“Sempre aos sábados”, com Flávia Suassuna: “O Recife é uma cidade partida”

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Que bom… A Academia Pernambucana de Letras sempre desencadeando ações para aproximar o público da Literatura, dos livros, dos autores. Amanhã (31/08) há edição do Projeto “Sempre aos Sábados“, com tarde liderada por Flávia Suassuna, que tem nove livros publicados. E que ostenta reconhecido trabalho na formação de leitores em salas de aula, clubes de livros e oficinas de poesia.

A tarde será dedicada ao seu poema “Recife, os relâmpagos da faca”, que virou livro. E contará com participação do Grupo Musical Clube da Bossa. O repertório de MPB será intercalado com poemas recitados. O encontro ocorre entre 14h e 17h, e o acesso é livre. Pede-se apenas que se leve um pratinho de salgados ou doces, para que todo mundo confraternize ao final da apresentação. O #OxeRecife fez quatro perguntas a Flávia, que é professora e queridíssima entre seus alunos. E que tem uma legião de fãs no Recife. Eu, inclusive. Flávia,  aliás, é unanimidade. Elogios à parte, ela diz que o poema “traduz Joâo Cabral para o século 21”

Para Flávia Suassuna, o Recife devia aprender com o mangue, no qual duas águas diferentes vivem em harmonia

No poema, Flávia Suassuna fala, na verdade, das três cidades que compõem o Recife: “Há sempre uma distância/ e tantas cidades no Recife…/ uma pensada antes; outra que daí nasceu depois”. Ela ressalta que “o barulho da cidade do Recife/ não é do ronco/ dos motores, / mas da desavença dessas cidades/ no deserto dessa distância”, dessa “primeira” cidade.

A “segunda” só se moverá “para cima”, enquanto a “terceira” é a que ninguém quer ver: “Há entre tantas,/ uma terceira cidade/ que ninguém quer ver./”. E completa: “Está guardada/ no estuário/ dos rios,/nos campos salgados/das marés:/são aldeias/ de palafitas/ que guardam lama e pobreza.

Ela também fala na violência urbana, que deixa a cidade sitiada:

Todas as ruas/ são varridas/ pelo medo. E as pessoas/ só subsistem,/ prisioneiras/ de casas mais altas,/ ainda mais estreitas;/ de casas mais baixas,/ ainda mais afogadas…/ E, mesmo assim,/ morrem todo dia/ de riqueza/ de pobreza.

Veja o que Flávia diz sobre “Recife, os relâmpagos da faca“, nessa pequena entrevista ao #OxeRecife. 

#OxeRecife – Por que o título “Recife, os relâmpagos da faca?
Flávia Suassuna  O título se deve a dois motivos. É uma homenagem a João Cabral de Melo Neto, que tem mania de faca. E também uma metáfora sobre o tema mais importante do livro, que é a cidade partida. É que uma parte do Recife ficou para os ricos e outra para os pobres. A pior parte, infelizmente. O livro é sobre isso, essa ferida antiga, na cidade do Recife.

#OxeRecife – Nossa cidade, pelo que observo, é talvez a capital brasileira mais cantada em versos, ou estou enganada?
Flávia Suassuna- 
Embora seja ferida pela injustiça, o Recife é uma cidade muito bonita. Por isso foi muito cantada por Manuel Bandeira, Carlos Pena Filho, João Cabral de Melo Neto… O prefaciador do meu livro, o amigo e poeta Paulo Gustavo de Oliveira, no entanto, quando foi fazer o percurso do meu longo poema, falou de Josué de Castro, Chico Science e Manguebeat. É que falo que está no mangue a solução. O que é o mangue? Duas águas diferentes que aprenderam a viver juntas, que aprenderam a fazer vida na convivência dissonante das águas doce e salgada. Em vez de partir a cidade no meio, deveríamos escutar o mangue para saber o segredo dele.

#OxeRecife – É mais fácil homenagear o Recife na poética, na métrica, nas metáforas ou na sua vida anfíbia?
Flávia Suassuna- A cidade do Recife só pode ser falada com as figuras da linguagem antítese e hipérbole, pois é cheia de enormes e inaceitáveis contradições. E tudo nela é demais. Portanto, talvez seja mais fácil falar dela na poesia e nas letras de música, gêneros textuais que permitem o uso de linguagem figurada.

#OxeRecife – Você se inspirou em João Cabral de Melo para escrever o poema “Recife,  os relâmpagos da faca”?
Flávia Suassuna –
Uma de minhas inspirações é João Cabral sim. Mas minha poesia não é disruptiva como a dele. João Cabral tem um estilo que quebra a sintaxe, numa tendência típica do anticonvencionalismo modernista. A minha, ao contrário, tem uma ritmação mais próxima da prosa, do ponto de vista sintático, embora tenha, do ponto de vista léxico, uma linguagem bem conotativa. Guardadas as proporções, digamos que traduzi João Cabral para o século 21.

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Serviço
Sempre aos Sábados
Atração: Flávia Suassuna e grupo musical “Clube da Bossa”, com repertório de MPB e versos de “Recife: os relâmpagos da faca”
Onde: Academia Pernambucana de Letras
Endereço: Av. Rui Barbosa, 1596 , Graças
Horário: das 14h às 17h
Acesso livre

Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

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6 comments

  1. Adorei o texto Letícia e a entrevista com Flávia Suassuna. Excelente essa iniciativa da APL com a professora e poeta. Muito interessante sua visão sobre o rio, o mangue e sua inspiração em João Cabral e principalmente sobre as desigualdades desse belo Recife.

  2. Estou imensamente feliz em tomar conhecimento da lista de atividades culturais mantidas pela Academia. Principalmente aos sábados com Flávia Suassuna.

  3. Gostei demasiado da entrevista com a professora Flávia Suassuna. Suas palavras nos aproxima do coração do Recife: seus rios. Perfeito o diálogo que ela estabelece com o autor de Cão Sem Plumas para explicar a cidade. E as indagações da jornalista foram bem pertinentes.

  4. Tenho um amigo radicado no Recife, cuja capacidade criativa, em letras, deveria ser mostrada ao mundo. Seu nome é EDSON MENDES de Araújo Lima, residente no Poço da Panela. Fica a sugestão.

  5. Nasci em Recife, miro em Brasilia desde 1985 mas sempre vou visitar minha terra natal. Amei esse tema e as colocações bem a cara do Recife mesmo.
    Amo essa caracteristica pernambucana que enfatiza a arte.

  6. Nasci em Recife, moro em Brasilia desde 1985 mas sempre vou visitar minha terra natal. Amei esse tema e as colocações bem a cara do Recife mesmo.
    Amo essa caracteristica pernambucana que enfatiza a arte.

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