Certa vez conversando com uma amiga, na presença do seu neto – então com seis anos – falávamos das brincadeiras de rua dos tempos de nossa infância, quando lembramos o lúdico aproveitamento das quengas de coco. Nós furávamos a quenga, introduzíamos um cordão comprido e saíamos às calçadas, toc… toc… toc, andando sobre elas, segurando os dois cordões com as mãos. Era muito divertido. E, para as nossas fantasias infantis, aquilo tinha o significado de andar sobre perna de pau. Foi quando o netinho dela que ouvia a conversa, mostrou não saber o significado da palavra quenga. “Quenga, o que é isso?”, indagou. Expliquei, então, que a quenga era o coco seco partido ao meio. “Cada banda é uma quenga”. Ele perguntou o que era coco seco.
Descobri, depois, que meus netos também quando pequenos, jamais tinham visto um coco seco, aquele que colhíamos nos próprios quintais e que, ralado e extraído o leite, era usado no cuscuz, na canjica, no peixe de coco, no recheio da tapioca, no bredo da Semana Santa. Os frutos verdes secavam com o tempo, as “carnes” engrossavam e iam para o “rapa-coco”, tão comuns nas cozinhas do passado. Hoje, tem quem compre o coco ralado industrializado que, sinceramente, mais parece uma farofa seca, pois o produto é desidratado para não apodrecer. A farinha de mandioca, aliás, costumávamos misturar com açúcar, depois de raspar com uma colher o que restava da polpa do coco já ralado. E comíamos nas nossas brincadeiras, principalmente no interior, quando passávamos as férias em Vitória de Santo Antão, terra dos ancestrais da nossa família. Achávamos delicioso: o coco misturado com farinha e açúcar, mistura que talvez hoje considerasse indigesta.
O coqueiro, abundante na paisagem do século passado – antes do avanço da especulação imobiliária – era usado também para paredes e telhado dos chamados “mocambos”, nome que definia a habitação típica do nosso Litoral, principalmente a dos pescadores. O nome mocambo também está caindo em desuso, e as novas gerações o desconhecem. Só não foi totalmente esquecido, devido ao livro e Gilberto Freyre, Sobrados e Mucambos. A quenga da foto superior havia restado na produção de tapioca e beiju, em um engenho no município de Moreno, onde estive recentemente com um grupo de caminhantes.
Ao vermos as quengas, depois de passar no rapa-coco, foram muitas as lembranças de nossa infância. Todos recordavam do uso delas em nossas brincadeiras infantis. Ao contrário do que muitos pensam, o coqueiro não é nativo do Brasil, embora seja hoje considerado uma vegetação típica do nosso Litoral. Uma vez, vi Gilberto Freyre dizendo em uma palestra que eles poderiam ter atravessando o oceano via correntes marinhas e chegado à nossa costa. Mas há quem diga, também, que o fruto teria sido introduzido em Pernambuco por Duarte Coelho, no século 16. A planta é originária do Sudeste da Ásia, sendo hoje cultivada em mais de 80 países tropicais. No Brasil, sua água é muitíssimo apreciada.
Eu mesma prefiro a água do coco verde a qualquer refrigerante. E, pelo que observo nas ruas, o consumo é grande, como pode-se ver nesta lixeira (na foto acima), na Avenida Dezessete de Agosto, no bairro de Casa Forte. Ali, o coco verde é comercializado aos borbotões. Pois refresca com dano zero à nossa saúde. Os especialistas relatam 360 modalidades de aproveitamento, dos quais 200 ligados à alimentação. Um coqueiro pode atingir 30 metros de altura, e suas folhas possuem de quatro a seis metros de comprimento. A planta teria, também, significado esotérico por representar alta espiritualidade, ascensão, vitória, regeneração, imortalidade e ser uma planta símbolo da vida. Quando eu era criança, que viajava a outras localidade, costumava indagar aos meus pais porque as novas paisagens não tinham coqueiros. É que sentia falta deles.
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife