que só Deus sabe e (além de Deus) o mar”. Por fim, Érato (128 páginas) consiste em 69 poemas eróticos e uma ode ao vinho. “Primeiro Sísifo / segundo Íxion/depois Narciso / e agora Érato / (ó musa) 0 abismo / é um sexo aberto”. No último volume, o poeta mistura a lírica, o erotismo, a mitologia, os sonhos:
“A noite se penteia com dois pentes /(o sono e o sonho) e eu penso no teu sexo / tentando aproximá-lo com mil lentes / o apalpá-lo às vezes feito um cego / (que seios nus acendem luas doidas/ de cães obstinados por mordê-las) / decerto eu comeria as nuvens todas / e beberia o álcool das estrelas / nas máquinas do espaço (tanjo os dedos / na cabeleira cósmica) sonâmbulo / te revelo na carne meus segredos / e abaixo da cintura ou atrás (nas nádegas) eu gozo do teu próprio escândalo /(descendo as mãos até a raiz das águas) . Marcus Accioly nasceu em Aliança, recebeu doze prêmios literários e ocupou a cadeira 19 da Academia Pernambucana de Letras. Publicou 14 livros e deixou 30 inéditos. A publicação da tetralogia é iniciativa que partiu de Glória Dalla Nora e conta com apoio do Funcultura.
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Serviço
Lançamento dos livros Sísifo, Íxion, Narciso e Érato
Quando: Quinta, 25.05.2023
Horário: 19h
Onde: Museu do Estado de Pernambuco
Endereço: Av. Rui Barbosa, 960, Graças
Entrada franca
Preços dos livros: Impressos, de R$35 (Íxion e Érato) a R$ 60 (Narciso e Sísifo), sendo que o combo sai R$ 150, com direito a poster com as capas; já no formato e-book, os preços vão de R$ 14 (para os dois primeiros) a R$ 24 (os dois segundos).
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Arquivo de família e Letícia Lins / Acervo #OxeRecife
