Rede de Comunicadoras e Comunicadores Populares para resguardar direitos ambientais

Olhem aí que coisa boa. Voz para quem não tem, ou não costumava ter. A partir dessa quarta-feira (19/04), a Região Metropolitana do Recife conta com a Entre nós –  Rede de Comunicadoras e Comunicadores Populares, que funcionará inicialmente no Litoral Sul de Pernambuco, com o propósito de denunciar violações dos direitos ambientais. A organização atuará em redes sociais e também em meios analógicos, onde a Internet chega com dificuldade. O lançamento ocorre às 15h, na Sala 1 da Área de Ensino da Fiocruz-PE, no Recife. O grupo surgiu como uma necessidade de proteger e monitorar o território utilizado por profissionais da pesca, que foi muito impactado em 2019, quando a Costa do Nordeste sofreu o maior acidente ambiental de sua história, devido a um misterioso derramamento de óleo, que espalhou-se por 130 municípios de onze estados brasileiros, nove dos quais no Nordeste.

Em Pernambuco, foram recolhidas mais de 1.560 toneladas do óleo em rios e praias pernambucanas. Destas, nada menos de 47 foram atingidas, em municípios como Tamandaré, São José da Coroa Grande, Barreiros, Cabo de Santo Agostinho, só para ficar no Litoral Sul. . “Depois do acidente, uma das coisas que percebemos foi que há um nó no campo da comunicação, e que tanto a Imprensa comercial quanto os veículos do estado pouco ouviram a comunidade mais prejudicada, a pesqueira”, afirma Rosely Arantes, Pesquisadora coordenadora do Curso Livre Comunicação Comunitária Para Territórios Saudáveis e Sustentáveis, da Fiocruz. Ela lembra que passados quase quatro anos do acidente, as populações do Litoral ainda sofrem as consequências do desastre. “As manchas continuam surgindo e impactam a médio e longo prazo”, explica. “Havendo um novo desastre, a população estará orientada quanto às formas de reagir, pois no último grande derramamento, adultos, idosos e até crianças foram limpar as praias por amor ao território”, diz . “O problema é que essas pessoas se submeteram a riscos de saúde “por falta de informação no momento certo”.

Pouco ouvidas, comunidades pesqueiras integram rede de comunicadoras e comunicadores populares.

Da Rede, constam instituições – como o Fórum Suape, Centro de Mulheres do Cabo, organizações pesqueiras, mas também profissionais do setor e cidadãos comuns. A Entre Nós  é um dos resultados do curso Livre de Comunicação Comunitária para Territórios Saudáveis e Sustentáveis, uma iniciativa da Fiocruz Pernambuco, em parceria com o Fórum de Suape.  A iniciativa surgiu a partir de uma dissertação de mestrado que mostrou as fragilidades do litoral prejudicado. Já rendeu uma reunião internacional, um documentário e, agora, a Entre Nós. Desde setembro de 2022, lideranças comunitárias do Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, Litoral sul de Pernambuco, municípios mais impactados aquele derrame do petróleo participam desse curso para fortalecimento das ações de resistência e qualificação das estratégias contra as violações de direitos ambientais.

Como resultado dessa formação, o grupo já realizou atividades de intervenção e possui um perfil no instagram para divulgação de ações locais e informações de utilidade pública. A programação de hoje inclui a Roda de Diálogo Uma outra comunicação é urgente e possível: estratégias de proteção às vidas nos territórios pesqueiros, com o comunicador popular da Ação Comunitária Caranguejo Uçá, Rodrigo Lima, e a pesquisadora da Fiocruz PE, Idê Gurgel. A Roda busca aprofundar a compreensão da comunicação como estratégia de resistência, de visibilidade e instrumento de denúncia das iniquidades contra os povos das águas, a vida e a reprodução da vida no território pesqueiro. O Curso Livre Comunicação Comunitária para Territórios Saudáveis e Sustentáveis se inspirou na educação de Paulo Freire e na Pedagogia da Alternância.

Várias reuniões deram origem à rede em defesa dos direitos ambientais das comunidades do Litoral

Ao longo dos sete meses, foram realizadas oficinas de produção de textos, de estratégias de comunicação, planejamento estratégico, fotografia e produção de audiovisual por celular, designer gráfico e de produção de conteúdos para as redes sociais. Elas buscaram potencializar as estratégias de comunicação já utilizadas por parte das lideranças, como whatsApp e Instagram, aprimorando as práticas de produção de conteúdos. Como estratégia de intervenção no território, o grupo realizou a Roda de Conversa Impactos Ambientais e Reconhecimento de Identidade, no último dia 29 de março, em Gaibu (Cabo de Santo Agostinho) com os moradores para discutir o impacto dos megaempreendimentos na região. O grupo também desenvolveu os mecanismos de mobilização e divulgação da ação. Desde o surgimento das manchas de petróleo no litoral nordestino a equipe do Laboratório de Saúde Ambiente e Trabalho (LASAT) da Fiocruz PE tem se debruçado sobre essa temática e através da pesquisa “Vulnerabilizações socioambientais e em saúde das populações expostas ao petróleo bruto e a reparação comunitária no litoral Pernambucano”, financiada pelo Programa Institucional Territórios Sustentáveis e Saudáveis (PITSS). A ação deriva de uma dissertação de mestrado sobre as consequências daquele desastre ambiental.

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Serviço:
Lançamento da Rede de Comunicadoras e Comunicadores Populares
Data: 19/04/2023 (quarta-feira)
Horário: 14h às 16h
Local: Sala 1  da Fiocruz Pernambuco

PROGRAMAÇÃO:
14h30 – Frutos da caminhada – Socialização das produções desenvolvidas durante a formação
15h – Roda de Diálogo Uma outra comunicação é urgente e possível: estratégias de proteção às vidas nos territórios pesqueiros
16 h Mística de encerramento

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Fiocruz, Rafael Negrão e Acervo #OxeRecife

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